Quando olhei de novo para o policial, a garrafa veio no meu rosto, uma garrafa de vidro de uísque. Coloquei a mão na cabeça e fiquei muito assustada quando vi aquela quantidade de sangue. Jorrava sangue da minha cabeça. (...) Eu levei 50 pontos no rosto. Meu problema maior foi no rosto, por causa dos cortes da garrafa. Eu tenho que ficar em casa, não posso sair, não posso receber nenhuma visita para não correr o risco de pegar algum tipo de infecção.
O relato acima é de I.S., 17, que na madrugada de sábado para domingo mudou seus planos para ir ao baile da DZ7 em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. As viaturas da Polícia Militar são corriqueiras no 'fluxo', e o mantra de alguns frequentadores é que "a bomba chega antes da polícia". Naquela noite gelada, não foi diferente.
PMs arremessaram bombas, encurralaram os que estavam no baile e, em meio a episódios ainda sem esclarecimento, a ação terminou com nove mortos e diversos relatos de agressão.
A corporação, a secretaria da Segurança Pública e o governo do Estado de São Paulo endossam a versão dos policiais militares que atuaram naquela madrugada: dois homens circulando pela avenida Hebe Camargo em uma moto teriam atirado nos policiais, que não revidaram, chamaram reforços e decidiram adentrar a multidão para persegui-los.
Os agentes que trabalharam naquela noite citam "vários disparos" no boletim de ocorrência registrado no 89º DP. A jovem ouvida pelo UOL e outros frequentadores, no entanto, não relataram tiros e nem se lembram de qualquer perseguição dentro do baile.
Dias depois, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) de São Paulo afirmou que os policiais alteraram a cena do crime ao retirarem os corpos dos jovens mortos e levarem para hospitais próximos. As vítimas tinham entre 14 e 23 anos. Sete delas morreram no local. "O que houve ali foi um massacre", afirmou o advogado Dimitri Sales, presidente do Condepe, durante entrevista coletiva.
Abaixo, o depoimento de I.S. ao UOL.