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Dormir logo depois de comer é um hábito banal. Mas faz mal para o corpo?

A digestão fica mais lenta quando o indivíduo está em sono profundo - IStock
A digestão fica mais lenta quando o indivíduo está em sono profundo Imagem: IStock

André Carvalho

Do UOL, em São Paulo

19/04/2017 04h00

Quem nunca bateu aquele prato de comida tarde da noite e foi para a cama de barriga cheia? Mas quais as implicações deste hábito para o nosso corpo? Como ele reage a esse processo?

Após comermos, nosso corpo inicia o processo de digestão e absorção dos alimentos fazendo com que nosso organismo volte sua energia para esta atividade, dando prioridade para que esse processo seja feito. Se durante essa ação entramos em estado de sono profundo, nosso organismo entra em conflito, já que duas atividades importantes do corpo humano passam a ser realizadas simultaneamente.

"O ideal é evitar comer e imediatamente dormir”, explica o gastroenterologista Roberto Oliveira Dantas, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. 

Mulher dormindo, soneca, sesta - Thinkstock - Thinkstock
Tirar uma sesta após o almoço não prejudica a digestão
Imagem: Thinkstock
Quando dormimos e entramos no estágio de sono profundo, o funcionamento do aparelho digestivo torna-se mais lento e as reações de nosso organismo ocorrem de uma maneira menos espontânea, fazendo com que a absorção da comida não ocorra com a mesma velocidade que ocorreria em condições normais.

O gastroenterologista faz uma ressalva para alimentos leves, como frutas e bolos, que podem ser consumidos antes do sono sem grandes problemas.

Quanto tempo antes do sono comer?

Três horas é o tempo ideal para garantir uma digestão sem problemas antes do sono, principalmente para quem tem problemas como azia, queimação e gastrite.

A ação da melatonina, hormônio que regula o ciclo de sono e vigília em nosso organismo, também tem uma atuação importante nesse processo. À noite, somos programados para desacelerar e dormir.

"A melatonina avisa nosso corpo que é noite, e nosso corpo fica preparado para receber menos alimentos", afirma a nutricionista Ana Paula Del'Arco. Isso explica também porque nosso corpo está preparado para passar tantas horas sem receber alimento enquanto dormimos. 

E a sesta depois do almoço, pode? 

A sonolência que sentimos após a alimentação se dá pela necessidade do nosso organismo de se concentrar na digestão, já que ele precisa direcionar muito fluxo sanguíneo para realizar este processo. Assim, qualquer atividade física um esforço do corpo que atrapalharia esta função.

"O processo de digestão precisa de energia, precisa de trabalho do nosso corpo. Então ele começa a desligar outras coisas e isso vai dando sono, para você não ficar ativo. Aí ele pode se concentrar na digestão”, diz Del'Arco.

Mas e por que podemos fazer uma sesta --aquela soneca curta pós-almoço-- sem prejudicar o processo digestório? "A sesta é coisa rápida. Ocorre com um sono mais leve. É mais ficar parado do que dormir", explica Dantas, ressaltando que a digestão não é impactada neste estágio do sono.

Melhor não comer nada?

Dormir com a barriga cheia não é legal, mas tampouco com fome. “Se ficamos muito tempo em jejum antes de dormir, as reservas energéticas serão utilizadas mesmo no sono”, pontua a nutricionista.

Não é porque estamos dormindo que não estamos gastando energia, concorda o gastroenterologista Roberto Dantas. 

Comer assim que acordar

Depois de passar muitas horas sem comer, é necessário que haja uma reposição de energias pela manhã. Ou seja, precisamos tomar café da manhã logo depois de acordarmos.

Café; sono; café da manhã; insônia - Getty Images - Getty Images
Segundo especialistas, o ideal é tomar café da manhã logo ao despertar
Imagem: Getty Images
"Você ficou muito tempo sem comer e seu corpo precisa de alimento. O organismo está retomando totalmente suas atividades", alerta a nutricionista Ana Paula Del'Arco.

Mas e se você não tem fome? Mesmo assim, a recomendação dos especialistas ouvidos pela reportagem do UOL é: coma ao acordar, mesmo sem sentir fome.

"Ficar em jejum no momento que está ativo faz com que o corpo fale: 'opa, eu preciso repor [as energias] e você não está me dando'", afirma Del Arco. "Nem sempre a pessoa sente [fome]. A gente, às vezes, maltrata o corpo, faz coisas que não são o ideal”, diz Dantas.