M. B.*, 27, também sente os efeitos da homofobia desde criança, quando morava em Franca, no interior paulista. "Eu tive uma criação excelente, estava inserido em um contexto perfeitinho, mas sabia que ocorria algo diferente comigo", conta. "Eu sofria bullying, era chamado de 'viado' a todo momento, mas nem isso eu conseguia entender direito."
Aos 24 anos, em 2016, quatro anos depois de ter tido sua primeira experiência homossexual, se mudou para Ribeirão Preto para fazer residência odontológica e foi morar em um pequeno prédio recém-lançado, onde era o único inquilino. "Lugar novo, tive mais forças para tudo, não tinha problema de falar para os outros que sou gay. Só me deixava triste porque não conseguia compartilhar isso com meus pais e meu irmão, as pessoas que mais amo."
Um dia, quando voltava da academia, a duas quadras do prédio, à noite, notou que era seguido por dois homens. "Minha reação foi andar mais devagar, me preparando para ser assaltado, e parei na esquina. Até que escutei um deles falando: 'E aí, viadinho?'. Eu não sabia o que pensar, nunca tinha passado por nada disso."
Sem respostas, os dois o cercaram e iniciaram as agressões verbais e físicas. "Começaram a me humilhar, falando coisas horríveis e dando uns tapas na cara, na cabeça. Eu não conseguia fazer nada, nem olhava para eles. Quando fui falar, um deu um tabefe na minha boca, tão forte que cortou o lábio. Eu queria explodir ele, meu olho encheu de lágrimas, mas não falei nada. O outro, então, cuspiu na minha cara, pedindo alguma reação."
Com o barulho, uma senhora que morava na frente saiu para a rua. "Quando eles deram as costas para falar com ela, saí correndo como nunca corri na vida."
M. B. foi parar em uma avenida movimentada da cidade. "Eu não tinha dinheiro, não tinha Uber, não tinha a quem chamar e estava com medo de voltar ao meu prédio e eles verem que eu moro sozinho."
Depois de um tempo, correu para o apartamento. "Tive crise de ansiedade trancado no banheiro e decidi contar para os meus pais."
Na visita seguinte a Franca, deixou uma carta para os dois, mas só contou sobre o incidente anos depois. Ele também nunca mais voltou à academia, com medo de encontrar os agressores. "Paguei um plano anual e não consegui ir lá nem para cancelar... Comecei a ter um pouco de fobia de sair de casa."
Hoje, se diz mais forte e confiante. O episódio foi um ponto de mudança. "Eu não me privo de mais nada, mas, ainda assim, muitas vezes não me sinto à vontade em lugares públicos, talvez por receio [de outra agressão]. No fim, a chave disso é heteronormatividade. Sei que pessoas mais afeminadas sofrem mais do que eu. É triste ver um olhar de reprovação só por você ser quem você é."