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Internação de crianças com problemas respiratórios dispara no Brasil

Hospitalização infantil cresceu em 13 das 27 unidades federativas - Sasiistock/iStock
Hospitalização infantil cresceu em 13 das 27 unidades federativas Imagem: Sasiistock/iStock

Do UOL, em São Paulo

27/05/2023 04h00

A baixa umidade do ar e o frio típico desta época do ano fizeram disparar as internações de crianças contaminadas por vírus causadores de sintomas gripais, como Influenza e, principalmente, o VSR (Vírus Sincicial Respiratório).

O que está acontecendo?

Último boletim da Fiocruz alerta para o "alto número de internações entre o público infantil causadas por Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em todo o país".

Em 13 das 27 unidades federativas, o crescimento de internações "está concentrado nessa faixa etária", diz a instituição. Sete em cada dez casos são provocados pelo VSR.

O aumento é registrado no Amazonas, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia e Sergipe.

O Amapá decretou situação de emergência no dia 13 após disparar o número de crianças com doenças respiratórias. O aumento de casos foi de 300% entre janeiro e a primeira semana de maio na comparação com o mesmo período do ano passado.

"Mais de 90% dos leitos estão ocupados por crianças, principalmente menores de 6 meses", diz Margarete Gomes, superintendente de Vigilância em Saúde do Amapá. O VSR responde por metade dos casos.

As internações infantis também estão elevadas no estado de São Paulo. 13 mil crianças de todas as faixas de idade foram internadas com doenças respiratórias entre janeiro e maio, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.

A taxa de ocupação das UTIs e unidades semi-intensiva pediátricas é atualmente de 72% nos hospitais administrados diretamente pelo estado e de 75% naqueles geridos por organizações sociais. O governo estadual não especifica as internações por tipo de doença.

70% dos 56 hospitais particulares consultados pelo Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios) no estado de São Paulo registraram aumento de internações pediátricas por doenças respiratórias entre 8 e 12 de maio.

Na capital paulista, a taxa de ocupação em leitos pediátricos de UTI era de 82% no dia 23 de maio. "Sendo 45% de pacientes respiratórios", informa a Secretaria Municipal de Saúde.

"A maioria das internações está concentrada nas crianças com menos de dois anos: 79% dos casos na semana entre 30 de abril e 6 de maio", explica Wallace Casaca, coordenador da Info Tracker, plataforma de dados da USP e Unesp.

Após um mês e meio estagnada em patamar já elevado, a curva de internações infantil voltou a crescer. Os dados compilados para a primeira semana de maio apontam tendência de crescimento, saltando 5% em comparação com a última semana de abril.
Wallace Casaca, da Info Tracker

O Brasil imunizou contra a gripe apenas 38% do público-alvo, estimado em 82 milhões de brasileiros. A Campanha Nacional de Vacinação, que começou em 10 de abril, termina no dia 31 de maio e previne infecções pelo vírus Influenza.

Sete dias internado

"Meu filho Anthony, de 5 anos, é muito ativo. Mas no dia 10 de maio ele ficou amuado, cansado, não queria comer. Como estava com febre, o levei numa UPA [Unidade de Pronto Atendimento]. Lá, disseram que era uma gripe, receitaram um xarope e mandaram para casa.

Anthony, de 5 anos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Anthony, de 5 anos, ficou sete dias internado após gripe forte
Imagem: Arquivo Pessoal

Mas durante a madrugada ele passou mal, com muita falta de ar. Quando cheguei do trabalho, perguntei se ele estava melhor, mas ele ainda estava com febre, tosse e dor de cabeça. Foi aí que o levei para Hospital Geral de Pirituba [em São Paulo], onde ele já ficou internado.

A médica não disse qual era o vírus, só descartou a covid e disse que era uma gripe forte por conta do tempo frio. Por sete dias, o Anthony ficou internado recebendo antibiótico e usando bombinha de ar. Só no oitavo dia ele recebeu alta.

Ainda vou vacinar meu filho porque acho importante. Por causa da internação, precisei pedir licença no trabalho para ficar com ele. Eu ficava o dia todo e meu marido passava a noite."

Relato de Vanessa Coelho Ferreira, 35, vendedora.

Frio e ar seco

O Influenza e o VSR são vírus principalmente de outono e inverno. "Com a queda da temperatura, as pessoas ficam mais próximas umas das outras em ambientes fechados, com menor circulação de ar", explica Alexandre Naime, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

"Outro problema é a baixa umidade do ar. A mucosa do nariz e garganta ressecam, o que ajuda o vírus a causar infecção", diz o infectologista.

Ar seco do outono e inverno favorece casos de síndromes gripais - Cris Faga/Fox Press Photo/Estadão Conteúdo  - Cris Faga/Fox Press Photo/Estadão Conteúdo
Ar seco do outono e do inverno favorece casos de síndromes gripais
Imagem: Cris Faga/Fox Press Photo/Estadão Conteúdo

Sobre o predomínio do VSR em crianças, o médico explica que ele é muito comum nas creches. "As crianças compartilham brinquedos e colocam sempre a mão na boca."

Os sintomas provocados pelo VSR são febre baixa, coriza, dor de cabeça, dor nos olhos, obstrução nasal, espirros e dor de garganta. Os casos mais graves, porém, podem causar bronquiolite, uma inflamação nos bronquíolos que atinge principalmente bebês.

EUA aprovam vacina

A primeira vacina contra o VSR foi aprovada no último dia 3 de maio nos Estados Unidos para maiores de 60 anos. "É comum que os estudos sejam feitos primeiro em adultos, mas a fabricante já conduz pesquisa em crianças", diz Naime.

A expectativa é que a vacina também chegue ao Brasil. No futuro, vamos combinar as vacinas: uma aplicação vai prevenir contra Influenza, covid e VSR.
Alexandre Naime, infectologista