Fazer exercícios em calor acima de 30°C requer cuidados; veja quais
O verão tem registrado altas temperaturas desde o ano passado -- com recordes de calor no Rio de Janeiro e em São Paulo nesse ano. Com temperaturas acima dos 30°C, o exercício físico só deve ser feito se houver atenção a certos cuidados, para que não haja danos irreparáveis à saúde, segundo os especialistas. A temperatura corporal tende a aumentar quando se pratica exercícios físicos, o que aumenta também a quantidade de suor e, consequentemente, o risco de desidratação. Durante o exercício, o organismo, que normalmente fica em 36°C, pode chegar 37,5°C, temperatura semelhante a um estado febril.
Segundo José Luís Zabeu, ortopedista e professor da Faculdade de Medicina da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, a atividade física feita em qualquer intensidade gera calor, resultante da contração dos músculos do corpo. “Isso explica porque as pessoas suam quando praticam exercícios. E quanto maior o calor do ambiente, mais a temperatura se eleva”, diz.
Ao registrar a elevação da temperatura, o corpo aplica uma série de mecanismos para perder calor o mais rápido possível. “Se o corpo chegar aos 41°C, há risco de morte”, acrescenta Zabeu.
Por isso, o educador físico José Antônio Souza, conhecido como Zelão, pós-graduado em treinamento esportivo, aconselha a prática de exercícios apenas antes das 10h e depois das 17h. “É preciso ingerir bastante água porque o calor aumenta a sudorese e, consequentemente, a perda de líquido do corpo”, afirma Zelão, que treina equipes em atividades ao ar livre no Parque Ibirapuera (zona sul), Parque do Povo (zona oeste) e USP (zona oeste).
A corretora de imóveis Inês Salles Oliveira, 57, é uma dessas adeptas do exercício em parques da capital paulista. Ela conta que treina à noite justamente por causa do calor. “Eu treino desde setembro, então já estou habituada", diz. "O calor atrapalha um pouco, mas não me impede de fazer o exercício”.
Assim como seus colegas de treino, Inês presta muita atenção à hidratação do organismo. “Faço um treinamento pausado e tomo água a cada percurso, ou então um isotônico. Além disso, faço exercícios no parque, em um ambiente arborizado. Volto para casa mais tranquila. Apesar do calor, estou gostando bastante”, afirma.
Beber água é extremamente importante, segundo os especialistas, pois durante o treinamento, uma pessoa chega a perder entre 2% e 3% do volume de água do corpo, uma redução que acontece de maneira muito brusca, principalmente em dias de calor intenso.
A personal trainer Mariane Herdy afirma que, nessas condições, se o corpo sua muito e não há reposição da água perdida, o rendimento cai, assim como a capacidade de manter a temperatura. “Chamamos esse aquecimento de hipertermia e ele leva à redução do índice de sódio plasmático, ou seja, hiponatremia, o que pode causar problemas à saúde".
Quem se exercita em um dia de calor intenso e não se hidrata corre o risco de passar mal durante a atividade. “Dor de cabeça, tonturas, náuseas são os sintomas mais frequentes”, afirma o educador físico Zelão. Segundo ele, nesses casos o uso do isotônico é recomendado. “É uma substância de reposição, não é suco. Precisa ser ingerido com responsabilidade para repor o sódio, o potássio perdidos durante a atividade”, explica. O educador físico afirma que o isotônico deve ser ingerido “por goles”, enquanto o exercício é feito. “Nas nossas atividades, servimos aos alunos em pequenas quantidades, para evitar que eles bebam muito. A ingestão exagerada pode causar cálculos renais”, diz.
A redução da capacidade corporal, causada pela desidratação, pode levar também a lesões, de acordo José Luís Zabeu. “Quando o corpo trabalha sem a quantidade necessária de líquidos tende a não funcionar bem”, afirma.
Zabeu diz ainda que não é todo mundo que pode fazer exercícios quando as temperaturas estão altas. Ele divide os adeptos das atividades físicas em três grupos: pessoas que já possuem condicionamento físico e têm conhecimento maior sobre as capacidades do corpo; pessoas com boa saúde mas pouco condicionamento físico, que em ambientes propícios para exercícios tendem a abusar, se não possuem orientação profissional; e pessoas que não têm boa saúde, ou seja, sofrem de doenças crônicas, hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares.
“O risco de praticar exercícios físicos em dias de calor é muito maior para o segundo grupo do que para o primeiro. Por exemplo, um jogador de futebol consegue treinar às 13h sob o sol porque possui o condicionamento físico para isso”, afirma. Já sobre o terceiro grupo, o dos que não possuem boa saúde, Zabeu diz: “Essas pessoas não podem nem pensar em fazer exercícios físicos em dias muito quentes”.
Passou mal? O que fazer?
A principal recomendação para quem não se sentir bem ao praticar exercícios nessas condições é parar a atividade imediatamente. “Vá para a sombra, se deite e se hidrate devagar. O ato de deitar é importante porque permite uma recuperação mais rápida do organismo e a hidratação não pode ser muito rápida, pois pode causar um desequilíbrio no organismo. Se tiver um isotônico, é recomendado tomar”, explica o ortopedista e professor da Faculdade de Medicina da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, José Luís Zabeu.
Segundo ele, se a pessoa parecer desnorteada, é preciso levá-la imediatamente ao pronto socorro. “Significa que ela está bastante desidratada e precisará se hidratar por via venosa”, acrescenta.
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