Sem dados, Bolsonaro diz que Brasil vira 'país de pobre' e compara à África
Do UOL, em São Paulo
14/05/2020 08h59Atualizada em 14/05/2020 11h38
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar o isolamento social como forma de combate à disseminação do novo coronavírus e disse que, com o impacto econômico das medidas restritivas, o Brasil está virando "um país de pobres".
Bolsonaro não apresentou nenhum dado sobre pobreza ou desigualdade de renda para embasar sua afirmação. Segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua) divulgadas em outubro do ano passado, o rendimento médio mensal de trabalho da população brasileira 1% mais rica foi quase 34 vezes maior que da metade mais pobre em 2018. Enquanto a parcela de maior renda arrecadou R$ 27.744 por mês, em média, os 50% menos favorecidos ganharam R$ 820.
Na declaração feita na saída do Palácio da Alvorada, o presidente ainda chegou a fazer comparação com a África, dizendo que a recuperação esperada após a pandemia pode não ocorrer.
"Aperta para todo mundo, vai tirar o filho da escola particular, colocar na pública, esse é o retrato do Brasil. O Brasil está se tornando um país de pobres", disse Bolsonaro, mais uma vez dando ênfase aos impactos econômicos.
"O Brasil está quebrando, e depois que quebrar não é como alguns dizem que a economia recupera. Não recupera. Vamos ser fadados a viver como um país de miseráveis, como tem alguns países da África subsariana", completou.
A África subsariana corresponde à parte do continente situada ao sul do deserto do Saara. A região concentra alguns dos países com menor índice de desenvolvimento humano (IDH).
Em 2019, o primeiro do governo Bolsonaro e ano em que o Brasil ainda não sentia os efeitos da pandemia de coronavírus - até então restrita à China -, o PIB (Produto Interno Bruto Brasileiro) cresceu apenas 1,1%, a menor alta em três anos. Já para 2020, principalmente por causa da covid-19, a estimativa atual do governo é de uma redução de 4,7% no PIB.
Sem dinheiro para pagar servidor público
Bolsonaro ainda mencionou dois setores específicos, dizendo que os "informais já perderam quase tudo" e que "vai faltar dinheiro para pagar os servidores públicos".
"Ainda tem servidor achando que há possibilidade de ter aumento nesse ano ou ano que vem. Não tem cabimento", disse ele.
A declaração de Bolsonaro vem em um momento em que o Brasil se aproxima dos 200 mil casos oficiais da doença e já registra 13.149 mortes pela covid-19. O presidente disse que lamenta a situação, mas fez a ressalva que periferias de grandes cidades ainda registram grande movimentação.
"Nós temos que ter coragem de enfrentar o vírus. Está morrendo gente? Está. Lamento. Mas vai morrer muito mais se a economia continuar sendo destroçada por essas medidas. O pessoal mais pobre na periferia (do Rio de Janeiro e São Paulo) continua se movimentando. É só na classe média, alta e... É que está tendo esse problema grave do comércio. Tem que reabrir. Vamos morrer de fome, a fome mata"
Críticas ao lockdown
Bolsonaro ainda voltou a atacar governadores e prefeitos que têm adotado medidas mais severas para controle da covid-19 e se referiu especificamente a quem decretou lockdown. "Vai chegar um ponto que vai fazer o caos no Brasil. O lockdown, de fechar tudo, é o caminho do fracasso, vai quebrar o Brasil"
Ele ainda pediu que governadores e prefeitos "se desculpem" e "façam o que é certo". "Um apelo que faço aos governadores. Revejam essa política, estou pronto para conversar. Vamos preservar vidas? Vamos. Mas dessa forma o preço será centenas mais de vidas que vamos perder por causa dessas medidas absurdas de fechar tudo".
O isolamento social é apontado por epidemiologistas como única forma eficaz de diminuir a taxa de contágio do novo coronavírus e, assim, evitar a sobrecarga dos sistemas de saúde. A política de distanciamento social foi adotada nos países mais afetados pela pandemia, como Estados Unidos, Itália e Espanha.
Pelo menos três zonas metropolitanas - São Luís (MA), Belém (PA) e Fortaleza (CE) - já estão em lockdown. Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo já apontam a possibilidade de também endurecer as medidas de isolamento.