SP: madrugada da vacina tem aniversário, roupa de festa, forró e fila longa
Enquanto o relógio marcava 0h30 de domingo (15) e os termômetros chegavam a 16°, a fila de pessoas para tomar a primeira dose da vacina contra a covid-19 na FMU no Campus Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, era extensa. Iniciando na avenida principal, passando pela entrada lateral da rua Afonso Brás, chegando até as escadarias da faculdade.
A FMU foi um dos postos que funcionou durante a madrugada na "Virada da Vacina", iniciativa da Prefeitura de São Paulo para vacinar todos os adultos a partir de 18 anos, com a primeira dose do imunizante. Iniciando às 7h da manhã de sábado (14), a vacinação ocorre até as 17h de hoje, atendendo o público de 21 a 18 anos de idade. A estimativa é vacinar 400 mil pessoas até o horário de encerramento.
Quem estava no final da imensa fila na FMU, era o estudante de Ciências da Computação, Santiago Ferrer, 19, acompanhado da mãe Sonny Balcazar. Na tarde de sábado, o jovem havia tentado se vacinar no Clube Hebraica, no bairro do Pinheiros, mas chegou com cinco minutos de atraso do horário de encerramento da vacinação no local. Depois esteve no Club Athletico Paulistano, no Jardim América, mas ficou por duas horas no mesmo lugar na fila.
Mesmo amargando o final da fila, em sua terceira tentativa, Santiago não escondia o seu entusiasmo: "Eu saí de casa às 16h30 para tomar vacina e agora estou aqui na madrugada tentando pela terceira vez. Mas tenho certeza que agora vai e já estou esperançoso pela segunda dose", diz.
Já a estudante de direito Juliana da Silva Sena Conceição, chegou às 21h30 na FMU e foi receber a primeira dose da vacina apenas três horas depois, porém a demora não tirou a emoção do momento:
A sensação é maravilhosa, mesmo eu estando tão cansada e morrendo de medo da agulha. Esse fato merece uma grande comemoração quando tudo isso passar"
A tarefa de tornar o tempo de espera de vacinação menos monótono ficou sob a responsabilidade da dupla de músicos Pedro Paiva e Dicinho, que, desde as 20h do dia anterior, animaram os presentes na fila tocando clássicos do forró e contando com a boa receptividade do público:
"A plateia na fila estava bem animada, inclusive aplaudindo o show. A vacinação era um momento de espera de todos os brasileiros, portanto, para muitos, esperar três horas na fila não é nada", disse Pedro Paiva. O momento de espera pela vacina era tão grande que o próprio sanfoneiro Dicinho percebeu isso entre os presentes: "Os jovens na fila vieram tão bem arrumados para a vacinação e, com a nossa música aqui, ficou parecendo uma grande balada e um pré aquecimento de um mundo pós imunização", completou.
Segundo dados dos profissionais de saúde que assumiram o turno às 19h de sábado na FMU, no intervalo de quatro horas e meia foram aplicadas 504 doses e até aquele momento havia 1.700 vacinas para aplicação.
Longa fila de carros na Vila Maria
Do outro lado da cidade, na zona norte, a fila também era imensa, porém motorizada. Já eram 2h20 de domingo (15) e um trânsito de meio quilômetro iniciava na praça Imigrante Boliviano até ao portão de entrada do Megaposto Vila Maria, montado na rua Gastão Madeira.
Os estudantes Giordana Paulino, 19 anos, Victor Azevedo, 19 anos e André Gazebayukian, 18 anos, estavam há uma hora e 40 minutos na fila esperando para serem vacinados: "Até tentamos vir antes, mas o trânsito estava muito maior do que agora", diz Victor.
Muitos motivos contribuíram para as longas filas. Um deles era a ausência de documentos para a vacinação, como o comprovante de residência. A reportagem flagrou quatro carros sendo barrados na triagem pela falta do documento. Segundo a enfermeira Antonia Martins Lisboa, responsável pela triagem inicial, a comprovante é uma determinação da prefeitura da capital, para evitar possíveis fraudes de moradores de outros municípios: "É uma forma de garantir a vacinação para todos os nossos munícipes", diz.
Além do comprovante de residência, no nome do vacinado ou no nome dos pais, filhos, cônjuge ou companheiro —com um documento que comprove a união—, é obrigatório a apresentação de um documento oficial com foto.
A imensa fila e o frio intenso não tiraram a alegria dos estudantes Rafaella Paolucci, 18, Thais Simões, 18, Matheus Caleja, 19, e do aniversariante do dia, Diogo Flôr, 18, em receber a primeira dose: "Estou muito feliz em ser vacinado no dia do meu aniversário, não teria presente melhor".
Sobre a escolha do horário incomum para se vacinar, Rafaella disse ser estratégico: "A gente achou que agora iria estar mais vazio, por isso viemos nesse horário. Mas a ansiedade é tanta que nem ligamos para a demora. Na verdade, antes da pandemia, a gente sempre saía para comer nesse horário, então aproveitamos a hora e mudamos o rolê".
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