Caprinos supririam déficit de aleitamento materno, diz médico
O leite de cabra enriquecido com lisozima e lactoferrina poderá dar uma contribuição importante para a redução dos efeitos da desnutrição e diarreia infantil no semiárido nordestino, segundo o médico Aldo Moreira Lima, coordenador da Rede de Caprino-Ovinocultura e Diarreia Infantil do Semiárido (Recodisa), da qual o projeto faz parte.
Pesquisadores brasileiros no Ceará, em parceria com cientistas da Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos, estão desenvolvendo cabras geneticamente modificadas com genes humanos, capazes de produzir um leite mais rico em proteínas que combatem a diarreia infantil - um grave problema de saúde pública na região.
O correto seria que as crianças recebessem essas proteínas pelo leite materno, mas a taxa de amamentação na região é extremamente baixa. Mesmo na região metropolitana de Fortaleza, segundo Lima, o período médio de aleitamento materno é de um mês. “Na teoria, o ideal seria aumentar o tempo de aleitamento, mas, na prática, é uma mudança cultural drástica, muito difícil de ser implementada”, avalia Lima.
A estratégia, portanto, seria tirar proveito de um outro hábito cultural do semiárido, que é a criação de cabras. “Muitas famílias já têm o costume de consumir leite de cabra; não é um hábito novo que teríamos de introduzir no comportamento da população”, aponta Lima.
O leite enriquecido poderia ser consumido diretamente, com a introdução de cabras transgênicas nos rebanhos, ou as proteínas poderiam ser purificadas e adicionadas ao leite em pó para distribuição. “O mais fácil seria que elas já estivessem no leite”, avalia Lima.
Impacto. O número de mortes relacionadas à diarreia infantil foi significativamente reduzido no País nos últimos anos, mas a doença não foi eliminada, e seu impacto na qualidade de vida do semiárido continua alto. Segundo Lima, vários trabalhos demonstram que a diarreia recorrente agrava a desnutrição e compromete o desenvolvimento cognitivo das crianças.
“É uma coisa horrível, que nos impactou muito quando chegamos aqui”, conta a pesquisadora Luciana Bertolini, que se mudou de Santa Catarina para Fortaleza com o marido especificamente para este projeto. “A criança entra num ciclo de desnutrição e diarreias consecutivas do qual não consegue sair. Uma criança dessas nunca vai ter as mesmas oportunidades na vida que uma outra saudável.”
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