Falsa médica chamou atenção por CRM fora do padrão e troca de consultórios
A falsa médica nutróloga Helenedja Oliveira, que atendia ilegalmente em Maceió, chamou a atenção dos médicos após usar um número de CRM (Conselho Regional de Medicina) de Alagoas completamente fora do padrão estadual e por um detalhe inusitado: ela sempre mudava o local de atendimento, como se estivesse "fugindo" de eventuais fiscalizações.
Isso levantou suspeitas de profissionais, que levaram o questionamento sobre ela não ser formada.
A falsa médica foi flagrada pela polícia no seu consultório no último dia 10. Por ser crime de menor potencial ofensivo, não cabe prisão e ela responde em liberdade. Ela atuou ilegalmente por cerca de nove anos, diz a investigação.
Helenedja atendia em um famoso centro médico de Maceió usando um número de registro que não existe: 81.420. Com ele, receitava remédios e passava exames usando um carimbo como se fosse médica.
Aqui em Alagoas nós temos perto de 11 mil médicos cadastrados, e o CRM é dado numa ordem sequencial. Atualmente no estado, nós só temos CRM até perto de 11 mil. E só existem duas pessoas no Brasil todo com esse mesmo número CRM: uma de São Paulo, outra de Minas Gerais.
Benício Bulhões, presidente do CRM-AL
Outra suspeita levantada veio após a esposa de um médico, que é farmacêutica, dispensar a medicação de um dos pacientes atendidos e perceber uma incoerência no número de registro da falsa médica.
Sem registro e mudando de local
Helenedja se dizia gaúcha e formada em medicina pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A instituição, porém, afirma que ela nunca estudou medicina lá. Também não há registros dela no CRM do Rio Grande do Sul, onde ela disse ter registro de médica.
O presidente do CRM-AL explica que, para um médico de um estado poder trabalhar em outro, é preciso fazer um registro provisório no conselho. "Aí seria uma autorização provisória de até 90 dias para trabalhar. Isso seria anotado em sua carteira profissional e ela estaria respaldada, podendo utilizar o CRM desse outro estado."
Além disso, o CRM de Alagoas recebeu a informação de que ela sempre mudava o local de atendimento.
Ela eventualmente mudava seu consultório de local, então alguns começaram a questionar, porque não a conheciam aqui da cidade. Essa foi a primeira suspeita, e foram questionar o conselho se ela realmente seria médica.
Um médico cirurgião, que pediu para não ter o nome revelado, trabalhava no mesmo centro médico que a falsa nutróloga e conta que chegou a "tomar um café" com a mulher, quando ela propôs uma parceria para atender os pacientes dele que precisavam emagrecer para passar por procedimentos. "Ela me disse que era gaúcha e que veio para cá porque se casou com um alagoano."
Um ponto que chamou a atenção do médico foi que ela disse que não fazia aplicação de medicação injetável, uma das especialidades mais comuns e rentáveis da nutrologia.
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Quero receberAchei estranho porque, normalmente, é uma das primeiras coisas que um nutrólogo faz. Ela disse que não fazia, ficou desconversando, afirmou que ia fazer depois, e isso chamou minha atenção. Depois que vi que ela era falsa médica, entendi.
Médico que conversou com Helenedja
Especialista em câncer e atenciosa
Em sua página pessoal e na rede social, Helenedja se autointitulava "especialista em emagrecimento pré-cirúrgico, tratamento de obesidade e oncologia metabólica."
A Polícia Civil de Alagoas indiciou-a por exercício ilegal da profissão, mas ela também é investigada por estelionato.
A profissional cobrava R$ 450 de pacientes sem plano de saúde. Para clientes com convênio, ela negociava o preço. Além disso, tinha um site e usava redes para dar "dicas" e trazer "informações" sobre saúde em sua área.
Segundo apurou o UOL em conversas com ex-pacientes, Helenedja era simpática, parecia ser conhecedora do tema e era atenciosa em suas consultas, que eram demoradas.
Eu fiquei lá por quase duas horas. O consultório estava cheio, e ela é muito simpática, faz um trabalho individualizado. Cheguei e tinha um cartão personalizado no meu nome.
Anita Bezerra, 47, servidora federal
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