Quando vestiu a faixa —encomendada por ele mesmo— ao assumir o cargo de governador, o tom triunfante do ex-juiz federal Wilson José Witzel não sugeria o fim melancólico e precoce de seu governo: permaneceu exatos 580 dias no Palácio Guanabara, o menor período para um governante eleito desde a fusão entre os estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, em 1975.
O Tribunal Especial Misto aprovou neste 30 de abril o impeachment de Witzel do governo do Rio por crime de responsabilidade. A cassação de seu mandato foi por unanimidade (10 x 0). Ele ficará por cinco anos proibido de exercer funções públicas.
Witzel acumula outra marca nada lisonjeira: a de ser o primeiro governador de um estado brasileiro a sofrer um impeachment desde a redemocratização.
O ostracismo experimentado por ele nos últimos meses —desde que viu em setembro seu processo de impeachment ser aberto por 69 votos a 0 na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro)— conclui de maneira irônica, pelo menos até aqui, sua fulminante trajetória política.
Sua eleição foi considerada um dos maiores exemplos da onda conservadora que varreu as urnas na última eleição, na esteira da vitória do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Desconhecido do público, ele marcava 1% das intenções de voto nas primeiras pesquisas eleitorais, em agosto de 2018.
Políticos ouvidos pelo UOL descrevem os ingredientes da tempestade que tragou o governo do ex-juiz: personalidade vaidosa e, para alguns, delirante; o rompimento precoce com Bolsonaro e o péssimo relacionamento que manteve com deputados estaduais.
As denúncias de corrupção nos contratos emergenciais firmados durante a pandemia foram a pá de cal nas pretensões políticas de Witzel.
Na classe política fluminense, a avaliação é de que Witzel é um raio que não cairá duas vezes no mesmo lugar. Se em 2018 a população buscou um outsider, em 2022, o trauma da queda de um neófito fará com que o próximo governador seja um político tradicional.