Interior reclama de atuação do governo de SP e vê privilégio à capital
Resumo da notícia
- Grupo de prefeitos do interior reclama da política de retomada da economia por parte do governo do Estado
- Eles avaliam que a capital foi beneficiada e pode abrir estabelecimentos mesmo sem controlar a pandemia e entendem que há dois pesos e duas medidas
- Os prefeitos ainda reclamam dos métodos de avaliação e dizem que o diálogo com o governo está difícil e improdutivo
O interior de São Paulo tem nove regiões em fase vermelha, com cidades podendo abrir somente serviços essenciais —uma situação que tem deixado alguns prefeitos descontentes. Entre os municípios que questionam a aplicação do Plano São Paulo estão Guarulhos, Registro, Marília e São Vicente, uma lista que inclui dois companheiros de PSDB do governador João Doria.
As queixas em relação ao Palácio dos Bandeirantes incluem uma avaliação de que a cidade de São Paulo é beneficiada nas decisões. Outra reclamação é quanto à aplicação do Plano São Paulo, o programa de flexibilização controlada da quarentena e retomada gradual da atividade econômica.
A avaliação do Palácio dos Bandeirantes é que este incômodo de prefeitos já foi maior e mais numeroso. Ele se intensificou em maio, quando era esperado algum relaxamento na quarentena e isso não ocorreu. O entendimento de pessoas do governo é que os prefeitos do interior foram compreendendo a gravidade da situação e hoje trabalham para garantir leitos e respiradores para os municípios que administram.
Sobre as reclamações em relação às medidas de combate ao coronavírus, a avaliação é que se tratam de "liberacionistas incorrigíveis". Segundo o UOL apurou, estes prefeitos estariam, na avaliação de integrantes do governo, brigando com os dados para defenderem sua visão de reabertura de estabelecimentos.
Manifestação oficial do governo de SP
A Secretaria de Desenvolvimento Regional, que faz o contato do governo do Estado com os municípios, declarou por meio de nota que o aumento de casos no interior acendeu um sinal de alerta e a reação é melhorar a capacidade hospitalar, aumentar a testagem e trabalhar por melhores índices de isolamento social.
Sobre o Plano São Paulo, a nota informa que o governo "dá autonomia para que prefeitos diminuam ou aumentem as restrições de acordo com os limites estabelecidos pelo Estado, desde que apresentem os pré-requisitos embasados em definições técnicas e científicas."
Os prefeitos enxergam defeitos no plano, prejuízos para suas economias e houve até disputa judicial para abrir o comércio --a tentativa foi de um correligionário do governador.
Privilégios para a Capital
Existe uma reclamação de que a cidade de São Paulo foi beneficiada durante o enfrentamento da pandemia. O prefeito de São Vicente, Pedro Gouvêa (MDB), afirmou que a capital era o epicentro da covid-19, recebeu todos os recursos, e quando a doença chegou ao interior, não houve o mesmo empenho por parte do governo do Estado.
"O governador fez um bom enfrentamento na capital. Auxiliou muito a capital e deixou os outros 644 municípios órfãos. Não vejo apoio com mesmo peso, mesma medida que na capital."
O prefeito de Registro, Gilson Fantin (PSDB), faz coro mesmo sendo do mesmo partido que o governador João Doria. Ele protesta pelo que considera uma injustiça porque precisou fechar a cidade por 60 dias, quando segundo ele não havia gravidade em sua região. Há contrariedade em ver a cidade de São Paulo retomando parte das atividades econômicas.
"O que não dá para fazer é penalizar o Estado por 60 dias e agora assistirmos a capital abrindo. E sabemos os problemas que a capital tem e fico perplexo porque [São Paulo] não resolveu a doença. Então, vamos tratar tudo igual."
Guti (PSD) administra Guarulhos e reclama de uma cidade que faz limite com a sua estar em outra fase do programa de retomada. O prefeito declarou que há 38 quilômetros de área fronteiriça e de um lado o comércio está fechado e de outro os estabelecimentos funcionam.
"São Paulo está reabrindo, o ABC está reabrindo e Guarulhos, não. As pessoas vão procurar serviços e comércio fora e Guarulhos se enfraquece."
O prefeito de Guarulhos também reclama de a capital não ter uma situação de controle da pandemia diferente de Guarulhos e estar em outra fase. Por fim, diz não entender como uma região tão conturbada como a Grande São Paulo pode receber tratamento distinto.
Prefeitos querem autonomia
O prefeito de Marília, Daniel Alonso (PSDB), foi até a última instância da Justiça brasileira, o STF (Supremo Tribunal Federal), para tentar manter o decreto que publicou permitindo funcionamento de parte dos estabelecimentos no município. Perdeu e teve de acatar a fase vermelha, em que só funcionam atividades essenciais.
Alonso alega que preparou o sistema de saúde de Marília logo no começo da pandemia. Recorreu às duas faculdades de medicina da cidade e conseguiu conter a doença. Mas o prefeito está contrariado porque, no seu entendimento, o Plano São Paulo pune quem teve poucos casos no princípio da pandemia.
"Nós ficamos 70 dias com tudo fechado e com número de casos baixíssimos, ocupação pífia, teve períodos com nada de internação. Veio o método de classificação por variação de casos. Imagine uma região com poucos casos e passa a ter alguma coisa. Se eu tenho uma morte e acontece outra, é o dobro. Ficar na faixa vermelha é de uma revolta profunda."
Alonso reclamou de falta de autonomia. Acrescentou que chamou toda a cidade à responsabilidade e houve engajamento. Mesmo assim, não recebeu tratamento adequado pelo esforço feito. Gilson Fantin, prefeito de Registro, também protesta. Ele alegou que tinha poucos casos e qualquer novo infectado faz parecer um grande avanço da covid-19. Ele disse que o resultado é o estrangulamento econômico e a inviabilidade de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal por parte dos prefeitos.
São Vicente também está descontente com os métodos do Plano São Paulo. O prefeito Pedro Gouvêa está no grupo de cidades da Baixada Santista que contesta os parâmetros usados pelo governo do Estado e pede evolução de fase para uma abertura maior do comércio.
O descontentamento não seria exclusividade deste grupo na avaliação do prefeito de Registro. Gilson Fantin disse que nas reuniões do Conselho Municipalista, sempre por chamada de vídeo com o governador, muitos prefeitos nem prestam atenção.
"O Conselho está sendo esvaziado. Prefeito liga e está fazendo outra coisa. Fica a foto e nem aí para reunião. A relação com o governo [do Estado] está bem difícil."
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