Topo

Afegãos fogem do número 39, que consideram da má sorte

Em Cabul (Afeganistão)

03/08/2011 18h04

No pátio de um vendedor de veículos usados, numa rua de Cabul, três berlindas, uma escavadeira e um caminhão-caçamba parecem destinados a nunca encontrar comprador, por estarem marcados com o selo da infâmia: as placas contêm o número 39.

A legenda, amplamente propalada, através do Afeganistão, diz que a má reputação do 39 nasceu em Hérat, a grande cidade do oeste, onde era o apelido de um homem muito mal, tirado do número da placa de seu carro.

A partir daí, o som 39 tornou-se na língua dari (persa afegã) um sinônimo de "proxeneta", além de ser considerado insulto no país ultraconservador.

Ninguém sabe se a história é autêntica ou inventada, e as informações variam, em relação a sua origem, mas ganhou notoriedade em grande parte do país, e seu impacto, hoje, é bem real.

"Não é apenas um fenômeno social, tornou-se um problema econômico para nós", explica à AFP um vendedor de carros usados, Sa¯d Mohammad Zaman.

"Há meses que os veículos estão lá e ninguém os compra", comenta, apontando com o dedo o número da matrícula e sem perder a esperança de que, um dia, compradores vindos de longe possam levá-los.

As placas afegãs começam por três letras designando a província (KBL para Cabul, por exemplo), seguidas de cinco números. E ninguém viaja num carro marcado com um 39, porque isso exporia os ocupantes ao ridículo ou ao ostracismo.

Bashir Ahmad teve uma experiência amarga. Passou a ser motivo de riso da vizinhança desde que comprou um carro que trazia, na placa, o número maldito. "Na época, não sabia dessa história do 39, mas logo os rapazes do bairro começaram a debochar de mim", conta ele. "No começo eu me importava mas, agora, eles me chamam de +Haji 39+, ficando o insulto subentendido".

Bashir decidiu, então, vender sua Toyota Corolla, adquirida por 12.000 dólares. Embora o modelo seja um dos mais populares no Afeganistão, ele decidiu anunciar pela metade do preço, devido ao problema.

"Isso tudo é bobagem, superstição", reagiu Mohammad Bashir Haqjo, membro do sindicato des vendedores de carros, "mas isso causa uma perda econômica importante para quem se depare, de uma forma ou de outra, com o 39".

Além dos vendedores de carro, os motoristas de táxi são outras vítimas do mito. A placa de Abdul Salam tem o número maldito, o que traz problemas, principalmente quando transporta mulheres.

O fato é tão dimensionado que, em Cabul, o departamento de trânsito começou, recentemente, a distribuir uma série de placas comportando o 39. Resultato: o número diário de emplacamentos diminuiu, com alguns preferindo comprar um veículo novo.

Outros foram vistos maquiando ilegalmente a placa para transformar, com uma pincelada, um 39 em 33 ou em 38.