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Sofrendo com a mesma doença, 2 bebês ganham novo coração no interior de SP

Coração é preparado para a cirurgia no Hospital da Criança e Maternidade, em São José do Rio Preto (SP) - Divulgação
Coração é preparado para a cirurgia no Hospital da Criança e Maternidade, em São José do Rio Preto (SP) Imagem: Divulgação

Simone Machado

Colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto (SP)

25/02/2019 04h00

Demilso Gonzaga, 32, é pai do pequeno João Pedro, de dez meses, que sofre de miocardia dilatada e precisava de um transplante de coração.

A doença impede que o órgão bombeie sangue de forma adequada, fazendo com que a musculatura do coração enfraqueça e se dilate.

A família, que é de Ji-Paraná (RO), mudou-se para São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, para tratar a criança.

Internado há 93 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital da Criança e Maternidade, o menino teve o estado de saúde agravado na última semana.

Estava entubado e recebendo altas doses de medicação. Ainda assim seus rins e o intestino começaram a falhar. Um transplante era sua única chance.

O bebê João Pedro Gonzaga precisava de um transplante de coração - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O bebê João Pedro Gonzaga precisava de um transplante de coração
Imagem: Arquivo pessoal

O desespero bateu e o pai do menino passou a noite da última terça-feira (19) acordado. Sentado no sofá do pequeno imóvel alugado pela família, a mais de 3.000 km de casa, o desempregado pedia a Deus uma solução. 

Nas primeiras horas do dia seguinte, Demilso voltava ao hospital, rotina que se repete há quatro meses, quando João Pedro foi diagnosticado.

Na sala de espera, encontrou a dona de casa Karina Cristina da Silva, 17, com quem divide dias de sofrimento. A filha dela, Emanuelly Vitória da Silva Pinheiro, tem 10 meses e a mesma doença de João Pedro. Também veio de outra cidade, São Carlos (SP), após descobrirem o problema, logo nos primeiros meses de vida do bebê.

Ambos esperavam pelo mesmo milagre: um novo coração. 

Karina recebeu a boa notícia primeiro. Na manhã de quarta-feira, a pequena Emanuelly entrou na sala de cirurgia. O órgão havia sido doado por uma família de Tatuapé, zona leste de São Paulo, e pertencia a uma criança que morreu em decorrência de problemas neurológicos.

"Fiquei muito feliz por elas, afinal vivíamos uma rotina muito parecida no hospital. Uma criança estava sendo salva. E ainda brincamos, falei que naquele momento era a filha dela que receberia o coração e logo chegaria a vez do João Pedro", conta Demilso.

Emanuelly Vitória da Silva Pinheiro, diagnosticada aos três meses de idade com miocardia dilatada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Emanuelly Vitória da Silva Pinheiro, diagnosticada aos três meses de idade com miocardia dilatada
Imagem: Arquivo pessoal
Aconteceu mais rápido do que ele poderia prever, menos de 12 horas depois daquela conversa.

Emanuelly ainda estava no centro cirúrgico quando veio a notícia da doação de mais um coração, vindo de uma criança em Maringá, no Paraná, que era compatível com João Pedro.

"Foi uma alegria dupla, ver a minha filha e o João Pedro conseguirem as doações. Pudemos comemorar juntos", diz Karina.

Cirurgias envolveram 140 pessoas

As equipes médicas, com cerca de 140 pessoas envolvidas, tiveram de correr contra o tempo. Um coração fora do corpo dura apenas quatro horas. A distância era grande: 1.700 km para buscar os órgãos. 

"É uma gratidão muito grande. Tive a sorte de encontrar pessoas comprometidas e envolvidas", disse o cirurgião responsável pelos transplantes Ulisses Croti, durante entrevista à imprensa.

"É um trabalho de várias equipes. Enquanto uma busca o órgão, outra vai preparando o centro cirúrgico e uma terceira já vai fazendo os primeiros procedimentos para que a hora que o órgão chegue e o paciente já esteja pronto para recebê-lo", explica Alexandra Regina Barufi, cardiologista pediátrica e chefe do setor de transplantes do hospital.

Ainda vai levar alguns meses para que ambos deixem o hospital. As duas crianças se recuperam na UTI.

Mais estável, Emanuelly não está sedada e respira sem a ajuda de aparelhos. João Pedro requer um pouco mais de cuidados. Como estava em situação grave antes da cirurgia, ainda está sedado e ligado a aparelhos.

Mas o sentimento dos pais agora reflete otimismo. "É uma alegria enorme. Não dá nem para descrever. Ainda não consigo acreditar que meu filho vai poder ter uma vida normal", afirma Demilso.