Zuckerberg abandona ética e se junta a Trump para brecar custo da regulação
Um motivo é central na decisão de Mark Zuckerberg, o mundialmente conhecido fundador do Facebook, de abandonar a ética e se alinhar 100% ao trumpismo: dinheiro.
A regulamentação exigida principalmente pelos europeus é economicamente custosa para as plataformas.
É preciso contratar pessoas em diversas línguas para a moderação de conteúdo, investir bilhões no desenvolvimento de novos algoritmos, pagar times de advogados para lidar com a ameaça de multas e sanções.
Fica muito mais barato, portanto, apostar no discurso sem regras de Trump, falsamente embalado de "liberdade de expressão".
E aqui coloco entre aspas, porque o "dever de cuidado" solicitado pelos europeus protege a democracia e outros temas sensíveis, sem restringir a livre manifestação de ideias e de opinião.
Zuckerberg já vinha dando sinais de conversão ao trumpismo, mas, no vídeo divulgado nesta terça-feira (7), ele abraça todo o linguajar dessa corrente política ao chamar "moderação de conteúdo" de "censura".
Durante muito tempo, ele pediu desculpas à opinião pública americana pelos diversos danos provocados pelas redes sociais. Agora, cansou e deu um abraço simbólico em Elon Musk.
Vale ressaltar que as medidas anunciadas pelo dono da Meta não são apenas um gesto político para agradar o novo presidente americano, mas vão gerar resultados concretos de enfraquecimento dos já frágeis mecanismos de controle do mundo digital.
Não apenas asfixiam financeiramente as agências de checagem, que dependem das plataformas, como também pioram os filtros de desinformação. E vão além: Facebook e Instagram, que haviam se virado para o entretenimento, voltam a abraçar a política. Mas não qualquer política —o que deve surgir é mais conteúdo extremista.
Brasil
Para o Brasil, o recado não foi nem disfarçado. "Cortes secretas" é uma referência direta ao ministro Alexandre de Moraes e à derrubada de contas promovida por ele.
Existem, sim, muitas críticas à falta de transparência nos inquéritos e ninguém sabe ao certo quantas contas saíram do ar. No entanto, a Suprema Corte brasileira está longe de ser secreta, ao contrário de algumas "Cortes" americanas que "julgam" terroristas.
A fala de Zuckerberg também complica ainda mais a já acirrada polarização sobre o assunto por aqui.
No Congresso, que é o fórum adequado para discutir o tema, nada vai caminhar.
Já não tinha clima antes, por resistência da direita brasileira, agora menos ainda, com o Departamento de Estado americano trabalhando contra.
Enquanto isso, o Supremo tende a pesar a mão e produzir uma regulamentação draconiana, que pode até piorar as coisas.
Basta lembrar para onde caminhava o julgamento do artigo 19 do Marco Civil da Internet, invertendo a lógica e tendendo a derrubar publicações a rodo antes de consultar a Justiça.
Coube ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, lembrar o Brasil, em seu voto, de que investigações jornalísticas de um crime de corrupção, por exemplo, não devem ser censuradas —aí, sim, a palavra merece ser utilizada.
Resumindo: Enquanto Zuckerberg toma decisões pensando unicamente no lucro, aumentam os riscos para a democracia e para a liberdade de expressão no mundo inteiro.
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