Saúde, autoridades sanitárias e médicos divergem sobre vacinação da febre amarela
São Paulo - Em meio à epidemia de febre amarela, Ministério da Saúde, autoridades sanitárias e infectologistas divergem sobre a melhor estratégia para se vacinar contra a febre amarela. Integrantes do ministério recomendam que a população adulta receba duas doses do imunizante, com intervalo de 10 anos entre as aplicações.
Em São Paulo, no entanto, a indicação é de que apenas uma dose seja dada - uma orientação que segue as diretrizes da Organização Mundial da Saúde. "A partir do momento que está demonstrado que uma dose você tem proteção, por, pelo menos, 30 anos, não entendo por que indicar o reforço", justifica coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo, Marcos Boulos.
Boulos afirma que a recomendação em São Paulo é de que apenas uma dose seja aplicada. "Se por ventura uma pessoa vacinou há 50 anos e quiser vacinar outra vez, é outra história. Mas com pessoas que se vacinaram os últimos 20 anos o reforço é desnecessário."
A recomendação da Organização Mundial da Saúde para que apenas uma dose seja aplicada tem como ponto de partida a revisão de vários estudos realizados sobre a eficácia do imunizante. O relatório da entidade indica que, desde que a vacinação contra a doença teve início, nos anos 1930, foram identificados apenas 12 casos da doença entre pacientes imunizados, o que indicaria a falha do produto. E mesmo nesses episódios, a infecção ocorreu em um período de até 5 anos pós vacinação. "Os dados demonstram que a imunidade não cai com o tempo", afirma o relatório da OMS.
Técnicos do Ministério da Saúde, por sua vez, afirmam que a indicação de uma dose da vacina e de um reforço tem como objetivo evitar um eventual risco de os efeitos da vacina se reduzirem ao longo do tempo. Não haveria, de acordo com a equipe, ainda estudos suficientes para comprovar a proteção com apenas uma dose. "Mas e estudos que indiquem a necessidade de duas doses?", questiona Boulos. Para ele, o ideal no momento seria um uso racional de recursos.
O professor da Universidade de Brasília, Pedro Tauil, tem avaliação diferente. Para ele, o reforço sugerido pelo Ministério da Saúde é uma garantia bem-vinda. "O ideal é que estudos antes sejam realizados no País mostrando que com apenas uma dose a população está segura." A recomendação da OMS para que apenas uma aplicação da dose de febre amarela seja dada começou a valer em junho de 2016.
A vacina é feita com o vírus atenuado da febre amarela. Reações adversas são consideradas raras. Mesmo assim, há uma série de recomendações que devem ser observadas pela população. Menores de seis meses e maiores de 60 anos não devem se vacinar, afirma Boulos.
Pessoas com alergia a ovo, que usam medicamentos imunossupressores, corticoides, em tratamento de câncer também não devem se submeter à imunização. O fato de a vacina poder provocar reações adversas (mesmo que em número reduzido de pacientes) também é citada por Boulos como uma razão para dispensar o reforço da vacinação. "Às vezes pessoas não sabem que estão imunodeprimidas. Para que correr o risco?", diz.
Infectologistas e autoridades sanitárias são unânimes em afirmar que pessoas que tomaram a vacina há menos de 10 anos não precisam tomar outra dose no momento. "Ela tem efeito protetor. De nada adianta tentar desrespeitar esse prazo." Ao contrário do que afirma o ministro da Saúde, Ricardo Barros, Boulos avalia já haver no País uma epidemia de febre amarela.
"As epidemias ocorrem a cada sete, oito anos", diz. As razões para esses ciclos ainda não estão bem estabelecidas. Boulos, no entanto, observa que um fator exerce um papel preponderante: o aumento da população suscetível ao vírus. Embora seja uma doença considerada grave, a febre amarela provoca sintomas em 1 a cada 10 pessoas que têm contato com vírus.
"Quando há uma epidemia, parte da população é vacinada, parte tem contato com vírus e não desenvolve sintomas e outras adoecem", observa. Em macacos ocorre algo semelhante. Parte morre, parte tem contato com vírus e desenvolve imunidade, interrompendo, assim, o círculo de transmissão da doença.
