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Nos EUA, meditar no escritório ajuda a combater o estresse

Fabienne Faur

De Washington

30/04/2014 18h24

"Fiquem confortáveis, fechem os olhos, respirem fundo", sussurra uma mulher. "Sentem-se que seus pensamentos voam, está bem". Soam tigelas tibetanas. A sessão de meditação termina e todo mundo volta para o escritório.

A sala de conferências da Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês), em um prédio de escritórios no centro de Washington, não se parece em nada com um templo budista. A sessão que Klia Bassing, de 38 anos, acaba de dar para doze funcionários durante o intervalo do almoço não é o último capricho de moradores das cidades em busca de espiritualidade.

A "meditação de atenção plena", que virou febre nos últimos anos nos Estados Unidos e em outros países ocidentais, tem sido aclamada pelos cientistas por seus benefícios para reduzir o estresse, combater a obesidade, a depressão e até mesmo problemas digestivos.

A "atenção plena" ('mindfulness', em inglês) consiste em tomar consciência do momento presente", explicou à AFP Bassing, que dá aulas no Banco Mundial, em escritórios de advogados e em seguradoras de Washington.

"No geral, nossa mente pensa em qualquer coisa, menos no momento presente. Antecipa acontecimentos, se preocupa, faz planos ou reflete sobre algo acontecido", diz a instrutora, que fundou o centro Visit Yourself at Work.

"Com a atenção plena, voltamos ao momento presente, sentimos o que está acontecendo agora", destaca.

Sentados ao redor da mesa, com os olhos fechados, os participantes ouvem a mulher, que os convida a relaxar e se concentrar na respiração. O ambiente é tranquilo, a instrutora fala em voz baixa: "sintam o encosto da cadeira, sintam a parte do corpo que está em contato com a cadeira, sintam o que não é".

Depois de meia hora, todo mundo levanta e volta ao escritório, a seus colegas advogados, administradores ou editores.

Patti Delande diz que se sente "bem". Esta especialista em computação de 42 anos assiste ao curso de Klia desde que começou, há quatro anos: "quando ia me deitar, tinha um turbilhão de pensamentos na cabeça, tinha dificuldades para conciliar o sono".

"Lido melhor com minhas emoções agora porque sou consciente", conta.

Laura Labedz, uma analista de 29 anos, também aprendeu a usar esta técnica para seu trabalho. "Se vejo que estou incomodada com alguma coisa, posso apontá-lo, me ajuda a manter distância", diz.

Funcionários "mais plenos"

"A meditação é comum a muitas religiões, mas a gente não tem que ser religioso para praticá-la", afirma a instrutora.

De fato, na década de 1970, cientistas americanos como Elmer Green e Herbert Benson foram ao Oriente estudar a atividade cerebral durante esta prática.

Jon Kabat-Zin , professor de Medicina e uma espécie de papa da "atenção plena" nos Estados Unidos, desenvolveu na década de 1980 uma técnica para reduzir o estresse (MBSR) muito popular.

A prática, surgida do budismo, mas que perdeu sua conotação religiosa, deu origem a milhares de livros, sites na internet, cursos, centros terapêuticos, estudos e inclusive programas hospitalares.

A "Medicina evoluiu e reconhece que a mente e o corpo estão conectados", algo que "os monges budistas e iogues (nr: praticantes de ioga) sabiam há muito tempo", diz Susana Galle, neuropsicóloga em Washington.

A meditação de "atenção plena" modifica a atividade da amígdala, uma área do cérebro que gera a ansiedade e a raiva" e produz BDNF, uma proteína benéfica para a atividade neuronal, acrescentou.

Nos Estados Unidos, empresas como Apple, Google, o grupo alimentício General Mills ou a seguradora Aetna começaram a oferecer sessões aos seus funcionários.

"Cada vez mais as empresas estão começando a entender que têm um papel a desempenhar para que seus funcionários se sintam mais plenos", assegura Holly Siprelle, uma das encarregadas da APA.

Siprelle comanda um programa que oferece há 20 anos cursos de ioga e tai chi, massagens e agora de "atenção plena". Os funcionários "estão mais felizes, mais produtivos e permanecem mais tempo conosco", disse, assegurando que os seguros pagos por motivo de doença diminuíram.