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Homens sofrem mais com pedra nos rins que mulheres? Veja mitos e verdades

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

29/11/2014 06h00

O cálculo renal, mais conhecido como pedras nos rins, não distingue cor, idade ou classe social, e recentemente, acometeu a funqueira Valesca Popozuda e o rei Pelé.

Embora a enfermidade seja conhecida popularmente com esse nome, as pedras podem se instalar em outras partes do trato urinário, ou seja, na bexiga, na uretra e nos ureteres.

O quadro é sempre lembrado pelas dores terríveis que causa na lombar e no abdome e costuma tem maior incidência entre homens ou entre aqueles que bebem pouca água e abusam do sal.

A dor forte aparece por causa da obstrução da via urinária provocada pela pedra, que bloqueia a passagem da urina e causa a dilatação do rim. Sua intensidade costuma ser comparada à dor do parto sem anestesia, capaz de causar vômitos e cólicas extremamente dolorosas.

O cálculo é formado geralmente por cristais de oxalato de cálcio eliminados pela urina, que ao se agruparem com o tempo formam as pedras. Quanto mais água a pessoa tomar, maior a chance de eliminar os cristais.

Se o indivíduo urina pouco, fruto da escassa ingestão de líquidos, os cristais tendem a se agrupar com mais facilidade e formar compostos sólidos de diferentes tamanhos nas vias urinárias. Há pessoas que tendem a absorver mais oxalato e cálcio do que a média e, consequentemente, seu organismo formará mais cristais.

Vitamina C é vilão

Para quem não tem o hábito de ingerir mais líquidos ou urina pouco, o ideal é evitar alimentos que facilitam a excreção de oxalato, como a vitamina C ingerida em cápsulas, ou alimentos que já contêm oxalato como espinafre, chocolate, chá mate e chá preto.

“O oxalato de cálcio é o tipo mais comum de cálculo e é produzido por metabolização hepática da vitamina C. Nas dietas acima de quatro gramas de vitamina C ao dia, há risco aumentado de cálculos. Por isso, quem tem propensão para formar pedras nos rins deve evitar automedicação com vitamina C”, afirma o urologista Jean Cristovão Guterres, da Fundação Pró-Rim.

Por outro lado, sucos de laranja e de limão, embora sejam fontes de vitamina C, contêm quantidades significantes de citrato de potássio, que evita a formação das pedras.

“A quantidade de vitamina C nos sucos não é muito grande, mas as bebidas têm bastante citrato, que protege contra a formação dos cristais de oxalato na urina”, afirma o nefrologista Daniel Rinaldi dos Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

Por muito tempo, os alimentos ricos em cálcio não eram recomendados com o intuito de evitar as pedras. Hoje, no entanto, há consenso de que eles são benéficos justamente pelo contrário.

“O oxalato é eliminado juntamente com o cálcio pela urina e pelas fezes. Quando se ingere pouco leite e derivados, haverá pouco cálcio para ser eliminado com o oxalato e, por sua vez, mais oxalato para os rins, aumentando a chance de criar pedras”, diz o nefrologista.

Sal e industrializados

Além da vitamina C, o consumo excessivo de sódio também pode ser um dos fatores de desenvolvimento do cálculo renal, pois favorece o aumento da excreção de cálcio na urina.

Para reduzir a quantidade de sódio na alimentação, o urologista recomenda diminuir as colheradas de sal no preparo da comida e a diminuição do consumo de alimentos processados ricos em sódio como embutidos, caldos prontos, molho shoyo, sopas de pacote e macarrão instantâneo.

Refrigerantes e sucos artificiais entram nesta lista dos vilões por também terem quantidade significativa de sódio.

Como tratar?

Não se sabe ao certo por que os homens sofrem mais com cálculos. Os especialistas indicam que má alimentação e um maior número em atividades manuais -- que fazem suar mais --, sem a devida reposição de líquidos, podem influenciar nos números.

Segundo o urologista da Pró-Rim, 10% dos meninos e 5% das meninas que nascem hoje, se chegarem aos 70 ou 80 anos terão cálculos renais.

Dependendo do tamanho destas pedras, elas podem ser removidas pela urina ou por cirurgia.

Cálculos de até cinco milímetros de diâmetro têm 85% de chance de serem eliminados espontaneamente através da urina, e os de até oito milímetros de 50%.

“A maioria dos cálculos renais pode ser eliminada através do sistema urinário com bastante água para ajudar a mover a pedra. E tomando medicação para dor, se necessário”, afirma o urologista.

Em casos de pedras maiores ou quando o quadro se agrava para uma infecção urinária, pode ser necessária a cirurgia endoscópica, que ‘quebram as pedras’, ou com corte, explica o nefrologista.