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Romário defende que cirurgia experimental controversa seja feita pelo SUS

No Senado, Romário defende que cirurgia controversa seja oferecida pelo SUS - Reprodução
No Senado, Romário defende que cirurgia controversa seja oferecida pelo SUS Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

15/02/2017 19h27

O senador Romário (PSB-RJ) voltou à tribuna nesta quarta-feira (15) e usou seu tempo de discurso para defender a cirurgia não aprovada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e que levou pelo menos sete pessoas à morte. A cirurgia de interposição ileal para controlar o diabetes se tornou tema de discussão em todo o país após o ex-jogador aparecer 10 quilos mais magro nas redes sociais.

O CFM e outras entidades médicas a condenam por não ter a segurança atestada, principalmente em pacientes não obesos. 

A técnica foi desenvolvida pelo médico goiano Áureo Ludovico de Paula, a quem Romário homenageou em seu discurso. É considerada experimental, ou seja, só pode ser realizada seguindo critérios de pesquisa e não pode ser cobrada. O médico é processado por, ao menos, sete famílias de pacientes que morreram após a operação.

"Não sou profissional da medicina e só posso falar por mim mesmo, mas os resultados que alcancei me transformaram em porta-voz dessa causa”, disse Romário no Senado Federal. “Defendo que o Sistema Único de Saúde, o SUS, disponibilize essa cirurgia de forma gratuita a todos os brasileiros.”

Ele citou que o país é o quarto do mundo em número de diabéticos e que os custos de oferecer a cirurgia são menores do que os gastos com tratamento de doentes, sem apresentar números no entanto.

O médico Cid Pitombo, referência em cirurgia bariátrica e médico dos atores André Marques e Leandro Hassum, não recomenda o uso da técnica e alerta: "Por ser ainda uma pesquisa, pacientes não podem pagar pela interposição.”

A SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e a Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) reforçam que não há evidências que comprovem a eficácia do procedimento no tratamento da diabetes tipo 2 para pacientes com IMC  (Índice de Massa Corporal) abaixo de 35.

Médico é processado por mortes

Glória Grace Curado - Reprodução/Via Legal/TV Justiça - Reprodução/Via Legal/TV Justiça
Glória Graça Curado, que morreu em dezembro de 2016
Imagem: Reprodução/Via Legal/TV Justiça

Pelo menos sete famílias processam o médico Áureo Ludovico de Paula pela morte ou sequelas causadas em parentes devido a complicações da cirurgia. Uma delas é a da arquiteta

Em 2008, apesar de estar abaixo do peso ideal para sua altura, Glória estava com diabetes tipo 2 e resolveu fazer a mesma cirurgia que o senador Romário por acreditar que teria uma vida mais saudável.

Após a dieta restrita 2 meses depois da cirurgia, ela teve autorização para tomar água e não suportou a dor de estômago. Consultando-se com outro médico, soube que uma parte de seu estômago havia sido retirada.

Ela passou a se alimentar apenas de mingau e leite e morreu de infecção generalizada após desenvolver várias doenças relacionadas à má nutrição.

Em entrevista recente ao UOL, Ludovico afirmou que foi absolvido de todos os sete processos em conselhos regionais porque ficou demonstrado que não foi complicação da cirurgia, mas problemas inerentes ao diabetes ou à obesidade. Segundo ele, seus pacientes não devem fazer nenhum tratamento especial após a operação.

Bariátrica x interposição ileal

Tabela IMC - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

O diabetes tipo 2 surge quando o organismo não consegue usar a insulina que produz de forma adequada, ou produz insulina insuficiente para controlar a glicemia. A doença se manifesta na idade adulta por uma junção de predisposição genética, sedentarismo, obesidade e má alimentação.

No Brasil, a cirurgia bariátrica é regulamentada pelo CFM para pacientes com IMC (Índice de Massa Corporal) maior de 40 kg/m², ou seja, quem tem obesidade mórbida, e que não respondeu aos tratamentos com remédios e dieta/exercício por no mínimo dois anos.