Prefeitura de SP reorganiza Samu, e médicos temem que serviço perca rapidez
Há um mês, a prefeitura de São Paulo começou a realocar bases de onde partem as ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), sob o argumento de ampliar o número de postos. Mas os médicos dizem que os locais escolhidos têm problemas de acesso e colocam em risco a agilidade nas saídas -- o que é indesejado para os resgates.
Em protesto, médicos, enfermeiros e outros funcionários do Samu anunciaram uma paralisação para a segunda-feira (1º) -- data estipulada para o fechamento definitivo de 31 das 58 bases do serviço.
Um médico do Samu disse à reportagem, sob condição de anonimato, que cerca de 10% da categoria deve aderir à paralisação, e o atendimento não deve ser prejudicado. Os profissionais têm medo de se identificar por temerem retaliações da prefeitura.
A Secretaria Municipal de Saúde diz que as críticas ao processo de reestruturação do Samu "interessam somente a quem privilegia interesses particulares em detrimento dos interesses da coletividade".
Mudanças
A reestruturação vai fechar as chamadas "bases modulares" - contêineres instalados em terrenos que abrigam as equipes. Segundo a prefeitura, novas bases serão abertas e chegarão a 78 até 2020. Os profissionais que atuavam nas bases modulares estão sendo transferidos para salas em hospitais e outras unidades de saúde.
Os médicos, porém, dizem que os novos locais não oferecem condições logísticas para a operação.
"Um hospital não é um lugar apropriado para se ter essas bases, o local dificulta a operação das ambulâncias. Nas bases, as ambulâncias ficam posicionadas em frente ao portão para saírem o mais rápido possível", disse à reportagem um médico que trabalha há mais de 20 anos no Samu.
"Quando se trata de salvar uma vida, cada segundo é importante. No entorno do hospital, a ambulância se depara com um carro que está levando um paciente idoso, ou uma pessoa que acabou de ser imobilizada. Não é próprio para a agilidade que a ambulância precisa ter", argumenta.
Vídeos e fotografias obtidos pelo UOL mostram algumas dessas situações.
Uma das gravações exibe uma ambulância com dificuldades para sair do estacionamento do Pronto-socorro Municipal Bandeirantes, no Butantã. A equipe do Samu não conseguiu socorrer um paciente que sofria uma parada cardiorrespiratória.
"A saída do hospital estava congestionada. Demoraram 15 minutos para conseguirem sair do estacionamento", disse o médico do Samu à reportagem.
Os profissionais dizem que as bases que serão fechadas estão próximas aos locais que registram grande volume de solicitações de atendimento e afirmam que esse planejamento foi ignorado pela reestruturação. A prefeitura nega.
"Vão ser menos ambulâncias atendendo mais longe das ocorrências", diz Gerson Salvador, diretor do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo), em nota enviada à reportagem.
O maior tempo de espera poderá resultar em mortes. A economia do município não deveria custar a vida das pessoas
Gerson Salvador, diretor do Simesp
Insalubridade
Os profissionais também reclamam das condições dos novos locais de trabalho -- muitas vezes, salas ociosas em hospitais com estrutura precária.
As bases modulares que estão sendo fechadas têm quartos, banheiros com vestiários, cozinha, salas para refeições, locais específicos para limpeza e esterilização da ambulância e dos funcionários, almoxarifado e uma área administrativa.
Os locais para onde estão sendo transferidos, segundo os funcionários, não têm espaço adequado nem para a esterilização e limpeza dos veículos, que muitas vezes retornam das emergências com vestígios de sangue, vômito e outras secreções.
Na base do Hospital Municipal Campo Limpo, zona sul de São Paulo, os funcionários do Samu passaram a dividir banheiro com os seguranças do hospital e não há local para banho."Isso pode infectar o próximo paciente", diz outro médico do serviço ao UOL, também sob condição de anonimato.
Segundo os médicos, de 2 mil ocorrências registradas na cidade por dia, apenas 700 conseguem ser atendidas.
"Falta braço, não estamos contentes com essa situação. Precisaríamos dobrar a estrutura de hoje. Essas mudanças que a prefeitura pretende fazer devem piorar ainda mais essa situação", diz. "O prefeito Bruno Covas (PSDB), no fundo, quer terceirizar a atividade-fim do Samu. Ele quer jogar o Samu na gestão das OS [Organizações Sociais]".
O Sindicato dos Médicos diz que, com o fim das bases modulares, a prefeitura quer economizar R$ 7,4 milhões ao ano. Cada base, segundo levantamento do órgão, custa cerca de R$ 20 mil por mês ao município. Procurada, a prefeitura não informou, até a conclusão da reportagem, os custos relacionados às bases modulares.
O que diz a prefeitura
Segundo a secretaria de Saúde, as mudanças feitas na estrutura do Samu não têm objetivo econômico. O intuito é aumentar o número de bases e de profissionais.
"A descentralização vai ampliar o número de bases das atuais 58 para 78. Com mais bases, aumenta a capilaridade do serviço. Mais capilaridade aproxima as ambulâncias e equipes de socorro dos locais de ocorrência, diminuindo o tempo de resposta aos chamados. Portanto, a ampliação dos pontos de apoio aumenta a cobertura do território, e não o contrário", afirmou a secretaria.
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