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Transmissão do ebola segue ativa em zonas de Serra Leoa e Guiné

Marta Hurtado

Em Genebra

09/12/2014 13h11

No oeste de Serra Leoa e em algumas zonas rurais da Guiné ainda existe uma intensa transmissão do vírus do ebola e o surto está longe de ser controlado, explicou nesta terça-feira (9) o enviado especial da ONU para esta doença, David Nabarro.

"O surto está ainda em plena intensidade no oeste de Serra Leoa e em algumas zonas rurais da Guiné, como a Guinée Forrestière. Até que estes focos não estejam totalmente controlados, não devemos descansar", afirmou Nabarro em entrevista coletiva.

Nabarro revelou que em várias áreas de Serra Leoa ocidental "a transmissão do vírus é intensa".

O especialista explicou que "a alta transmissão em Serra Leoa ocidental é um reflexo de que há gente que ainda não assumiu totalmente o surto".

Questionado sobre como pode ser que nove meses depois da revelação do surto de ebola e seis meses de intensa mobilização internacional ainda haja gente que não conhece os riscos e como evitá-los, Nabarro respondeu que este fato simplesmente demonstra "a difícil tarefa que é necessária enfrentar".

O enviado especial explicou que em setembro, as autoridades leonesas se reuniram com os chefes das tribos nas zonas rurais e explicaram como atuar em caso de suspeita ou confirmação de contágio.

"Mas a zona ocidental é muito mais urbanizada, os chefes das tribos não têm tanto peso e a mobilização social e as tarefas de conscientização são mais difíceis".

Com relação a quais são as práticas de risco mais estendidas, Nabarro disse que foram detectados alguns enterros não seguros, "mas sobretudo, o problema recai em não se isolar quando aparecem os sintomas".

"É mais fácil lutar contra o ebola em povos tradicionais do que em áreas urbanas", concluiu.

Outro do problema em Serra Leoa é que o país ainda não conta com todos os centros de tratamento necessários para poder atender os pacientes.

Nabarro não quantificou quantas camas são necessárias e reiterou que a necessidade de centros de tratamento em funcionamento e com pessoal suficiente.

O representante da ONU narrou que viu como doentes de ebola fazem fila para serem tratados e assinalou que viveu algumas das experiências "mais trágicas da minha vida".

Nabarro disse que, por enquanto, não são necessários cidadãos estrangeiros, embora precisou que enquanto haja epidemia, a necessidade de especialistas será mantida.

"São necessários, constantemente, epidemiologistas e especialistas para evitar a expansão da doença".

"O importante não é o número, mas encontrar as pessoas adequadas", opinou.

Nabarro disse que atualmente a relação nos centros de tratamento é 20% de estrangeiros.

"Em alguns centros os trabalhadores internacionais se dedicam exclusivamente a ensinar. É preciso agradecâ-los enormemente pelo esforço e compromisso, dado que viajaram com pleno conhecimento de que talvez não poderiam ser tratados em caso de infecção".

O primeiro caso de ebola aconteceu há um ano na Guiné Conakri; o surto não foi identificado até março, quando foi detectado que havia se tinha expandido à Libéria e Serra Leoa.

Levando em conta os casos confirmados, prováveis e suspeitos, a epidemia de ebola causou nos três países 17,8 mil infecções e deixou 6.331 mortos.