Vacina oral contra cólera se mostra eficaz, diz estudo
Uma vacina oral, barata, confere uma proteção "significativa" contra a cólera grave, segundo um teste realizado nas condições de vida comum em Bangladesh, onde a doença mata milhares de pessoas anualmente.
O estudo, publicado nesta quinta-feira (8) na revista médica The Lancet, que entrevistou cerca de 270 mil crianças e adultos nas favelas de Mirpur, em Dacca, com alto risco de cólera, é o primeiro a demonstrar a eficácia da vacina em áreas endêmicas, de acordo com os autores.
A cólera é uma infecção diarreica aguda causada pela ingestão de alimentos ou água contaminadas pela bactéria Vibrio cholerae e os hospedeiros do bacilo. Ele é facilmente disseminado em áreas sem infra-estrutura básica - água potável, vasos sanitários, saneamento - como favelas ou campos de refugiados, muitas vezes superlotados.
Segundo a OMS, a cada ano são registrados entre 3 e 5 milhões de casos de cólera, matando cerca de 120.000 pessoas em todo o mundo.
Para o estudo, 94.675 pessoas receberam a vacina. Além da vacina, um outro grupo de número quase equivalente (92.539) foi incluindo num programa de "mudança de comportamentos", incluindo a lavagem das mãos e o uso de água potável. Um outro grupo (80 mil) não recebeu nada.
A vacina oral Shanchol foi administrada em duas doses, com 14 dias de intervalo, pelos serviços de saúde pública.
Apesar de uma população bastante variável, 65% das pessoas do grupo vacinado receberam as duas doses e 66% do grupo atingido também pelo programa de mudança de comportamentos.
Em comparação aos não vacinados, a incidência global de desidratação grave foi reduzida em 37% no grupo que recebeu a vacina isoladamente e de 45% quando a vacina foi acompanhada pela campanha para a mudança como uma precaução.
A vacina foi bem tolerada, sem efeitos indesejados graves, segundo os autores.
"Nossos resultados mostram que o programa de vacinação oral de rotina contra a cólera nos países onde a doença é endêmica poderia reduzir consideravelmente o peso da doença e contribuir enormemente nos esforços da luta contra a cólera", comentou a principal autora da pesquisa, Firdausi Qadri, do Centro Internacional de Pesquisa sobre Doenças Diarreicas de Bangladesh, em Dacca.
Qadri lembra, contudo, que a água potável e o saneamento básico - escassos para metade da população dos países em desenvolvimento (cerca de 2,5 bilhões de pessoas) - são, no fim das contas, o principal fator na luta contra a cólera.
A especialista ressalta também que a Shanchol não "custa caro", com o preço de duas doses a US$ 3,7 - cerca de um terço do preço da outra vacina oral comercializada, a Dukoral.
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