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Quais são riscos e sintomas da síndrome de Guillain-Barré, outra doença associada ao zika

A síndrome de Guillain-Barré é uma reação rara a agentes infecciosos, como vírus e bactérias, e causa fraqueza muscular e paralisia dos músculos - Marvin Recinos/AFP
A síndrome de Guillain-Barré é uma reação rara a agentes infecciosos, como vírus e bactérias, e causa fraqueza muscular e paralisia dos músculos Imagem: Marvin Recinos/AFP

06/02/2016 14h50

A OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou emergência de saúde pública internacional pelos casos de microcefalia em áreas com surto da zika, mas o órgão também reconhece que há "indícios consistentes" do aumento de casos da síndrome de Guillain-Barré em regiões afetadas pelo vírus.

A síndrome de Guillain-Barré é uma doença do sistema nervoso de caráter autoimune, ou seja, ocorre quando as defesas do organismo são mais intensas do que o necessário e passam a atacar partes do corpo. Pode afetar pessoas de qualquer idade, especialmente adultos mais velhos, e o risco de morte associado à doença é inferior a 10%.

Trata-se de uma reação rara a agentes infecciosos como vírus (que pode ser a zika) e bactérias. Os principais sintomas são fraqueza muscular e paralisia dos músculos. Pode apresentar graus diferentes de agressividade --de fraqueza muscular leve à paralisia total dos membros.

A doença afeta os nervos periféricos, que conectam o cérebro à medula espinhal, responsáveis por enviar comandos de movimento para o resto do corpo --daí os sintomas musculares.

Manifesta-se quando o sistema imunológico começa a produzir anticorpos contra a bainha de mielina, revestimento isolante que garante o funcionamento dos nervos. Danos a essa estrutura comprometem a capacidade de movimentação e a sensibilidade diante do calor, dor, texturas e outras sensações.

"Esse problema começa com um formigamento, uma fraqueza das pernas que vai subindo. Pode até ser grave, pode inclusive dar paralisia dos músculos respiratórios. Por isso, é importante procurar atendimento", afirmou o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, em vídeo divulgado pela pasta.

Guillain-Barré e zika

A OMS reconhece a coincidência "espaço-temporal" entre surtos da zika a incidência da síndrome, mas diante da escassez de dados ainda não estabelece um vínculo direto entre as doenças.

A recomendação por enquanto aos países afetados pela zika é o aumento da vigilância a essa e outras síndromes neurológicas, como encefalite, meningite e síndrome de Fisher.

A relação entre a síndrome a a infecção por zika foi detectada pela primeira vez na Polinésia Francesa, durante o surto do vírus entre 2013 e 2014.

Naquela ocasião, 74 pacientes com zika apresentaram também sintomas neurológicos ou autoimunes, e 42 (56,7% do total) foram classificados como Guillain-Barré.

No Brasil, a relação entre Guillain-Barré e zika foi confirmada no ano passado após investigações em Pernambuco, que como outros Estados do Nordeste apresentou aumento atípico de casos da síndrome.

A Guillain-Barré não era uma doença de notificação compulsória no Brasil, então não há dados nacionais sobre a ocorrência da síndrome.

O governo monitora a situação pelos registros de internações e atendimentos ambulatoriais relacionados à doença, que revelaram aumento nos casos no ano passado em relação a 2015.

Houve, por exemplo, 29,8% mais internações (1.868 em 2015 ante 1.439 em 2014) e 8,1% mais atendimentos ambulatoriais (69.703 ante 64.422). A alta foi puxada pelos Estados de Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

No entanto, segundo o ministério, não é possível estabelecer se esses casos foram causados pela infecção por zika, e a ocorrência de Guillain-Barré relacionada ao vírus continua sob investigação.

Estados vem adotando diferentes estratégias para investigar a síndrome - o Rio de Janeiro, por exemplo, anunciou que tornará obrigatória a notificação de casos, após registrar 15 casos em janeiro, número três vezes acima da média histórica.

Extensão e tratamento

A OMS estima que a incidência anual média de Guillain-Barré no mundo seja de 0,4 a 4 casos por 100 mil habitantes. A doença não tem uma cura específica, e os tratamentos são voltados a reduzir a gravidade dos sintomas.

Procedimentos usados na fase mais aguda da doença são a imunoterapia com troca de plasma - para bloquear os anticorpos que atacam as células nervosas - e a administração de imunoglobulina, um anticorpo.

A maior parte das pessoas sobrevive e se recupera por completo. Esse processo, contudo, pode levar semanas ou meses, e a síndrome pode provocar deficiências que demandam reabilitação.