Na sala lotada, uma mulher atrás de uma mesa cita um nome e ouve a resposta: “Presente!”. Menciona outro nome e ouve resposta idêntica. Os citados estão no auditório na Asa Sul, em Brasília, na manhã daquela segunda-feira 3 de dezembro de 2018. O local está lotado de familiares de pessoas desaparecidas ou mortas durante a ditadura militar (1964-1985).
A cada menção ao nome de um parente, o grupo se une e responde um “presente” de maneira religiosa, como num ritual fúnebre. A adolescente Angelina Torigoe Oliveira, 14, não viveu essa realidade no Brasil. Mesmo assim, não contém as lágrimas e sai da sala. Procura um banheiro para limpar o rosto.
“Meu tio-avô morreu, eu não conheci ele, era o Hirohaki Torigoe”, explicou ela à reportagem do UOL depois de se recompor e enxugar as lágrimas, quando participava junto com a mãe do 1º Encontro Nacional de Familiares de Desaparecidos. A família é quem conta a história do estudante de medicina que sumiu em 1972. Não é só: outra tia-avó foi torturada. O pai de Angelina fugiu do país e ficou exilado em Portugal e no México por três anos. A mãe, a produtora rural Naomi Torigoe, 51, tem evitado contar algumas coisas à filha.
Cinquenta anos após o AI-5 (Ato Institucional número 5), o tema da ditadura continua presente.
“Quando voltou esse tempo agora que está difícil na política, ela voltou a falar sobre isso que ele desapareceu”, contou Angelina. “Meu tio-avô não quis fugir, ficou aqui pra lutar e morreu. Várias partes da minha família sofreram bastante. A gente não conversa muito porque é um assunto que todo mundo sofreu e é muito pesado conversar. Mas, quando a gente conversa, todo mundo se emociona.”