Com greve, hospitais cancelam cirurgias eletivas e entidades vão à Justiça
A greve dos caminhoneiros, que já dura cinco dias, tem causado efeitos "catastróficos" no sistema de saúde, afirma Tércio Egon Paulo Kasten, presidente da CNS (Confederação Nacional da Saúde). Segundo ele, os atendimentos de urgência e emergência estão mantidos pelo menos dentro dos próximos três dias, mas as cirurgias eletivas --aquelas agendadas -- já começaram a ser canceladas.
A CNS, que se diz favorável ao movimento dos caminhoneiros, pede o bom senso dos grevistas para evitar que a situação se agrave. "Estamos falando da falta de produtos essenciais para a assistência segura à saúde de todos os brasileiros --incluindo os grevistas e seus familiares", diz Kasten, que fala na falta de medicamentos, oxigênios, insumos, combustíveis [essencial para o abastecimento dos geradores e das ambulâncias] e até da entrega das roupas de cama higienizadas.
"Que os caminhoneiros tenham consciência do risco que isso representa e que, antes de impedirem a passagem dos caminhões, saibam a procedência do carregamento"
Térgio Kasten, presidente da CNS
Para garantir o abastecimento dos hospitais e serviços de saúde, a Fehoesp (Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo) e o Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo) entraram com um pedido de liminar na Justiça Federal nesta quinta-feira (25).
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Na ação, as entidades pedem que o movimento grevista libere a circulação de caminhões, que transportem produtos para estabelecimentos de saúde em todo território nacional. Serão notificados a União e todas as entidades representativas dos caminhoneiros.
"Queremos garantir que a União faça cumprir a liminar que certamente obteremos e que as lideranças sejam também notificadas para cumprimento imediato sob risco de multas diárias", informa o presidente da Fehoesp, Yussif Ali Mere Jr., que indica que hospitais e serviços de saúde de todo Estado estão em estado de alerta.
De acordo com ele, a situação dos hospitais está no "limite" e o atendimento médico-hospitalar já está sofrendo reduções. "Caso a greve persista no fim de semana será o caos. A maioria dos hospitais precisa repor oxigênio entre segunda-feira e terça-feira, pois as reposições ocorrem semanalmente salvo exceções", alerta o presidente, que alerta ainda a falta de alimentos.
Os serviços de saúde trabalham com estoques e na área de alimentos, os nutricionistas estão sendo obrigados a mudar o cardápio ou procurar novos fornecedores para manter as refeições.
Hospitais cancelam cirurgias
Em nota, as entidades informaram que, no Grupo Policlin, em São José dos Campos, houve o cancelamento de ao menos três cirurgias esta semana por causa do atraso da entrega de materiais.
A Santa Casa de São Carlos e o Hospital Samaritano de Sorocaba cancelaram as cirurgias que estavam marcadas a partir desta sexta-feira por causa do desabastecimento de insumos hospitalares. Já no Hospital Santo Antônio, de Votorantim, as cirurgias eletivas de segunda-feira (28) foram canceladas.
Na região de São José do Rio Preto, os estoques ainda duram este fim de semana com exceção do Hospital do Coração que poderá cancelar cirurgia por falta de oxigênio na sala específica de cirurgia cardíaca.
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Em São Paulo, o Hospital Premier, de cuidados paliativos, possui oxigênio somente até terça-feira (29). "Estão com estoques de medicamentos no limite. Se entregas de insumos e oxigênio não acontecerem até segunda-feira, a situação será de guerra", destacou a Fehoesp.
Serviços de home cares, que dependem de oxigênio, antibióticos e medicamentos de alta complexidade mudaram a rotina. Enfermeiros que faziam visitas duas a três vezes por semana aos pacientes estão em plantão na sede, pois não há combustível para visitas. Em Santos, a empresa de home care Saúde Care, por exemplo, está com falta de medicamentos e nem conseguem fazer a entrega por falta de combustível.
Danos além dos hospitais
As clínicas de diálise, que fazem o tratamento de terapia renal substitutiva e mantêm a vida de mais de 110 mil pacientes renais, também começam a ser afetadas pela greve dos caminhoneiros.
Segundo a ABCDT (Associação Brasileira dos Centros de diálise e Transplante), em Governador Valadares (MG), as clínicas já estão em alerta, pois os insumos estão chegando ao fim e um caminhão carregado com capilares está parado em um dos bloqueios.
Já, em Nova Friburgo (RJ) e na capital fluminense, as clínicas já foram obrigadas a reduzir de quatro para três o número de horas da sessão de hemodiálise. As secretarias de saúde estadual, municipal e o ministério público já foram notificadas.
A Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica) também notifica a ausência de insumos para realização de exames em instituições diagnósticas e hospitalares de todas as regiões brasileiras.
A ausência, segundo o órgão, afeta diretamente o apoio a pacientes que estão sendo submetidos a processo de investigação e tratamento de doenças que necessitam de intervenção imediata e contínua, como os casos oncológicos. (*Com informações da Agência Estado)
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