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Mulher que foi chamada de "monstro" faz cirurgia após doações

Divulgação
Imagem: Divulgação

Eduardo Carneiro

Colaboração para o UOL

08/06/2017 17h38

Luciene Anselmo de Faria, 30 anos, carrega no rosto um novo sorriso. Não só um sorriso mais bonito, mas também um sorriso que estampa a felicidade de quem começa a viver alegrias depois de muito tempo sofrendo com comentários e brincadeiras maldosos.

Natural de Peruíbe, Luciene nasceu com a síndrome de microssomia hemifacial, caracterizada por deformidades assimétricas do rosto. O valor do tratamento foi sempre algo fora de sua realidade. Muito por causa do problema que possuía, ela não concluiu os estudos e nem arrumou emprego.

O bullying, porém, acompanhou Luciene da infância à vida adulta. “Já me chamaram de bruxa de Halloween quando eu passei maquiagem, já falaram que eu só iria conseguir arrumar serviço se fosse numa loja de monstras... Numa entrevista de emprego, chegaram a me dizer que entre a perfeita e a imperfeita, eles escolheriam a perfeita”, lamenta ela ao UOL.

O sofrimento se estendia à vida familiar. Luciene conta que uma ofensa de sua ex-sogra, dita depois de uma briga sua com o então marido, fez ela tomar a decisão de buscar ajuda. “Ela dizia para ele: ‘tanta mulher bonita e você foi escolher logo essa, cheia de defeito’”.

À época, Luciene soube que o dentista Wagner Nascimento daria uma palestra numa universidade em Santos. Terminado o evento, ela e outras pessoas abordaram o profissional para tirar dúvidas. “Ninguém ali tinha um caso parecido com o meu, mas perguntei a ele se tinha tratamento e ele me encaminhou ao doutor Alessandro”, explica.

Doações e cirurgia

Doutor Alessandro é como ela se refere ao dentista Alessandro Silva. O profissional, dono de uma formação que inclui mestrados, doutorado e fellowship em instituições como Unesp, USP, Unicamp e University of Pacific (EUA), tem como especialidade a traumatologia buco-maxilo-facial.

Alessandro recebeu Luciene em seu consultório e se sensibilizou com sua história. Decidiu então contatar Marcelo Quintela, especialista em Ortopedia Funcional dos Maxilares e em Ortodontia e Ortopedia Facial. Ambos já haviam trabalhado juntos em casos de pessoas que, assim como a nova paciente, não tinham condições financeiras de se tratar.

Alessandro e Marcelo iniciaram então uma mobilização. Contataram profissionais da área, organizaram uma campanha de recursos, centralizados no Instituto Religar, e prepararam Luciene para a cirurgia que reconstruiria sua face.

“Era dinheiro não só para medicação, mas para pagar passagens, exames que o plano não cobria... Tiramos muito dinheiro do bolso, mas não me importa. O importante é estimular as pessoas a buscarem tratamento, a contribuírem e depois a continuar contribuindo”, afirma Alessandro ao UOL.

Luciene usou um aparelho ortodôntico especial durante um ano e meio. Até que no último dia 6 de abril, num hospital de Santos, passou por uma cirurgia de cerca de 11 horas que resultou no seu novo sorriso.

Vida nova

Alessandro, que comandou a operação, ficou satisfeito com o resultado. “Meu objetivo principal desde o início neste caso era que ela fosse aceita socialmente.
Queria que não olhassem mais duas vezes para ela na rua e pensassem: ‘que mulher estranha’. O resultado foi muito do que planejei. Ela está mais bonita”.

Luciene Anselmo de Faria, 30 anos, carrega no rosto um novo sorriso - Alessandro Silva/Divulgação - Alessandro Silva/Divulgação
Imagem: Alessandro Silva/Divulgação


Luciene, é claro, também ficou feliz. “Feliz e preocupada”, ressalta. “Há um longo caminho pela frente”, complementa, ciente de que terá que continuar uma reabilitação funcional, que inclui sessões de fonoaudiologia e fisioterapia – tudo com profissionais que embarcaram no projeto de Alessandro e Marcelo e ajudam voluntariamente.

Separada, mãe de uma menina de nove anos e de um menino de sete (“os dois falaram que estou mais bonita”), Luciene se prepara para mais uma mudança. E outra mudança para melhor: a sonhada oportunidade de trabalho chegou um mês depois da cirurgia, e ela partirá para o Rio de Janeiro para trabalhar como atendente de uma empresa de telefonia celular. “Acredito que eu possa ser um exemplo pra outras pessoas”, conclui.