Incor vence crise, paga dívida de R$ 464 milhões e reafirma excelência
Nos corredores do maior centro de pesquisa e assistência em cardiologia do País, não é incomum ouvir relatos de quem diz ter "renascido" após ser operado no local. Na última década, porém, além de correr contra o tempo diariamente para salvar a vida dos seus pacientes, o Incor (Instituto do Coração) teve de lutar pela própria sobrevivência em uma história que acaba de terminar com final feliz.
No ano em que completou 40 anos, o instituto, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), finalmente quitou as milionárias dívidas com fornecedores e bancos, colocando, assim, um fim à pior crise de sua história. O pagamento dos últimos débitos ocorreu no fim de 2017 e foi revelado ao Estado neste mês pelo presidente do conselho diretor, o cardiologista Roberto Kalil Filho.
"O que aconteceu com o Incor foi muito ruim, a ponto de pedirem a insolvência da Fundação Zerbini (instituição que administra os recursos do Incor). Ela estava com dívidas praticamente impagáveis. Mas nesses últimos anos vem sendo feito um trabalho de saneamento. E desde setembro do ano passado a fundação não tem débitos. De uma dívida que, alguns anos atrás, chegava a R$ 464 milhões, hoje não tem. Como se fez isso? Negociando, economizando, fazendo auditorias, pedindo ajuda e conversando com os governos. Todos ajudaram de alguma maneira", disse.
Diretor-presidente da Fundação Zerbini desde 2012, José Antonio de Lima relembra que as duas principais origens da dívida da entidade foram os custos da construção do bloco 2 do hospital e os investimentos na criação de uma unidade do Incor no Distrito Federal - hoje sob administração de outra entidade. O acúmulo de débitos ainda criou outro problema: a fundação foi colocada no Cadastro de Inadimplentes (Cadin) - o que equivale para as pessoas físicas a ficar "com o nome sujo". "Uma das consequências é que ficamos fechados para receber emendas parlamentares de 2006 a 2013", comenta Lima.
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Nesse período, o instituto e a fundação também enfrentaram problemas com órgãos fiscalizadores, como o Tribunal de Contas e o Ministério Público. "Além de estarmos no Cadin, o Ministério Público Federal ainda impediu algumas transferências de recursos públicos", conta José Manoel de Camargo Teixeira, assessor da diretoria executiva.
Com o plano de reestruturação e a renegociação de dívidas, o instituto foi recuperando, pouco a pouco, a credibilidade. Desde 2014, já "com o nome limpo", a entidade recebeu cerca de R$ 17,7 milhões só em emendas parlamentares. Com esses e outros recursos que chegam para investimento em melhorias no hospital, o Incor pôde, nos últimos anos, reformar alas de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), inaugurar um novo pronto-socorro e comprar equipamentos mais modernos.
Vice-presidente do Conselho Diretor da instituição, o cirurgião Fábio Jatene afirma que o progresso alcançado nos últimos anos levou a instituição a ter hoje estrutura tão moderna quanto a dos melhores hospitais privados. "Nós temos instalações e equipamentos apropriados para realizar os procedimentos, e acesso às mais modernas tecnologias. Estamos entre os maiores centros transplantadores de coração e pulmão do mundo. Isso caracteriza uma excelência", destaca. Ao longo dos seus 40 anos, o hospital já fez mais de mil transplantes.
Para Jatene, o maior desafio agora é ampliar o atendimento a mais pacientes, mesmo com as limitações financeiras comuns a qualquer unidade pública. "O que gostaríamos é que fizéssemos ainda mais. Em vez de realizar procedimentos duas ou três vezes por semana, que realizássemos todos os dias, porque os pacientes necessitam. Isso é o que poderíamos avançar mais ainda."
Ensino e pesquisa
E não foi só na área de assistência e gestão que o InCor acumulou boas notícias no último ano. Conhecido como um dos maiores centros de ensino e pesquisa em sua área do mundo, a instituição conseguiu nota 7 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior em sua pós-graduação de Cardiologia, o maior conceito de um programa do gênero. (* As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo")
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