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Saúde aponta risco de surto de dengue, zika e chikungunya em 357 cidades

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

28/11/2017 15h20

Há ao menos 357 municípios brasileiros em situação de risco de surto de dengue, zika e chikungunya, segundo o LIRAa (Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti), divulgado pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (28). Outras 1.139 cidades estão em estado de alerta, entre elas 9 capitais: Maceió, Manaus, Salvador, Vitória, Recife, Natal, Porto Velho, Aracaju e São Luís.

Das 5.570 cidades de todo o país, 3.946 enviaram dados para o levantamento. Entre as capitais que ficaram de fora do estudo e, assim, não sabemos as condições de infestação de suas casas estão São Paulo, Brasília, Belém, Boa Vista, Porto Alegre, Florianópolis, Campo Grande, Cuiabá e Rio Branco. 

As cidades em que mais de 9% das casas visitadas continham larvas do Aedes aegypti --mosquito responsável pela transmissão da dengue, zika e chikungunya-- são classificadas como risco. Em alerta, são consideradas aquelas com índice de infestação de mosquitos nos imóveis entre 1% a 3,9%. 

Os resultados, como aponta o Ministério da Saúde, reforçam a necessidade de intensificar imediatamente as ações de prevenção contra a dengue, zika e chikungunya.

O armazenamento de água no nível do solo (doméstico), como tonel, barril e tina, foi o principal tipo de criadouro nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. Nas regiões Norte e Sul o maior número de depósitos encontrados foi em lixo, como recipientes plásticos, garrafas PET, latas, sucatas e entulhos de construção. Na região Sudeste predominou os depósitos móveis, caracterizados por vasos/frascos com água e pratos.

Segundo o Mapa da Dengue, como é popularmente chamado o LIRAa, estão com índices satisfatórios (menos de 1% das casas com infestação) os municípios de Macapá, Fortaleza, Goiânia, Belo Horizonte, João Pessoa, Teresina, Curitiba, Rio de Janeiro e Palmas.

Cuidados são necessários em todos os municípios

Como aponta Pedro Tauil, professor do núcleo de Medicina Tropical da UnB (Universidade de Brasília), os índices de infestação do Aedes aegypti não garantem com precisão se a presença do mosquito vai ser capaz de manter ou não a transmissão de dengue, zika, chikungunya e até febre amarela urbana.  Segundo ele, todos os municípios com infestação --em maior ou menor intensidade-- devem investir no trabalho de prevenção. 

"Lógico que o alerta é maior nas regiões de maior intensidade. Mas é o trabalho preventivo que vai determinar o tamanho da epidemia", ressalta Tauil. "Uma pessoa pode ser infectada por um mosquito reproduzido em uma tampinha de refrigerante ou em uma piscina, junto com muitos outros."

O Aedes aegypti é atraído por altas temperaturas, baixas altitudes e muita chuva ou água parada, de acordo com Tauil. E, como acrescenta Paulo Roberto Urbinatti, pesquisador do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), há fatores que contribuem ainda mais para essa proliferação.

"A mudança climática é um deles, já que o aquecimento global tem possibilitado a sobrevivência do mosquito durante o ano inteiro, antes restrito ao verão", aponta ele, que cita ainda a falta de educação ambiental, a ineficiência na coleta de resíduos sólidos e a falta de abastecimento de água. "A erradicação do mosquito é irreal. É perfeitamente possível estar no controle."

2018 em alerta

A expectativa é que a epidemia de dengue, zika e chikungunya no país em 2018 seja pior do que a de 2017, mas bem menos intensa do que a de 2015 e 2016, segundo Claudio Maierovitch, sanitarista da Fiocruz de Brasília e ex-diretor de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.

"O ano de 2017 foi diferente dos outros [2016 e 2015], com níveis de transmissão bem mais baixos. Isso é reflexo do trabalho de prevenção iniciado no final de 2015, quando foi declarado nacionalmente emergência à saúde pública, e que produziu efeitos importantes em 2017", afirma Henriques, que diz acreditar que o fator clima também "favoreceu significativamente" a redução nos níveis de transmissões.

Até 11 de novembro de 2017, segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 239.076 casos prováveis de dengue, com 122 mortes. Nos últimos dois anos, os números chegaram a 1.483.623 (2015) e 1.688.688 (2016). Em 2017 (até novembro), ocorreram ainda 184.458 casos de chikungunya e outros 16.870 casos de zika. No mesmo período de 2016, os índices foram de 271.637 e 214.126, respectivamente. 

Henriques disse estar bastante preocupado com 2018.

Com a diminuição dos casos pelo Brasil, há um grande risco no relaxamento com os trabalhos preventivos, que são essenciais para evitar uma nova epidemia. Não tenho visto um grande trabalho de comunicação relativo a essa prevenção."

"Na medida que se fala menos da doença, os cuidados acabam passando desapercebidos. Aconteceu isso no passado com a malária, que de 2006 até o ano passado estava estável, mas que esse ano subiu. E o meu receio é que isso aconteça em 2018 com a dengue, a zika e a chikungunya", apontou ele. 

O grande receio é que a zika e a chikungunya --que afetou muito mais o Nordeste do país-- chegue com maior intensidade nos Estados antes menos afetados. "Há ainda a possibilidade de uma transição no tipo do vírus da dengue [tipo 1, 2, 3, e 4]. Se no ano passado o tipo 1, por exemplo, foi o responsável pela transmissão da doença em determinado Estado, pode ser que nesse ano a localidade seja atingida pelo tipo 2, 3 ou 4 e gerar uma nova epidemia."

Isso porque as pessoas infectadas pelo vírus tipo 1 da dengue, por exemplo, são imunes exclusivamente a ele, mas não a os outros 3 tipos.