Fiocruz anuncia descoberta de possível transmissão do zika por saliva
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou nesta sexta-feira, por meio de um comunicado, ter constatado a presença do zika vírus em amostras de saliva e de urina.
O resultado de um estudo de pesquisadores da instituição levanta a possibilidade de transmissão do zika também ocorrer por meio de beijos e outras vias alternativas à picada do mosquito Aedes aegypti, em especial porque o vírus foi encontrado nessas amostras em modo ativo - ou seja, com potencial de provocar infecção.
Segundo a Fiocruz, é a primeira vez que o zika é identificado em amostras deste tipo.
Na nota oficial, a Fiocruz ressaltou a necessidade de mais pesquisas para investigar a possibilidade de infecção. Horas mais tarde, em uma entrevista coletiva, o presidente da fundação, Paulo Gadelha, recomendou que, enquanto não haja comprovação, mulheres grávidas reforcem os cuidados, evitando o compartilhamento de talheres e copos, por exemplo.
A instituição não fez nenhuma recomendação para que as pessoas evitem a troca de fluidos.
Liderados pela pesquisadora Myrna Bonaldo, os estudos analisaram amostras referentes a dois pacientes. Os cientistas observaram que, além de conter o vírus, o material apresentou destruição e danificação das células, o que comprovaria a atividade viral.
A Fiocruz, porém, defende o que Gadelha classificou como "esclarecimento" da descoberta.
"O fato de haver um vírus ativo com capacidade de infecção na urina e na saliva não é uma comprovação ainda. E nem significa que necessariamente o será ou que há possibilidade de infecção de outras pessoas de maneira sistêmica através desses fluidos."
Entre os cuidados a serem tomados pelas gestantes também está evitar grandes aglomerações. Gadelha frisou ainda a importância de que a prevenção também envolva pessoas que convivam com elas e tenham sintomas de zika.
O presidente da Fiocruz, porém, não considera que a descoberta é suficiente para tomar medidas mais drásticas diante da chegada do Carnaval.
"A evidência de hoje não faz com que nos digamos às pessoas que elas não podem ir para o Carnaval", acrescentou.
Indícios no Texas
Na semana passada, autoridades nos Estados Unidos anunciaram um potencial caso de transmissão sexual ou por saliva no Estado do Texas. Para a coordenadora do comitê de virologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Nancy Bellei, a prevenção máxima seria necessária.
"Não podemos aguardar um corpo robusto de dados para prevenir as pessoas", disse Bellei.
Em entrevista à BBC, a vice-diretora do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano), Anne Schuchat, disse que "o laboratório do CDC confirmou o primeiro caso de zika vírus em um não viajante. Nós não acreditamos que o contágio tenha ocorrido por meio de picadas de mosquito, mas sim por contato sexual".
Questionada sobre a confirmação, Schuchat explicou que até o momento não há outras formas plausíveis que possam dar conta da transmissão neste caso, já que uma pessoa esteve na Venezuela, voltou aos EUA, apresentou sintomas de zika, e teve contato sexual com o parceiro.
Essa pessoa foi testada positiva para zika, assim como o parceiro, que não esteve em regiões onde a epidemia está ativa. Além disso, não há infestação do Aedes aegypti (mosquito transmissor do vírus da dengue, zika e chikungunya) na região de Dallas.
"As evidências que nós temos neste momento apontam para isso", reforçou Schuchat ao ser questionada sobre o contágio sexual.
A vice-diretora do CDC mencionou o caso citado na literatura, que teria documentado em 2011 um cientista americano vindo do Senegal, que passava por um surto de zika, e que teria transmitido a doença para a mulher, nos EUA, que não havia estado em regiões infectadas e não vivia numa cidade com presença do Aedes aegypti.
"Havia este caso citado na literatura anterior, sobre a possibilidade de transmissão sexual, e portanto de certa forma isto não foi surpresa. Nós vamos atualizar nossas orientações logo sobre as consequências deste evento", diz.
'Prevenção máxima'
Bellei insiste em maiores cuidados:
"Quando você não tem muita clareza e informação sobre uma epidemia como essa, se reduz a tolerância e se eleva o estágio de alerta e prevenção. Uma vez que já se sabe mais e se tem mais domínio sobre o comportamento do vírus, abaixa-se a guarda. Não o contrário", avalia.
Embora ainda não haja comprovação científica, acredita-se que no Brasil o zika vírus esteja relacionado aos casos de microcefalia e/ou outras más-formações no sistema nervoso central. Segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde na terça-feira, já são 404 casos confirmados.
Outros 709 casos suspeitos foram descartados e 3.670 continuam sendo investigados.
Sêmen, saliva e prevenção
Bellei diz que, do ponto de vista microbiológico, a confirmação total desse caso seria possível ao coletar uma amostra de sêmen do viajante que esteve na Venezuela e inocular o vírus.
"Ao identificar o vírus no sêmen desta pessoa, inoculá-lo e demonstrar que ele está viável, ou seja, que se replica e pode ser transmitido, teríamos a total confirmação. Mas os elementos atuais descritos mostram que é muito difícil que o parceiro ou parceira tenha sido contaminado de outra forma, num local sem o mosquito e durante o inverno", avalia.
Em entrevista à BBC, Robert Lanciotti, pesquisador do CDC que testou as duas amostras do casal do Texas, disse que era cedo para afirmar que houve transmissão sexual neste caso, mas levantou a hipótese do contágio pela saliva.
"Os dados que temos (do Texas) mostram que o vírus está na saliva em concentração maior".
A infectologista da SBI, porém, lembrou que até o momento os cientistas não sabem quanto tempo o vírus fica presente no sêmen, na saliva ou na urina.
