Centro de contingência: Expansão da covid pode ser mais rápida que em março
São Paulo vem registrando alta nos casos de covid-19 e nas internações por causa da doença nas últimas semanas. Mas, pelo menos por enquanto, as estatísticas de ocupação de UTIs foram menos afetadas do que nos períodos de pico da pandemia do novo coronavírus — em junho, julho e agosto. O motivo é o ciclo da doença, segundo José Medina, coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus, do governo de São Paulo.
De acordo com ele, há um intervalo de algumas semanas entre o aumento do número de pessoas infectadas, a manifestação de sintomas graves e a piora do quadro clínico que exige tratamento intensivo.
A preocupação das autoridades da área da Saúde, agora, é que os mais jovens estariam abandonando os cuidados, se infectando e passando o coronavírus para pais e avós - que são do grupo de risco. Medina afirma que, se houver aceleração na curva de infecção, ela será maior agora que no início da pandemia.
UOL - Por que temos mais pessoas internadas e isto, hoje, não pressiona as UTIs?
Coordenador do Centro de Contingência, José Medina - É um ciclo. Primeiro começa a ter mais casos, depois mais internações e depois vai mais gente para UTI. O pessoal mais jovem, que adquire a doença, normalmente não precisa de internação. Precisam de internação as pessoas mais idosas que têm comorbidades e são infectadas por essas pessoas mais jovens. Mas jovem internado é muito difícil acontecer.
UOL - Este intervalo entre a infecção do jovem, transmissão para o idoso e manifestação dos sintomas ainda não foi cumprido? Por isso a baixa ocupação nas UTIs?
Medina - Sim, é o tempo. Aqui na cidade de São Paulo temos 51% das UTIs ocupadas, mas a ocupação aumentou --era de 42%. Tem um aumento do número de casos, aumento do número de internações, mas ainda não refletiu na ocupação das UTIs a ponto de ameaçar o sistema.
UOL - No começo da pandemia, os casos começaram a aumentar na cidade de São Paulo e se espalharam pelo estado. Esta situação vai se repetir?
Medina - Agora é um pouquinho diferente. No começo [da pandemia] tinha um pequeno número de casos em São Paulo e a doença foi migrando para outras regiões. Agora todas as cidades do estado de São Paulo, como também em todas as cidades do Brasil, têm algum caso ou algum paciente infectado ou infectante.
Então, o risco para o sistema hoje é maior do que na primeira onda, quando a doença se estabeleceu aqui, porque hoje o número de pessoas capazes de transmitir a doença é muito maior que aquele número pequeno que tinha no começo.
UOL - Ou seja, se a situação piorar, o cenário vai degradar de forma mais rápida?
Medina - A situação está calma. Ela pode piorar, não vai acontecer na mesma hora, mas ela vai acontecer num tempo mais curto que da primeira vez.
UOL - Alguma diferença já é sentida na rede pública?
Medina - Ainda não. A gente tem diferença no número de casos, no número de internações, mas ainda não temos uma diferença no número de atendimentos em UTI.
UOL - Estes casos e internações são de pessoas jovens?
Medina - O número de casos ainda é [de] jovens, o número de internações é de pessoas de faixa etária maior e com mais comorbidades. E 20% dos casos são internados e 5% dos pacientes vão para terapia intensiva. Aqui no estado de São Paulo, foram 41 mil óbitos —destes, 89% são de pessoas acima dos 50 anos. O estado de São Paulo tem 10 milhões de pessoas, o que corresponde a 22% da população, que tem mais de 50 anos.
UOL - As autoridades de Saúde dizem que houve um aprendizado de médicos, fisioterapeutas e profissionais de farmácia dos hospitais sobre como manter pacientes graves vivos. Qual foi este aprendizado?
Medina - Um aprimoramento detalhado de vários cuidados menores que somados dão uma melhora na capacidade sustentar a vida do paciente em unidade de terapia intensiva até que a doença cure por conta própria.
UOL - E quais seriam esses cuidados?
Medina - Primeiro, a heparinização dos pacientes [uso de heparina, um medicamento anticoagulante], o uso de corticoides, o momento certo de intubação de pacientes, o posicionamento do paciente em um certo decúbito [termo médico que se refere à posição da pessoa que está deitada] que faz que a respiração seja melhor. Como eu disse, uma série de detalhes que somados dão uma diferença razoável.
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