Após adolescente vacinado, polícia investiga suspeitos de furar fila no RJ
A Polícia Civil do Rio de Janeiro realiza hoje uma operação contra 'fura-filas' da vacina da covid-19. A ação ocorre após os agentes receberem uma denúncia do Coren-RJ (Conselho Regional de Enfermagem do Rio) alertando que dois enteados de um diretor da Organização Social Instituto Sócrates Guanaes, que administra o Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, foram imunizados mesmo sem pertencer ao grupo prioritário: um adolescente de 16 anos e uma jovem de 20.
De acordo com Thales Nogueira Braga, titular da Delegacia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, os agentes apreenderam uma lista de vacinados que mostra que os parentes do diretor foram classificados como 'acadêmicos de medicina'. "Na residência [dos investigados], nós conseguimos apreender os cartões de vacinação desses dois jovens e eles de fato tomaram a vacina. Ele [o adolescente] não é residente de medicina, ele é um estudante do ensino médio".
Durante a ação foram apreendidos documentos e provas a respeito da denúncia nas salas da Diretoria, Vacinação, Recursos Humanos e Arquivo do Hospital. Os mandados de busca foram cumpridos na casa do padrasto e da mãe dos jovens, contratados pelo Instituto Sócrates Guanaes.
A Polícia Civil deteve também os documentos com os nomes de estagiários, acadêmicos, internos e residentes da unidade para confrontar com a lista de vacinados. A corporação informou que fornecerá cópias de todo o material para que não haja prejuízo ao calendário de vacinação.
"Foram verificadas diversas rasuras, diversas pessoas com idade incompatível. Como a lista é muito inconsistente, a investigação visa apurar se foi um caso isolado ou se é uma coisa recorrente", acrescentou o delegado.
Outros hospitais são investigados
A Polícia Civil informou que recebeu outras denúncias de 'fura-filas' em outras unidades de saúde. "Temos investigações de vários hospitais que estão ainda no começo, estamos apurando se teve esse mesmo tipo de conduta. É trágico você ver durante uma pandemia, condutas como essas de pessoas passando a frente das que estão no grupo prioritário", disse Thales Braga.
Os suspeitos podem ser indiciados pelos crimes de infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa, peculato e corrupção ativa e passiva, caso a polícia descubra que houve pagamento de propina para essas pessoas tomarem a vacina antecipadamente. Somadas, as penas podem chegar a 25 anos de prisão.
Todos foram intimados a prestar depoimento. Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde informou que está colaborando com as investigações da Polícia Civil e que não compactua com atitudes como essa. A pasta esclareceu ainda que ambos os funcionários da Organização Social Instituto Sócrates Guanaes foram afastados de suas atividades.
Já o ISG (Instituto Sócrates Guanaes) disse que todas as unidades que a OS é responsável receberam doses da vacina seguindo à risca as determinações do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais. A Organização Social se disse surpresa pelas denúncias e que não admite nenhum desvio de conduta de seus colaboradores.
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