"Do ponto de vista da transmissão, saber que o vírus pode ser transmitido pela saliva é muito mais preocupante".
O resultado de um estudo de pesquisadores da instituição levanta a possibilidade de transmissão do zika também ocorrer por meio de beijos e outras vias alternativas à picada do mosquito Aedes aegypti, em especial porque o vírus foi encontrado nessas amostras em modo ativo - ou seja, com potencial de provocar infecção.
Segundo a Fiocruz, é a primeira vez que o zika é identificado em amostras deste tipo.
Na nota oficial, a Fiocruz ressaltou a necessidade de mais pesquisas para investigar a possibilidade de infecção. Horas mais tarde, em uma entrevista coletiva, o presidente da fundação, Paulo Gadelha, recomendou que, enquanto não haja comprovação, mulheres grávidas reforcem os cuidados, evitando o compartilhamento de talheres e copos, por exemplo.
A instituição não fez nenhuma recomendação para que as pessoas evitem a troca de fluidos.
Liderados pela pesquisadora Myrna Bonaldo, os estudos analisaram amostras referentes a dois pacientes. Os cientistas observaram que, além de conter o vírus, o material apresentou destruição e danificação das células, o que comprovaria a atividade viral.
A Fiocruz, porém, defende o que Gadelha classificou como "esclarecimento" da descoberta.
"O fato de haver um vírus ativo com capacidade de infecção na urina e na saliva não é uma comprovação ainda. E nem significa que necessariamente o será ou que há possibilidade de infecção de outras pessoas de maneira sistêmica através desses fluidos."
Entre os cuidados a serem tomados pelas gestantes também está evitar grandes aglomerações. Gadelha frisou ainda a importância de que a prevenção também envolva pessoas que convivam com elas e tenham sintomas de zika.
O presidente da Fiocruz, porém, não considera que a descoberta é suficiente para tomar medidas mais drásticas diante da chegada do Carnaval.
"A evidência de hoje não faz com que nos digamos às pessoas que elas não podem ir para o Carnaval", acrescentou.
Indícios no Texas
Na semana passada, autoridades nos Estados Unidos anunciaram um potencial caso de transmissão sexual ou por saliva no Estado do Texas. Para a coordenadora do comitê de virologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Nancy Bellei, a prevenção máxima seria necessária.
"Não podemos aguardar um corpo robusto de dados para prevenir as pessoas", disse Bellei.
Em entrevista à BBC, a vice-diretora do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano), Anne Schuchat, disse que "o laboratório do CDC confirmou o primeiro caso de zika vírus em um não viajante. Nós não acreditamos que o contágio tenha ocorrido por meio de picadas de mosquito, mas sim por contato sexual".
Questionada sobre a confirmação, Schuchat explicou que até o momento não há outras formas plausíveis que possam dar conta da transmissão neste caso, já que uma pessoa esteve na Venezuela, voltou aos EUA, apresentou sintomas de zika, e teve contato sexual com o parceiro.
Essa pessoa foi testada positiva para zika, assim como o parceiro, que não esteve em regiões onde a epidemia está ativa. Além disso, não há infestação do Aedes aegypti (mosquito transmissor do vírus da dengue, zika e chikungunya) na região de Dallas.
"As evidências que nós temos neste momento apontam para isso", reforçou Schuchat ao ser questionada sobre o contágio sexual.
A vice-diretora do CDC mencionou o caso citado na literatura, que teria documentado em 2011 um cientista americano vindo do Senegal, que passava por um surto de zika, e que teria transmitido a doença para a mulher, nos EUA, que não havia estado em regiões infectadas e não vivia numa cidade com presença do Aedes aegypti.
"Havia este caso citado na literatura anterior, sobre a possibilidade de transmissão sexual, e portanto de certa forma isto não foi surpresa. Nós vamos atualizar nossas orientações logo sobre as consequências deste evento", diz.
'Prevenção máxima'
Bellei insiste em maiores cuidados:
"Quando você não tem muita clareza e informação sobre uma epidemia como essa, se reduz a tolerância e se eleva o estágio de alerta e prevenção. Uma vez que já se sabe mais e se tem mais domínio sobre o comportamento do vírus, abaixa-se a guarda. Não o contrário", avalia.
Embora ainda não haja comprovação científica, acredita-se que no Brasil o zika vírus esteja relacionado aos casos de microcefalia e/ou outras más-formações no sistema nervoso central. Segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde na terça-feira, já são 404 casos confirmados.
Outros 709 casos suspeitos foram descartados e 3.670 continuam sendo investigados.
Sêmen, saliva e prevenção
Bellei diz que, do ponto de vista microbiológico, a confirmação total desse caso seria possível ao coletar uma amostra de sêmen do viajante que esteve na Venezuela e inocular o vírus.
"Ao identificar o vírus no sêmen desta pessoa, inoculá-lo e demonstrar que ele está viável, ou seja, que se replica e pode ser transmitido, teríamos a total confirmação. Mas os elementos atuais descritos mostram que é muito difícil que o parceiro ou parceira tenha sido contaminado de outra forma, num local sem o mosquito e durante o inverno", avalia.
Em entrevista à BBC, Robert Lanciotti, pesquisador do CDC que testou as duas amostras do casal do Texas, disse que era cedo para afirmar que houve transmissão sexual neste caso, mas levantou a hipótese do contágio pela saliva.
"Os dados que temos (do Texas) mostram que o vírus está na saliva em concentração maior".
A infectologista da SBI, porém, lembrou que até o momento os cientistas não sabem quanto tempo o vírus fica presente no sêmen, na saliva ou na urina.
"Do ponto de vista da transmissão, saber que o vírus pode ser transmitido pela saliva é muito mais preocupante".
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