Com ou sem ômicron, não é hora de réveillon e Carnaval, diz Natalia Pasternak
Independentemente da presença da variante ômicron do coronavírus, o Brasil ainda não está pronto para a realização de festas com grandes aglomerações. Essa é a avaliação da bióloga Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC). Em entrevista ao Estadão, ela destaca que, apesar da melhora de indicadores da pandemia, o cenário no País ainda exige cuidados.
A diminuição do número de casos, hospitalizações e mortes por covid-19 no Brasil no último trimestre deste ano, desde que a vacinação avançou, levou a uma onda de otimismo pelo fim dos protocolos sanitários. Mas, com o aparecimento da variante ômicron e sua chegada ao Brasil, ao menos 19 capitais cancelaram os eventos de fim de ano esta semana, e outras dezenas de municípios desistiram de não realizar o Carnaval.
No entanto, na avaliação da especialista, o cenário anterior não era propício à realização destas festas. "Precisamos esperar para ver como o vírus vai se comportar com a população vacinada. Não podemos retroceder no que avançamos até agora", disse.
Muitas cidades cancelaram as festas públicas de réveillon e várias também suspenderam o carnaval com a confirmação da ômicron. A decisão foi acertada?
Independentemente da ômicron, não é o momento da realização de festas públicas com grande aglomeração. Estamos em um momento de controle para colher as pequenas conquistas que o Brasil tem no combate à pandemia, graças à vacinação em massa. Chegamos ao fim de 2021 com uma situação muito melhor do que víamos no ano passado, quando o recomendado era não fazer sequer festas de família. Isso agora é possível, mas não significa que festas tão calorosas como réveillon e Carnaval já possam ser feitas de maneira desmedida. Precisamos esperar para ver como o vírus vai se comportar com a população vacinada. Não podemos retroceder no que avançamos até agora.
Apesar do cancelamento das festas públicas, os eventos privados ainda irão acontecer. É eficaz, no combate ao vírus, cancelar festas públicas e manter as privadas?
O cancelamento das festas públicas, mesmo com a manutenção das festas privadas, é eficaz para o controle da pandemia porque as festas públicas atraem pessoas de todas as idades, de todos os lugares e que estão vacinadas ou não. Nas festas privadas é possível estabelecer um controle de entrada, com protocolos como a exigência do comprovante da vacinação, do teste de covid-19 e de um número máximo de pessoas no espaço. O ideal, no entanto, é que não haja festas privadas com aglomeração, como boates e grandes shows. Isso é muito arriscado e pode comprometer.
O Estado de São Paulo anunciou nesta quinta-feira, 2, a antecipação da dose de reforço para quatro meses. A medida tem algum efeito prático no combate a uma nova variante?
Antecipar o período das doses de reforço é uma estratégia logística para defender a população melhor em menos tempo. Entretanto, não dá para antecipar para menos que quatro meses porque esse é o período mínimo necessário para uma boa dose de reforço imunológico. Do ponto de vista de estratégia imunológica, é melhor aumentar o período entre as doses porque quanto mais tempo, melhor o reforço na defesa. Entretanto, na condição que estamos hoje, com uma nova variante, a estratégia de reforçar a população o mais rápido possível faz sentido.
E o que o Brasil deveria estar fazendo a nível federal para conter a disseminação da nova variante?
O governo brasileiro precisa instituir o passaporte de vacinação. Não podemos transformar o Brasil num destino turístico de pessoas anti-vacinas, e é isso que vai acontecer se o passaporte não for instituído. O Brasil é um destino turístico interessante e, na hora que o mundo perceber que não está exigindo certificado de vacina, uma população que é contra a vacina pode ser atraída para cá.
O passaporte da vacinação precisa acontecer, assim como a exigência do teste, do rastreamento de contato, da quarentena para quem vem de fora. Isso tudo precisa ser instituído desde o início, mas nunca foi. E isso faz mais sentido que fechar fronteiras para alguns países específicos.
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