Praia Grande: Após ação contra sarna humana, prefeita fala em uso político
Equipes do Programa Consultório na Rua, Saúde Ambiental e Rede de Atenção Básica da Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de Praia Grande, no litoral de São Paulo, visitaram hoje a comunidade da Vila Mirim, uma das localidades vulneráveis da cidade afetadas pela sarna humana.
A ação foi realizada pela Sesap após reportagem do UOL denunciar o drama vivido pelas famílias da comunidade da Vila Mirim em busca de atendimento. O alerta vinha sendo dado há meses pela empresária Patrícia Ogna Patrali, que chegou a criar um perfil no Instagram para auxiliar os moradores com a ajuda de amigos médicos.
Segundo a Secretaria, foram atendidas 38 famílias que vivem no local. As equipes realizaram 17 atendimentos médicos e diagnosticaram seis casos de escabiose (sarna humana) e dois casos de pediculose (infestação por piolhos).
"Os moradores foram medicados na hora e orientados em relação aos cuidados com higiene das roupas, peças de cama e banho, animais de estimação e o ambiente em geral", explicou o secretário adjunto de Saúde, José Isaías Costa Lima.
As equipes contaram com 12 profissionais que estiveram presentes à visita à comunidade, entre médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, assistente social, veterinárias e assistentes.
Tainá de Lima Safa, mãe de Breno, de 4 anos, foi uma das moradoras atendidas pelas equipes da Sesap. Como o UOL revelou, além da criança, ela e uma irmã acabaram contraindo a doença. Desde então, ela vinha buscando, sem sucesso, atendimento público para conseguir medicação para o combate ao ácaro responsável pela sarna humana (Sarcoptes scabiei).
"Estou muito grata pelo pessoal da Saúde ter vindo aqui na comunidade. Eles trouxeram ivermectina para a gente tomar, um comprimido de dose única. A gente já tomou e agora eu acho que a sarna vai passar".
Prefeita chama denúncias de "exploração política"
Em um post publicado agora à noite em seu perfil no Instagram, a prefeita Raquel Chini (PSDB) alegou que os casos de sarna humana denunciados são fruto de uma "exploração política".
A prefeita ainda se utilizou de um termo considerado racista para se referir às intenções de quem denunciou a situação: "denegrir a imagem" da gestão. A palavra significa "tornar negro" ou "difamar", e é ofensiva porque considera algo negro como negativo.
"Esses casos dessas doenças estão sendo explorados politicamente por algumas pessoas que têm como objetivo denegrir a imagem da cidade e da atual administração municipal. Infelizmente, indivíduos desse tipo não querem ver o bem da população e sim se aproveitam das mazelas da sociedade", diz o texto publicado
Patrícia Ogna Patrali, a empresária que denunciou os casos de sarna e que há mais de um ano vem ajudando os moradores das comunidades carentes, sentiu-se profundamente ofendida com os ataques.
Ela reitera que não está ajudando as comunidades por motivação política, mas porque, assim como os médicos que a auxiliam, não suportava mais receber notícias do sofrimento das pessoas e do descaso do Poder Público.
"A senhora prefeita agora quer se apresentar como vítima? Vítima é a população que está sofrendo. E que tem que ser atendida com dignidade. Isso, sim. Coisa que venho implorando no perfil da PG Invisível e até mensagens enviei para a senhora e a senhora não ajudou. A partir de hoje, vou vasculhar a Praia Grande inteira", afirmou.
Doença endêmica
Especialistas ouvidos pelo UOL explicam que a sarna humana, cujos casos já começam a surgir em bairros nobres da Praia Grande, é uma doença endêmica no Brasil. Ou seja, por suas características de transmissão, ela está sempre presente entre os brasileiros, não importando a região.
Por não ser uma doença de notificação compulsória, não há como ter certeza de quantas pessoas são afetadas pelo ácaro causador da sarna humana. Não há registros a nível municipal, estadual ou federal.
"Apesar do surto que está ocorrendo agora em São Paulo estar chamando mais a atenção, a sarna é uma doença endêmica. Muito comum em todo o interior do País", informou o médico José Carlos Rezende, coordenador e um dos fundadores do Programa Médico de Família em Niterói (RJ).
Às vezes você pode ter um surto maior em determinada localidade, mas ela é uma doença endêmica no Brasil."
José Carlos Rezende, coordenador do Programa Médico de Família em Niterói (RJ)
O médico Rui de Paiva, especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria e mestre em Saúde Pública pela USP, disse que a sarna humana é uma doença que acompanha os seres humanos já há muito tempo.
O que é uma novidade é que possa causar um surto tão grande como o que aparentemente está ocorrendo aqui na nossa região."
Rui de Paiva, especialista em pediatria
Segundo os especialistas, é importante frisar que não se deve tomar medicamentos por via oral, para tentar combater a sarna, sem prescrição médica. Nem mesmo a ivermectina, comumente recomendada para o combate à doença.
"O uso indiscriminado desse remédio, sem indicação médica, pode provocar uma série de efeitos colaterais, como dor de cabeça, diarreia, vômitos e mal-estar. Ela pode levar a sintomas gastrointestinais importantes", avisa a médica Nicolle Queiroz, que integra o corpo clínico do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
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