Pantanal 'seca' e perde 80% de superfície de água desde 1985, aponta estudo
O Pantanal está enfrentando um processo acelerado de perda de água em superfície. Em 38 anos, o bioma perdeu mais de 80% da sua área alagada, segundo estudo lançado hoje pela rede MapBiomas, que possui dados de todo o país desde 1985.
Em comparação a 1985, o Pantanal perdeu 80,7% de sua superfície de água, disparada a maior da série entre todos os biomas. Além dele, apenas o Pampa teve perda em comparação a 1985, mas de apenas 2,9%. O dado leva em conta reservatórios naturais e feitos pelo homem.
O MapBiomas considera a superfície de água aquela que fica pelo menos 6 meses alagado. Segundo o levantamento, em 2023 essa área do Pantanal foi de 382 mil hectares. Em 1985, era um território cinco vezes maior, ocupando 1,9 milhão de hectares. Cada hectare equivale a 10 mil m².
O Pantanal respondeu, no ano passado, por 2% de toda superfície de água do total nacional. Há 38 anos, esse percentual era de 10%. Este ano, por sinal, o bioma passa por um número de queimadas sem precedentes, que ameaça mudar em definitivo o bioma como conhecemos.
Menos água e menos tempo com água
O estudo aponta ainda que houve redução não apenas na área alagada, mas no tempo de permanência da água. No ano passado, apenas 2,6% do bioma estava coberto por água.
A pesquisadora Mariana Dias, da equipe de Mata Atlântica e Pantanal do MapBiomas, cita que o Pantanal é uma das maiores áreas úmidas do mundo e que o bioma está passando por uma mudança preocupante.
Nós temos observado que a superfície de água no Pantanal reduziu drasticamente. Foi o bioma brasileiro que apresentou maior transição de áreas de água para áreas sem.
Mariana Dias
O São João em Corumbá (MS).
-- Leandro Barbosa (@Barbosa_Leandro) June 23, 2024
De fundo, o Pantanal em chamas.
O cenário do absurdo. pic.twitter.com/tcIcJkUKtX
Segundo ela, mesmo o ano de 2023 tendo sido de cheia, ela ficou 50% abaixo do volume da cheia de 2018, que tinha sido a última registrada; "Mesmo com a cheia o bioma ficou com 61% menos superfícies de agora da média histórica [desde 1985]."
Esse é o período mais seco já observado. No final de 2023 a gente já via um alto índice de incêndios, e agora temos observado queimadas de grandes proporções.
Mariana Dias
Ela lembra que o Pantanal tem ciclos mais cheios e mais secos, mas o cenário atual é diferente de épocas passadas. A pesquisadora explica que, até 1985, o entorno do Pantanal —onde estão todas as nascentes e cabeceira dos rios— tinha uma cobertura de vegetação nativa de 60%.
Na década de 1960, o bioma também viveu um período bem seco, mas em um contexto muito diferente. Hoje esse percentual de cobertura de vegetação é menor que 40%, sem contar os altos índices de desmatamento e as alterações do sistema global. Isso acende um alerta para eventos recentes e extremos que têm tido maior frequência.
Mariana Dias
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Segundo o documento, a água cobriu 18,3 milhões de hectares no Brasil em 2023, o que equivale a 2% do território nacional.
Desse total, 77% são corpos hídricos naturais, enquanto 23% foram criados pelo homem —como reservatórios para abastecimento e barragens.
Nos corpos naturais, houve queda de 30,8% (ou 6,3 milhões de hectares) em 2023 na cobertura da superfície de água em relação a 1985.
No país, a Amazônia é a região que mais tem água no Brasil e responde por 62% da superfície de água nacional.
Segundo o estudo, todos os biomas estão sofrendo com a perda da superfície de água de corpos naturais desde 2000, e a década de 2010 foi a mais crítica.
Enquanto o Cerrado e Caatinga estão experimentando aumento na superfície da água devido à criação de hidrelétricas e reservatórios, outros, como a Amazônia e o Pantanal, enfrentam uma grave redução hídrica, levando a significativos impactos ecológicos, sociais e econômicos. Essas tendências agravadas pelas mudanças climáticas ressaltam a necessidade urgente de estratégias adaptativas de gestão hídrica.
Juliano Schirmbeck, coordenador Técnico do MapBiomas Água
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