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Pesquisa comprova que nova combinação de medicamentos diminui risco de mãe transmitir HIV para o bebê

Akemi Nitahara

Da Agência Brasil, no Rio de Janeiro

17/08/2012 18h56

Após dez anos de pesquisa, um estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em parceria com a Ucla (Universidade da Califórnia) aponta que a combinação de dois ou três antirretrovirais diminui o risco de mães portadoras do vírus HIV contaminarem seus bebês recém-nascidos.

O protocolo, até então adotado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para evitar a chamda transmissão vertical, quando o vírus vai da mãe para o bebê durante a gestação, era iniciar o tratamento do recém-nascido com o antirretroviral AZT em até 48 horas depois do parto. Essa medida reduz o risco de contaminação da criança para 5%.

Uma das coordenadoras gerais da pesquisa, a médica infectologista Valdiléa Veloso, diretora do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, da Fiocruz, explica que participaram do estudo mulheres que não sabiam da condição de soropositivas durante a gestação e descobriram a doença pouco antes do parto. Portanto, não foram tratadas com o AZT durante a gravidez.

“Para essas crianças cujas mães são diagnosticadas muito tardiamente, dando uma combinação de medicamentos, em parte, compensa-se o tratamento da mãe que não foi feito. Assim, se consegue proteger melhor essas crianças”, explicou Valdiléa Veloso.

A pesquisa foi feita com 1.684 crianças, separadas em três grupos. O primeiro foi tratado apenas com o AZT. O segundo grupo recebeu AZT e nevirapina. E o terceiro grupo recebeu AZT, nelfinavir e lamivudina. Em todos os casos, a primeira dose foi ministrada nas primeiras 48 horas de vida da criança e o tratamento durou seis semanas.

O resultado mostrou que 140 bebês foram contaminados antes do tratamento, sendo 97 durante a gestação e 43 no parto. Três meses depois do tratamento, 4,8% dos bebês que tomaram apenas AZT tinham sido contaminados. Entre os que receberam dois medicamentos, o índice caiu para 2,2% e, entre os que tomaram a combinação de três antirretrovirais, a taxa de contaminação ficou em 2,8%, sendo essa terapia a mais tóxica.

A pesquisadora lembra que filhos de mães soropositivas tratadas durante a gestação já apresentam menos de 1% de chance de serem contaminados. Sem o tratamento, o risco chega a 25% e sobe para 40% no caso da mãe amamentar a criança.

Valdiléa Veloso lembra que o protocolo de prevenção e tratamento da aids no Brasil existe desde 1994, mas nem sempre é seguido. “Infelizmente, nem todas fazem o pré-natal, nem todas que fazem o pré-natal fazem o teste, nem todas que fazem o teste recebem o resultado a tempo de serem medicadas, nem todas que são indicadas para o tratamento dão continuidade ao tratamento durante o pré-natal. Então, a gente vai perdendo um pouquinho em cada etapa. E o mais grave é que, infelizmente, em uma parte das mulheres, ainda, o diagnóstico é feito ali, na hora que ela chega na maternidade já em trabalho de parto”.

A pesquisa foi publicada na revista científica The New England Journal of Medicine, em junho, e foi feito na África do Sul, Argentina, nos Estados Unidos e no Brasil. De acordo com a médica, os padrões de tratamento no mundo já mudaram com base nesses resultados, sendo recomendados oficialmente pela OMS e adotados nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil.