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Pasternak: Prioridade é recuperar vacinação, que foi arrasada com Bolsonaro

Colaboração para o UOL

10/11/2022 11h57Atualizada em 10/11/2022 15h35

A microbiologista Natália Pasternak tem expectativas positivas sobre o novo governo federal na área de saúde. Mas entende que o Ministério da Saúde terá um grande desafio para aumentar a vacinação e precisa recuperar o PNI (Programa Nacional de Imunizações).

Um dos principais problemas que o novo governo vai enfrentar é vacinação. E vacinação não só para covid. Vacinação como um todo, especialmente infantil. A gente tem observado uma queda na taxa de vacinação muito fora do normal. Ter 65% de vacinação contra poliomielite não é condizente com a cultura vacinal do Brasil.

"Tem alguma coisa muito errada nas campanhas ou na falta de campanha. A prioridade para o novo Ministro da Saúde é reestabelecer o PNI, que foi arrasado durante o governo Bolsonaro. Ele acabou com um dos melhores programas de imunização do mundo, um programa de dar inveja para o mundo", criticou Pasternak no UOL Entrevista.

A microbiologista afirmou que o PNI precisa de "verba, liderança, diretrizes e autonomia para colocar de pé uma campanha de vacinação".

Ela mostrou otimismo sobre a equipe de transição na área de saúde. E deixou uma sugestão.

"A equipe é boa, não é questão de qualidade. Mas ter diversidade é importante. Não só de gêneros. Mas quanto mais diversa for, melhor, mais ideias eles vão ter. É questão de trazer novas ideias e perspectivas diferentes. Ter mais mulheres, negros e LGBTs é necessário para ter ideias melhores", recomendou ela.

Como cientista, Pasternak também fez sugestões sobre o Ministério da Ciência e Tecnologia.

"Espero que o ministro seja escolhido com carinho, não seja alguém só para ficar bem com o centrão. A gente escuta fofocas e gostei de uma fofoca que o ministro seria o Ricardo Galvão. Não poderia ser melhor. Ele faria um trabalho excelente, comprometido com o combate ao negacionismo e questões de clima, com a experiência de quem já dirigiu um grande instituto", apontou ela, citando o ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Pasternak: Surtos de covid são esperados, mas governo não preparou os brasileiros

Com o Brasil diante de um novo pico de covid-19, Natalia Pasternak lembrou que a doença nunca foi embora e "veio para ficar".

"A covid-19 não voltou. Ela nunca foi embora. A gente não fala que a gripe voltou. A covid a gente não conhece tanto, mas sabemos que veio para ficar. É um vírus respiratório, não é erradicável com vacinas, tem reservatório animal e tem capacidade de gerar variantes que escapam das vacinas, então vai fazer parte da nossa vida", destacou ela.

Na sequência Pasternak criticou o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) por não ter preparado a população para lidar com essa doença de forma permanente.

"Não tem outra figura jurídica para pagar conta. Não é uma pessoa só, apesar do Bolsonaro ser personificação da negação, mas é claro que é toda uma equipe que negou a pandemia junto com ele. Por causa dessa inação, tem uma população altamente despreparada para lidar com a pandemia".

Natália completou com recomendações para a população. "A gente tem uma população que até hoje não entendeu que, quando tem alta de casos, seria o momento de usar máscaras no transporte público e em locais fechados e aglomerados. As pessoas não tiveram orientação adequada para entender como usar máscaras. Elas ficam esperando alguém mandar e não tem discernimento para entender em que condições a máscara serve".

Pasternak: Estamos vivendo novo surto de subvariantes

A microbiologista explicou que o novo pico de covid-19 está relacionado com uma nova subvariante, chamada de BQ.1. E afirmou que não é surpreendente que isso tenha acontecido.

"O que a gente está vivendo é um novo pico de subvariantes. Tivemos diversas variantes: alfa, beta, gama, delta... Todas se espalharam. A mais bem-sucedida foi a ômicron, que chegou chegando e se espalhou. Depois da ômicron, não teve uma variante nova. Ela continua gerando subvariantes, que podem escapar mais de vacinas, circulam e dão origem a surtos localizados. Essa subvariante nova não é surpresa, porque a gente já tinha visto na Europa, nos Estados Unidos, e não tem barreira que segure o vírus. Ele se espalha, chega e vai acabar fazendo alta de casos e às vezes de hospitalização", explicou a cientista.

Pasternak: Negacionismo migrou de um pensamento 'natureba' de esquerda para a extrema direita

A microbiologista alertou que o negacionismo tem virado moda e mudou de lado. Antes ficava mais ligado à esquerda, que se preocupava com a interferência na natureza. Mas agora a extrema direita tem dominado o movimento antivacina.

"O negacionismo tem virado moda no Brasil e no mundo e geralmente estão alinhados com espectro politico. Estudos mostram a mudança dos movimentos antivacinas. Antes prevalecia no espectro mais à esquerda. E tem migrado para a extrema direita. Não é a questão da natureza, 'natureba', mas de liberdades individuais e de que o Estado não pode interferir nas decisões. Então o problema não é a ciência. O problema é o quanto isso interfere nas minhas preferências e ideologias", comentou Natália na entrevista.

O UOL Entrevista vai ao ar às segundas e quintas-feiras, às 10h.

Onde assistir: ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

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