Topo

6 em 10 brasileiros não sabem o que é insuficiência cardíaca, revela estudo

O transplante de coração é opção aos pacientes com insuficiência cardíaca - Getty Images
O transplante de coração é opção aos pacientes com insuficiência cardíaca Imagem: Getty Images

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

27/09/2018 04h00

A dificuldade de um coração bombear sangue para o resto do corpo é uma doença que afeta 3 milhões de brasileiros. Embora mais letal do que o câncer de próstata e de mama, a enfermidade segue desconhecida do brasileiro: pesquisa inédita divulgada nesta quinta-feira (26) pelo laboratório Novartis revela que 62% da população não sabem o que é insuficiência cardíaca. 

Esse nível de desconhecimento pode ser ainda maior. O estudo, produzido pela Ipsos (um instituto francês de pesquisa), informa que apenas 2% de quem declarou conhecer a doença souberam descrevê-la corretamente.

Leia também:

Outros 33% acreditam que a enfermidade tem cura, o que não é verdade. O desconhecimento da população é tamanho que 35% dos brasileiros acreditam que o câncer de mama (23%) e de próstata (12%) são mais letais do que a insuficiência cardíaca.

“Muito se falou em Aids e câncer, mas o governo e a sociedade falam pouco desta doença, que mata mais do que a grande maioria dos cânceres”, afirma o cardiologista Paulo Bertini, do Fellow American College of Cardiology. “Ela é a via final de outras doenças como hipertensão arterial, infarto do miocárdio, diabetes, arritmias. Tende a ser evolutiva, o que dificulta o entendimento.”

Sem cuidado

Outro dado alarmante é a falta de cuidados preventivos por parte dos brasileiros. Metade da população nunca foi ao cardiologista e 12% das pessoas com mais de 45 anos não pisou em um consultório nos últimos 10 anos.

O dado é alarmante uma vez que 50% dos pacientes não sobrevivem após cinco anos do diagnóstico. “Casos mais graves têm taxa de até 20% de mortalidade em 1 ano. Estima-se que perto de 100% dos pacientes que se internaram por insuficiência cardíaca aguda não sobrevivam por 10 anos.”

Aos que desconfiam de que sofre com a doença, a recomendação é vigiar os sintomas: falta de ar para atividades físicas, tosse persistente e inchaço nos tornozelos e pés. “Geralmente há progressiva redução das atividades habituais como subir escadas, caminhar, trabalho domiciliar, afetando inclusive atividades simples como jardinagem e atividades sexuais”, diz o médico.

Cerca de 71% dos entrevistados concordam com a afirmação de que a doença não atinge apenas pessoas com mais de 60 anos. “Mas como atinge mais pessoas idosas, estas naturalmente se autolimitam, levando à falsa estabilidade. Por este motivo é muito importante o diagnóstico precoce com tratamento adequado.”

Homens e mulheres

A doença é mais frequente entre os homens, principalmente pela maior incidência de doenças coronarianas, como infarto e hipertensão não tratada. “As mulheres se cuidam mais e o hormônio feminino as protege de doenças cardíacas. Porém, a vida moderna, com tabagismo e estresse, tem propiciado aumento na incidência destas doenças também entre o sexo feminino”, afirma o cardiologista, que também é diretor do MEDCOR Centro Cardiológico.

O instituto estima em R$ 22 bilhões os custos dessa enfermidade para os cofres públicos. O cálculo leva em conta as despesas para o sistema de saúde e a redução da produtividade da população economicamente ativa.

O estudo ouviu em domicílio 1.200 pessoas com mais de 16 anos em 72 municípios do Brasil. A margem de erro de 3 pontos percentuais.