Mortes em Paraisópolis: vídeo mostra correria e PM jogando bombas
Vídeos de câmeras de segurança mostram a chegada de policiais militares, na madrugada de domingo (1º), em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, para dispersar os frequentadores do baile da DZ7.
Nas imagens, é possível observar seis policiais militares em motocicletas, membros da Força Tática da Rocam, chegando a uma das ruas da favela. As imagens registradas nos vídeos anotam 3h45 — horário em que, segundo frequentadores do baile, houve correria após a chegada dos soldados.
As imagens não foram periciadas, nem tiveram a autenticidade confirmada pelas investigações. Mas os horários, as ruas envolvidas, e os relatos coincidem com os depoimentos de frequentadores do baile e contradizem a versão iniciada dada pelos policiais.
Na sequência, outra viatura da Força Tática passa em velocidade e há mais correria. Uma terceira viatura, de patrulhamento comum, para no meio da rua e um policial militar atira duas bombas de efeito moral. Depois, segue o patrulhamento e a rua fica vazia.
Nem perseguição, nem tiros contra PMs
Na primeira versão apresentada pelos PMs, os seis policiais afirmaram que entraram na favela durante uma perseguição a um criminoso que atirava contra eles na garupa de uma outra moto.
Pelas imagens, a entrada dos policiais no local ocorre sem tiroteio. No entanto, os policiais afirmaram em depoimento que fizeram a perseguição, saíram da favela e retornaram novamente com apoio.
A reportagem procurou a PM-SP. Suas considerações serão acrescentadas a este texto, assim que enviadas.
PMs afastados do serviço operacional
Desde ontem, seis policiais militares do 16º BPM (Batalhão da Polícia Militar) que estiveram envolvidos na operação em Paraisópolis na madrugada de domingo estão afastados do serviço operacional. Em depoimento prestado à Polícia Civil e à Corregedoria da PM, eles afirmaram que fizeram "uso moderado da força".
Os PMs João Paulo Vecchi Alves Batista, Rodrigo Cardoso da Silva, Antonio Marcos Cruz da Silva, Vinicius José Nahool Lima, Thiago Roger de Lima Martins de Oliveira e Renan Cesar Angelo foram alocados ao serviço administrativo, uma prática comum da corporação paulista quando há suspeitas contra seus servidores.
Segundo a versão dos policiais, eles foram alvo de tiros de um criminoso que estava na garupa de uma moto e que, na fuga, entrou no meio do baile funk. Dizem, também, que, durante a perseguição, houve correria provocada pelos criminosos. Os PMs afirmam que, mesmo alvos de tiros, garrafadas e pedradas, foram eles quem ficaram no local e socorreram as vítimas.
"Havia um grande número de pessoas descontroladas, sendo necessário uso moderado da força com emprego de cassetete e munição química", afirmou um dos policiais, de acordo com os depoimentos lidos pela reportagem.
Eles, no entanto, não se justificam, em nenhum momento, sobre os vídeos que repercutiram entre domingo e segunda-feira que flagraram PMs afunilando os frequentadores do baile em uma viela e agredindo jovens, já rendidos, com socos, pisadas, chutes e cassetetes.
Frequentadores do baile negaram que tenha ocorrido tiroteio e afirmam que os policiais militares entraram na favela com o objetivo de fazer a dispersão pelo barulho, e não porque havia criminosos fugindo em meio aos jovens.
Segundo o comandante-geral da PM, coronel Marcelo Vieira Salles, "os policiais não estão afastados, estão preservados. Temos que concluir o inquérito. Não haverá como condená-los antes do devido processo legal. Seguirão em serviços administrativos, no horário deles, fazendo outras coisas".
O ouvidor das polícias, Benedito Mariano, no entanto, esclarece que a medida é, sim, um afastamento. "Os policiais foram afastados para o serviço administrativo. Uma prática que ocorre normalmente. Por exemplo: quando há morte decorrente de intervenção policial, é quase automático que o PM seja afastado das ruas até a finalização da investigação", afirmou.
Política de segurança não vai mudar, diz governador
Em entrevista coletiva concedida ontem, o governador João Doria (PSDB) defendeu a ação da PM na operação que terminou com nove mortos e também defendeu a corporação paulista como um todo. Ele teceu elogiou aos policiais do estado e afirmou que a política de segurança não irá mudar.
A versão apresentada por Doria é a mesma da polícia: PMs reagiram a um ataque de dois criminosos que estavam em uma moto atirando. "A letalidade não foi provocada pela PM, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo baile funk. É preciso ter muito cuidado para não inverter o processo", disse Doria.
Doria declarou ainda que o estado São Paulo "tem o melhor sistema de segurança preventiva", mas "isso não significa que não seja infalível". A ação em Paraisópolis ocorre menos de uma semana após o governo do Estado ter divulgado as metas de segurança pública da gestão Doria. As metas não determinam objetivos para reduzir a letalidade policial.
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