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Lactobacilos ajudam o intestino e melhoram a imunidade

Bactérias do gênero "Lactobacillus" são as mais empregadas em suplementos probióticos para alimentos - Thinkstock
Bactérias do gênero "Lactobacillus" são as mais empregadas em suplementos probióticos para alimentos Imagem: Thinkstock

Márcia Moreno

Do UOL, em São Paulo

16/11/2012 07h00

Cuidar da alimentação pode ajudar na prevenção de doenças e alguns elementos ajudam muito nessa missão, como os probióticos. Eles aumentam o sistema imunológico, ajudando a microbiota natural do ser humano. Microbiota, mais conhecida como flora intestinal, é o conjunto de micro-organismos que vivem no nosso corpo - as bactérias do intestino, por exemplo.
          
Quando nascemos, a flora intestinal é estéril. A colonização bacteriana começa a se desenvolver durante o parto, daí surgirão novos micro-organismos com os primeiros alimentos. A partir de dois anos de idade, a microbiota estará formada e nos acompanhará por toda a vida.

“Os probióticos são micro-oganismos vivos, bactérias benéficas ao nosso organismo. Eles atuam principalmente no intestino, mas seus efeitos benéficos vão além”, afirma Daniela Jobst, nutricionista funcional e membro do Centro Brasileiro de Nutrição Funcional e do Instituto de Medicina Funcional dos Estados Unidos.

“Eles desencadeiam efeitos sistêmicos”, conta Sula de Camargo, consultora da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). Ela acrescenta que os probióticos podem ajudar a nossa imunidade, aumentar a absorção de nutrientes, regularizar o trânsito intestinal, auxiliar a reduzir doenças como as cardiovasculares, o câncer, o diabetes e a obesidade.  As evidências são baseadas em estudos de especialistas que mostram a importância da flora intestinal para a manutenção da saúde humana.

A microbiota do nosso organismo precisa estar sempre equilibrada. Do contrário, ficamos doentes. “Os probióticos atuam na flora total: intestinal, vaginal e bucal”, diz Jobst. Desta forma, contribuem para melhor absorção de micronutrientes e fortalecem a barreira contra os micro-organismos que causam doenças.

Inibem doenças

O mecanismo de ação dos probióticos para evitar doenças ainda não foi totalmente elucidado. “Mas existem evidências de que inibem a proliferação de micro-organismos patogênicos porque competem por nutrientes ou  produzem compostos que aumentam a acidez no intestino, desfavorecendo o seu crescimento”, afirma Camargo.

Os probióticos têm como base organismos que já habitam a nossa microbiota. “Eles vão aumentar o exército de micro-organismos benéficos do nosso corpo”, explica Leandro Teixeira, coordenador de vendas da área de nutrição e saúde da Dupont, empresa considerada líder de vendas em probióticos no mundo.
    
Eles também podem ser componentes de alimentos industrializados presentes no mercado, como os conhecidos leites fermentados, ou encontrados na forma de pó ou cápsulas.

“Geralmente, as cápsulas têm maior quantidade de cepas (famílias de micro-organismos) e maior biodisponibilidade - medida de extensão de uma droga. Nos tratamentos mais agudos, são mais recomendados”, afirma Jobst. “Mas para a manutenção de uma flora já equilibrada, os alimentos com probióticos podem ser usados como fonte”, completa ela.

Na avaliação da nutricionista funcional Rute Mercúrio, integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Nutrição Funcional (SBNF), é preciso ter cuidado quando os probióticos são colocados em alimentos. “Quando misturados a bebidas ou iorgurtes, podem alterar a fermentação e, por sua vez, o resultado das bactérias desejadas”, diz.

Dentre os probióticos disponíveis no mercado, cabe destacar o Lactobacillus acidophilus NCFM, um dos mais estudados do mundo e responsável pela primeira publicação científica de probióticos na Nature Medicine em 2007 e que, isolado ou em combinação com o Bifidobacterium lactis Bi-07, mostrou redução na incidência de sintomas de gripe e resfriados em amplo estudo com mais de 300 crianças, publicado no jornal científico Pediatrics em 2009.

As bactérias pertencentes ao gênero Lactobacillus, como o Lactobacillus rhamnosus GG e Bifidobacterium e, em menor escala, Enterococcus faecium, assim como os fermentados Saccharomyces boulardii, são as mais empregadas como suplementos probióticos para alimentos. “Estas bactérias, usadas em alimentos, foram isoladas de todas as porções do aparelho gastrointestinal de um humano saudável”, explica Mercúrio.
   
História


O termo probiótico é derivado do grego, que significa “para a vida”. O conceito de probiótico é usado desde os primeiros anos do século 20, quando o cientista russo Elie Metchnikoff, Nobel de Medicina de 1908 e um dos precursores da moderna biologia celular, ressaltava a importância da ingestão continuada de lactobacilos para a promoção da saúde em seu livro, hoje um clássico, "The Prolongation of Life. Optimistic Studies" (Londres, 1907).
    
Foi o próprio Metchnikoff que identificou, em 1905, o Lactobacillus bulgaricus e com ele desenvolveu um fermento que passou a ser largamente adicionado a produtos lácteos nos anos que se seguiram. Para formular suas idéias, Metchnikoff certamente tinha conhecimento de estudos do final do século 19, nos primórdios da microbiologia como ciência, que detectaram diferenças entre a flora intestinal de pessoas doentes e a de pessoas saudáveis, destacando dessa forma a importância dela para a manutenção do estado de saúde. “É um conceito com mais de 100 anos, mas que vem sendo estudado por especialistas atualmente”, avalia Teixeira.

Vigilância Sanitária

 A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) permite que empresas associem em seus rótulos a alegação que determinado microrganismo contribui para o equilíbrio da flora intestinal e que o seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis.

Os microrganismos permitidos pela Anvisa para alegação dessa propriedade funcional são: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei Shirota, Lactobacillus casei variedade rhamnosus, Lactobacillus casei variedade defensis, Lactobacillus paracasei, Lactococcus lactis, Bifidobacterium bifidum, Bifidobacterium animallis (incluindo a subespécie B. lactis), Bifidobacterium longum e Enterococcus faecium.

Além disso, a agência exige que a quantidade mínima de micro-organismos vivos deve estar situada na faixa de 108 a 109 (100 milhões a 1 bilhão) UFC (Unidades Formadoras de Colônias) na recomendação diária do produto pronto para o consumo, conforme indicação do fabricante. Valores menores podem ser aceitos, desde que a empresa comprove sua eficácia. A quantidade do probiótico em UFC, contida na recomendação diária do produto pronto para consumo, deve ser declarada no rótulo.

  • Os probióticos aumentam o exército de micro-organismos benéficos do nosso corpo