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Brasil vacinou 54% das crianças contra a polio; campanha termina amanhã

Ministério da Saúde está longe de atingir a meta de 95% das crianças menores de cinco anos vacinadas contra a poliomielite - Sajjad/Xinhua
Ministério da Saúde está longe de atingir a meta de 95% das crianças menores de cinco anos vacinadas contra a poliomielite Imagem: Sajjad/Xinhua

Do UOL, em São Paulo

29/09/2022 11h22Atualizada em 29/09/2022 12h09

A Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite, que será encerrada amanhã pelo Ministério da Saúde, está longe de atingir a meta de 95% da população infantil menor de cinco anos. Entre 8 de agosto e 28 de setembro, apenas 54% das crianças foram imunizadas, um total de 6.273.472 doses.

Os dados são do Ministério da Saúde, que previa vacinar 11,5 milhões de crianças. Inicialmente, a campanha aconteceria até 9 de setembro, mas foi prorrogada pela falta de adesão dos pais e responsáveis. Segundo a pasta, nenhum estado alcançou a meta de 95% da cobertura vacinal.

A baixa cobertura vacinal observada no Brasil contra a doença nos últimos anos tem preocupado especialistas, que alertam que esse cenário pode provocar a reintrodução do vírus no país. "Aqui no país, nós temos um risco de reintrodução [do vírus] com esse cenário de baixa cobertura vacinal", falou Caroline Gava, assessora técnica do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Programa Nacional de Imunizações.

A poliomielite, que causa paralisia infantil e pode ser fatal, chegou a ser uma das doenças mais temidas no mundo. Mas, com a vacinação, o Brasil deixou de apresentar casos da doença desde 1989, tendo recebido, em 1994, um certificado de eliminação da doença.

No entanto, com a baixa cobertura vacinal e problemas relacionados à vigilância epidemiológica e condições sociais, o Brasil voltou a figurar como um país de grande potencial para a volta da doença.

Em uma avaliação de risco feito nas Américas e no Caribe pela Opas [Organização Pan-Americana de Saúde], o Brasil aparece em segundo lugar, como de altíssimo risco para a reintrodução da pólio, só antecedido pelo Haiti.
Infectologista Luiza Helena Falleiros Arlant, que integra o Núcleo Assessor Permanente da Sociedade Latinoamericana de Infectologia Pediátrica (Slipe)

Veja a taxa de vacinação por unidade federativa:

  • Paraíba (86,82%)
  • Amapá (82,85%)
  • Alagoas (74,65%)
  • Santa Catarina (73,05%)
  • Ceará (69,41%)
  • Sergipe (68,42%)
  • Pernambuco (67,58%)
  • Minas Gerais (67,14%)
  • Piauí (63,57%)
  • Paraná (63,02%)
  • Rio Grande do Sul (60,48%)
  • Mato Grosso do Sul (55,73%)
  • Maranhão (54,23%)
  • Mato Grosso (52,52%)
  • Amazonas (50,85%)
  • Espiríto Santo (50,42%)
  • Tocantins (50,18%)
  • São Paulo (50,17%)
  • Bahia (49,64%)
  • Rio Grande do Norte (42,94%)
  • Goiás (40,17%)
  • Rondônia (38,38%)
  • Pará (38,20%)
  • Distrito Federal (33,09%)
  • Rio de Janeiro (30,59%)
  • Acre (24,49%)
  • Roraima (23,17%)

No recorte por região, o Sul lidera com 64,62% de aplicação da vacina da poliomielite, seguido por Nordeste (61,72%), Sudeste (50,32%), Centro-Oeste (44,69%) e Norte (43,22%).

A cobertura vacinal contra a polio é maior entre crianças de um ano. Veja os percentuais:

  • 1 ano (57,23%)
  • 2 anos (51,25%)
  • 3 anos (52,98%)
  • 4 anos (55,63%)

O que é a poliomielite?

A poliomielite, também conhecida como pólio ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada por um vírus que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes, por objetos, alimentos ou água contaminados, além de secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas.

Em casos graves, o vírus pode causar paralisia nos membros inferiores.

A infecção pelo poliovírus é muitas vezes assintomática, mas pode ser grave e provocar paralisias irreversíveis e fatais, já que, além dos membros, a pólio também pode paralisar os músculos responsáveis pela respiração. Nesses casos, a sobrevivência do paciente pode passar a depender do uso de um respirador.

A falta de saneamento e más condições habitacionais favorecem a transmissão da pólio. A vacinação é a única forma de prevenção.

De acordo com a prática usual, crianças tem de receber doses anuais da vacina contra poliomielite, começando a partir dos 2 meses de idade.

A vacina da poliomielite é de injeção ou gotinha?

Depende da idade da criança. O PNI (Programa Nacional de Imunização) recomenda que seja administrada a vacina inativa contra a poliomielite —de injeção intramuscular —aos dois, quatro e seis meses de idade. Ela foi introduzida em 2012 com duas doses, mas ampliada para três doses em 2016.

A injeção é considerada mais eficaz e segura que as famosas gotinhas que erradicaram a doença no Brasil e em boa parte do mundo.

Aos 15 meses e aos quatro anos, a imunidade da criança é reforçada com as gotinhas da vacina oral.

A infectologista Luiza Helena Falleiros Arlant explica que as três doses da vacina intramuscular deixam as crianças protegidas contra os três sorotipos do poliovírus, enquanto as gotinhas imunizam apenas contra dois deles.

O que fazer se atrasar uma dose da vacina?

Ainda segundo a Luiza Arlant, os pais que perderam o momento da vacina ou atrasaram alguma das três doses devem retornar imediatamente aos postos para continuar o esquema vacinal de onde ele foi interrompido.

"Se uma criança tomou uma vacina e ficou três anos sem receber nenhuma outra dose, ela tem que receber a segunda dose e, dois meses depois, receber a terceira. Ninguém recomeça o esquema, tem que continuar de onde parou. E continuar com a vacina intramuscular", afirma a médica.

Brasil atingiu meta de cobertura vacinal pela última vez em 2015

Segundo o SI-PNI (Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações), as doses previstas para a vacina inativada contra a pólio atingiram a meta pela última vez em 2015, quando a cobertura foi de 98,29% das crianças nascidas naquele ano.

Depois de 2016, quando a vacinação foi ampliada para três doses, a cobertura caiu para menos de 90%, chegando 84,19% no ano de 2019. Em 2020, a pandemia de covid-19 impactou as coberturas de diversas vacinas, e esse imunizante chegou a apenas 76,15% dos bebês. Em 2021, que ainda pode ter dados lançados no sistema, o percentual ficou abaixo de 70% pela primeira vez, com 69,9%.