O sarampo voltou: Se você tem menos de 50 anos, é melhor se vacinar
O último surto de sarampo no Brasil foi registrado há mais de quatro anos. Em 2014, 211 pessoas foram infectadas no Ceará. Desde então, o país só ouviu falar da doença em 2016, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) certificou o Brasil por eliminar a circulação do vírus. Em 2018, no entanto, os surtos voltaram. O conselho de antigamente também: é melhor se vacinar.
A primeira suspeita de sarampo foi registrada em janeiro a partir de pacientes venezuelanos que chegaram ao Brasil fugindo da pobreza e da crise no país vizinho. Em pouco tempo, o Ministério da Saúde registrava surtos em Roraima e no Amazonas, onde a vacinação estava muito abaixo dos 95% recomendados. Nos dois estados, quem mais sofreu foram as crianças de seis meses a quatro anos, inclusive com casos fatais.
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“Todos os casos recentes no Brasil ocorreram a partir do contato de uma pessoa não imunizada adequadamente com um indivíduo infectado em outro país”, explicou ao UOL o médico Juarez Cunha, diretor da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações). “Essa dinâmica é facilitada se as coberturas vacinais forem abaixo de 95%. Não registramos casos autóctones [internos do Brasil] desde 2000.”
Acontece que os casos não pararam de crescer. Até o dia 17 de julho, 444 casos foram confirmados no Amazonas e 2.529 estavam sob investigação. Em Roraima, 216 confirmações e 160 ocorrências em investigação.
Até o momento, o Rio de Janeiro informou 33 suspeições e sete confirmações. Mas alguns casos foram identificados em outras localidades: São Paulo (1), Rio Grande do Sul (8) e Rondônia (1). A solução encontrada pelo governo foi convocar uma campanha de vacinação para agosto, e não será apenas para crianças: se você tiver menos de 50 anos e não tiver tido a doença, é melhor se vacinar.
A campanha vai de 6 a 31 de agosto. O dia 18 de agosto será o dia de mobilização nacional, apelidado de "Dia D". Nessa semana, as crianças devem ser levadas aos serviços de saúde mesmo que tenham sido vacinadas anteriormente.
Segundo estudo publicado pela revista “Science” em 2015, além do risco de morte, o sarampo pode afetar o sistema imunológico por até três anos, expondo os sobreviventes a um risco maior de contrair outras doenças infecciosas e mesmo mortais. “A doença é capaz de causar complicações neurológicas, como meningite e encefalite, que podem levar a sequelas. Destacam-se a cegueira e quadros neurológicos crônicos, a exemplo da paralisia cerebral e convulsões”, explica o diretor da Sbim.
Abaixo, confira algumas respostas para as principais dúvidas sobre o sarampo:
Transmissão
Ocorre diretamente de uma pessoa para outra, seja por secreções do nariz ou da boca expelidas ao tossir, respirar ou falar. Para interromper a transmissão do sarampo é preciso que 95% da população esteja vacinada. Portanto, todas as crianças, adolescentes e adultos precisam se certificar de que estão com a caderneta de vacinação em dia. “Como o contágio é semelhante ao da gripe, vale evitar o contato desnecessário com o doente, lavar as mãos com frequência e manter o ambiente arejado”, orienta o médico.
Sintomas
Os primeiros sintomas são febre alta, tosse, coriza, conjuntivite, dificuldade de olhar para a luz e lacrimejamento. No quarto dia de sintomas surge o exantema, as manchas na pele de coloração avermelhada que, em três dias, atingem todo o corpo. A febre então fica alta e pode chegar a 38,5°C.
Elas surgem cerca de 14 dias após a exposição ao vírus, e o contágio ocorre de quatro dias antes a quatro dias após o aparecimento das lesões na pele. A fase crítica acontece quando o paciente contrai alguma infecção viral ou bacteriana. O risco de morte é real em crianças até os 2 anos de idade. “Especialmente as desnutridas”, explica o médico da Sbim. “Adultos e adolescentes também podem apresentar quadros graves.”
Diagnóstico
O vírus do sarampo pode ser identificado na urina, nas secreções nasais, no sangue ou mesmo em tecidos da pele. As amostras devem ser coletadas até o quinto dia a partir do início das manchas, mas o ideal é que isso ocorra nos três primeiros dias.
Tratamento
Embora não exista tratamento específico, é importante procurar assistência médica para saber quais estratégias de suporte deverão ser adotadas. “Hidratação, suplementação de vitamina A e antitérmicos, por exemplo, além de tratar eventuais complicações”, explica Cunha. “A doença é potencialmente grave e não deve ser ignorada.”
Vacinação
Na rede pública, são utilizadas vacinas tríplices virais (sarampo, caxumba e rubéola). Para crianças com menos de 5 anos, também está disponível a vacina tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).
Quem deve tomar a vacina?
As crianças recebem duas doses aos 12 e 15 meses de idade. Quem não foi vacinado na infância deve ser vacinado a qualquer momento: duas doses com intervalo mínimo de 30 dias entre elas.
Como a maioria das pessoas com 50 anos ou mais provavelmente já teve sarampo, o Ministério da Saúde disponibiliza duas doses da vacina para todos até 29 anos de idade e dose única para aqueles entre 30 e 49 anos. Pessoas que já tiveram a doença não precisam se vacinar, mas, em caso de dúvida, a vacinação não é contraindicada.
Para quem a vacina é proibida?
A imunização não é recomendada para gestantes. “Há risco teórico de danos ao feto. Mas, apesar de a vacina não ser indicada, diversos estudos com mulheres que se vacinaram sem saber que estavam grávidas não constataram prejuízos aos bebês”, diz o especialista.
Pessoas com baixa resistência em razão de alguma doença ou uso de medicação também não podem receber a dose. O mesmo vale para crianças expostas ou infectadas pelo HIV e paciente com alergia grave após aplicação de dose anterior da vacina. Adultos com HIV precisam procurar orientação médica, enquanto pessoas em quimioterapia antineoplásica só devem ser vacinadas três meses após o tratamento.
A OMS contabilizou 7 milhões de casos em 2016 com 90 mil mortes em todo o mundo. “O sarampo é mais comum e grave nos países em desenvolvimento, que não têm programas de imunização e vigilância epidemiológica bem estruturados, especialmente na África e Ásia”, diz o médico.
Mas isso não significa que regiões mais ricas estejam livres da doença. A Europa, onde apenas quatro países atingiram 95% de cobertura para as duas doses da vacina, enfrenta uma grande epidemia, com mais de 20 mil casos notificados no último ano.
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