Ísis Valverde estrela campanha sobre intolerância permanente ao glúten
Na adolescência, a atriz Ísis Valverde descobriu que tinha uma intolerância permanente ao glúten, conhecida como doença celíaca. Ao ingerir alimentos que continham o complexo de proteínas (presente no trigo, cevada, aveia, malte e no centeio), o organismo de Ísis desencadeava uma reação inflamatória crônica no intestino delgado. Resultado: dores abdominais, queda de cabelo, diarreia.
Agora, a atriz é a estrela de uma campanha feita pela Fenacelbra (Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil) que tem o objetivo de auxiliar as pessoas a reconhecer a doença, que é genética e afeta em torno de dois milhões de pessoas no Brasil, embora a maioria ainda sem diagnóstico.
A atriz participa da campanha da Fenacelbra para alertar as pessoas sobre a doença
A doença, que interfere na absorção de nutrientes essenciais ao organismo, caracteriza-se por uma intolerância permanente à proteína. Assim, uma vez diagnosticada, o paciente nunca mais deve comer alimentos com glúten. Se a alimentação persistir com o glúten, as chances do processo inflamatório se espalhar e um possível câncer aparecer aumentam bastante.
LEI COMPLETA DEZ ANOS
Em 16 de maio de 2003, o governo sancionou uma lei que obrigava todos os alimentos industrializados a mostrar em seu rótulo ou bula as inscrições “Contém glúten” ou “Não contém glúten”, conforme o caso. É por conta dessa lei, que sempre encontramos as inscrições em caixa alta e negritadas nas embalagens no supermercado. Para os pacientes celíacos, vale ficar atento a caixas de remédio e cosméticos, já que eles também podem ter glúten em sua composição.
O grande problema para os pacientes celíacos é a dificuldade de diagnosticar a doença, principalmente em adultos, uma vez que os sintomas são variados e englobam desde os mais clássicos, como diarreia crônica, vômitos e dores abdominais, até doenças neurológicas, abortos repetidos e depressão. Para se ter uma ideia do “camaleão clínico” que é a doença, estima-se que um paciente celíaco leve cerca de um ano para ter um diagnóstico. Cerca de 1% da população mundial é celíaca e 95% dos doentes celíacos nos Estados Unidos não são diagnosticados.
Como fazer o diagnóstico?
Especialistas advertem que só se deve tirar a proteína da dieta os indivíduos que tenham a doença celíaca ou uma sensibilidade ao glúten comprovada por três exames básicos: dois de sangue e, posteriormente, uma endoscopia digestiva com biópsia do intestino delgado.
Conheça os sintomas da intolerância ao glúten*
- Diarreia crônica |
- Prisão de ventre crônica |
- Distensão abdominal |
- Vômitos |
- Dor abdominal |
- Depressão |
- Desnutrição com deficit de crescimento |
- Anemia ferropriva não curável |
- Emagrecimento e falta de apetite |
- Baixa estatura |
- Irritabilidade |
- Osteoporose |
- Mancha nos dentes |
- Infertilidade |
- Abortos |
- Doenças neurológicas |
*Obs: a pessoa pode apresentar apenas um sintoma ou um conjunto deles (Fonte: doencaceliaca.com.br) |
Como se trata de uma doença genética, que se manifesta em indivíduos pré-dispostos, também é importante que, uma vez detectada, outros membros da família façam os exames. “Costumo dizer que não existe um celíaco, mas uma família celíaca”, diz a doutora Lorete Kotze, especialista em gastroenterologia e autora de diversas publicações nacionais e internacionais sobre o tema, durante um congresso internacional de nutrição especializada que aconteceu em março, no Rio de Janeiro.
"Mesmo se a família não tem nenhum dos sintomas, é preciso fazer a investigação. A doença celíaca pode se manifestar em qualquer idade e, quando não tratada, potencializa o surgimento de outras doenças autoimunes. Já diagnosticamos a doença celíaca em uma senhora com mais de 70 anos, por exemplo", conta Kotze. Pesquisas indicam que a incidência da doença em parentes de primeiro grau é de 1 em cada 22 e 1 em cada 29 em parentes de segundo grau.
É preciso ficar atento, ainda, para os diferentes tipos de intolerância que o glúten pode causar. Um indivíduo pode ter sensibilidade ao glúten, que é quando o organismo não digere muito bem a proteína, mas não existe inflamação no intestino delgado. Também existe a alergia ao trigo (apenas), que causa a conhecida 'asma de padeiro'. E, por fim, a doença celíaca, que é crônica e os pacientes devem evitar o glúten pela vida toda.
Comer ou não comer glúten?
A dieta sem glúten é mais uma que está na moda e encabeçada por vários famosos que juram ter perdido peso. No Brasil, Juliana Paes e Luciana Gimenez são apenas algumas das celebridades que deixaram de comer a proteína e divulgaram os benefícios de uma dieta glúten-free.
No entanto, abandonar o glúten não é algo recomendado pela maioria dos especialistas, a menos que se tenha comprovado a doença celíaca ou a sensibilidade ao glúten. Para a médica Vera Lúcia Sdepanian, especialista em gastroenterologia e pesquisadora da Unifesp, tirar o glúten causa uma falsa impressão de que o emagrecimento se dá justamente por conta da proteína, quando, na verdade, está mais ligado ao carboidrato. “Quando a pessoa deixa de comer glúten, ela está, automaticamente, cortando pães, massas e doces de sua dieta”, explica a médica.
“Não faz sentido tirar o glúten da alimentação em outros casos. É preciso evitar restrições alimentares desnecessárias, porque o indivíduo pode correr o risco de piorar sua alimentação e até ficar desnutrido”, explica a médica, que é enfática ao dizer que só se deve ficar sem glúten após os exames comprovarem a intolerância. Segundo a médica, não se deve generalizar e dizer que o glúten faz bem ou faz mal para todo mundo. “Cada pessoa tem um metabolismo”, ressalta.
Para a nutricionista Noadia Lobão, hoje estamos consumindo muito mais glúten do que antes, fato que deixa a dieta em destaque. " O que acontece é que as pessoas estão comendo mais glúten que os nossos avós comiam, por exemplo. A farinha que usamos hoje tem mais glúten que as anteriores. Além disso, muitos pacientes reclamam que sentem mais fome depois de tirar ao glúten da alimentação. Isso acontece porque não basta apenas tirar o glúten, é preciso que os nutrientes sejam recuperados também", explica.
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