Boulos não tem dúvida de que, dentro de cerca de dois meses, o número de casos da doença terá uma redução importante. "Para isso, no entanto, é importante que a população que não está imunizada procure os postos de vacinação e se protejam." O mesmo vale para aqueles que se destinam a áreas consideradas de risco para doença.
Em São Paulo, no entanto, a indicação é de que apenas uma dose seja dada - uma orientação que segue as diretrizes da Organização Mundial da Saúde. "A partir do momento que está demonstrado que uma dose você tem proteção, por, pelo menos, 30 anos, não entendo por que indicar o reforço", justifica coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo, Marcos Boulos.
Boulos afirma que a recomendação em São Paulo é de que apenas uma dose seja aplicada. "Se por ventura uma pessoa vacinou há 50 anos e quiser vacinar outra vez, é outra história. Mas com pessoas que se vacinaram os últimos 20 anos o reforço é desnecessário."
A recomendação da Organização Mundial da Saúde para que apenas uma dose seja aplicada tem como ponto de partida a revisão de vários estudos realizados sobre a eficácia do imunizante. O relatório da entidade indica que, desde que a vacinação contra a doença teve início, nos anos 1930, foram identificados apenas 12 casos da doença entre pacientes imunizados, o que indicaria a falha do produto. E mesmo nesses episódios, a infecção ocorreu em um período de até 5 anos pós vacinação. "Os dados demonstram que a imunidade não cai com o tempo", afirma o relatório da OMS.
Técnicos do Ministério da Saúde, por sua vez, afirmam que a indicação de uma dose da vacina e de um reforço tem como objetivo evitar um eventual risco de os efeitos da vacina se reduzirem ao longo do tempo. Não haveria, de acordo com a equipe, ainda estudos suficientes para comprovar a proteção com apenas uma dose. "Mas e estudos que indiquem a necessidade de duas doses?", questiona Boulos. Para ele, o ideal no momento seria um uso racional de recursos.
O professor da Universidade de Brasília, Pedro Tauil, tem avaliação diferente. Para ele, o reforço sugerido pelo Ministério da Saúde é uma garantia bem-vinda. "O ideal é que estudos antes sejam realizados no País mostrando que com apenas uma dose a população está segura." A recomendação da OMS para que apenas uma aplicação da dose de febre amarela seja dada começou a valer em junho de 2016.
A vacina é feita com o vírus atenuado da febre amarela. Reações adversas são consideradas raras. Mesmo assim, há uma série de recomendações que devem ser observadas pela população. Menores de seis meses e maiores de 60 anos não devem se vacinar, afirma Boulos.
Pessoas com alergia a ovo, que usam medicamentos imunossupressores, corticoides, em tratamento de câncer também não devem se submeter à imunização. O fato de a vacina poder provocar reações adversas (mesmo que em número reduzido de pacientes) também é citada por Boulos como uma razão para dispensar o reforço da vacinação. "Às vezes pessoas não sabem que estão imunodeprimidas. Para que correr o risco?", diz.
Infectologistas e autoridades sanitárias são unânimes em afirmar que pessoas que tomaram a vacina há menos de 10 anos não precisam tomar outra dose no momento. "Ela tem efeito protetor. De nada adianta tentar desrespeitar esse prazo." Ao contrário do que afirma o ministro da Saúde, Ricardo Barros, Boulos avalia já haver no País uma epidemia de febre amarela.
"As epidemias ocorrem a cada sete, oito anos", diz. As razões para esses ciclos ainda não estão bem estabelecidas. Boulos, no entanto, observa que um fator exerce um papel preponderante: o aumento da população suscetível ao vírus. Embora seja uma doença considerada grave, a febre amarela provoca sintomas em 1 a cada 10 pessoas que têm contato com vírus.
"Quando há uma epidemia, parte da população é vacinada, parte tem contato com vírus e não desenvolve sintomas e outras adoecem", observa. Em macacos ocorre algo semelhante. Parte morre, parte tem contato com vírus e desenvolve imunidade, interrompendo, assim, o círculo de transmissão da doença.
Boulos não tem dúvida de que, dentro de cerca de dois meses, o número de casos da doença terá uma redução importante. "Para isso, no entanto, é importante que a população que não está imunizada procure os postos de vacinação e se protejam." O mesmo vale para aqueles que se destinam a áreas consideradas de risco para doença.
Lígia Formenti
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