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Trump negocia freneticamente antes de votação crucial sobre Obamacare

22/03/2017 22h57

Washington, 23 Mar 2017 (AFP) - Na véspera de uma votação crucial e emblemática no Congresso para derrogar a lei sobre cobertura médica do seu predecessor, Donald Trump ainda não tem certeza se irá vencê-la, devido à rebelião de uma parte da bancada republicana.

A Câmara de Representantes votará na quinta-feira um texto que, se for aprovado, anulará e substituirá a reforma de saúde aprovada durante o mandato de Barack Obama, conhecida como "Obamacare", uma promessa de campanha do presidente americano.

"Ninguém sabe a resposta", declarou o presidente da Câmara e autor da reforma, Paul Ryan, perguntado sobre o resultado da votação. "Mas estamos conquistando votos e chegando perto, muito perto".

Mas a ala mais à direita do Partido Republicano considera que o projeto de lei continua sendo dispendioso demais para o Estado federal.

Já os mais moderados estão preocupados com o aumento previsto do custo dos seguros de saúde para determinados setores da população e pela perda de cobertura que afetará 14 milhões de americanos a partir de 2018, ano de eleições legislativas.

"Não há um plano B", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer. "Há um plano A e um plano A. Vamos conseguir".

Este tom desafiador escondia uma evidência: a votação de quinta-feira será muito apertada.

A minoria democrata se opõe totalmente, o que obriga os dirigentes republicanos a tentarem limitar as deserções do seu partido a cerca de vinte representantes, em um total de 237.

Os rebeldes mais barulhentos são os do "Freedom Caucus", o "grupo da liberdade", herdeiros ultraconservadores do Tea Party de 2010. Eles qualificaram o plano republicano de "Obamacare Light", já que este manteria os descontos dos impostos para ajudar os americanos a pagarem os seus seguros de saúde, e querem que o Estado federal se retire totalmente desse setor.

Para tentar trazê-los de volta ao rebanho, os líderes republicanos alteraram o texto na semana passada. Acrescentaram, por exemplo, uma cláusula que põe como condição que os beneficiários do programa público de cobertura de saúde Medicaid, destinado aos mais pobres, trabalhem.

Mas vários membros do Freedom Caucus asseguraram nesta quarta-feira que têm votos suficientes para torpedear o texto, e pediram que a votação seja adiada.

"Continuo tendo esperança de que possamos modificar o texto. Continuarei tentando 24 horas por dia. Mas não posso apoiar a lei na sua forma atual", afirmou Mark Meadows, presidente do Freedom Caucus.

Credibilidade em jogoMas a disputa continua, e o resultado final dependerá de poucos votos. Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes, cuja credibilidade está em jogo, poderia decidir adiar a votação caso preveja um fracasso.

"Estamos na fase de pré-negociação", assegurou Rand Paul, senador republicano que apoia a rebelião dos seus colegas na Câmara baixa.

"Quando eles contarem os votos, hoje ou amanhã, e retirarem esse projeto de lei porque ele não pode passar, então vai começar a verdadeira negociação", disse nesta quarta-feira de manhã à rede MSNBC.

O republicano Chris Collins explicou na véspera a um grupo de jornalistas que entre os vinte ou trinta legisladores que hoje declaram que votarão "não", alguns podem vir a se sacrificar e votar "sim" de última hora para poupar o partido de uma grande humilhação.

O teste de quinta-feira é importante também porque Donald Trump colocou toda a sua influência em jogo, e arrisca sua credibilidade como negociador.

Nas últimas semanas, recebeu na Casa Branca dezenas de parlamentares, e na terça-feira esteve no Capitólio para enviar uma mensagem de advertência: em caso de fracasso, os eleitores punirão os republicanos, que poderiam perder a maioria no Congresso nas legislativas parciais de novembro de 2018.

O presidente também deu a entender que será implacável com os legisladores que o desafiarem, e alertou, em especial, Mark Meadows: "Oh Mark, não te deixarei em paz".

Depois da justiça suspender as duas versões do seu decreto migratório, o presidente americano precisa, após dois meses no cargo, mostrar resultados concretos.

Até agora, só promulgou derrogações de regulações da era Obama e uma lei consensual sobre a Nasa.

Se Trump finalmente triunfar na quinta-feira, na semana que vem começará uma etapa ainda mais delicada no Senado, onde a derrota do projeto, ao menos em sua versão atual, é garantida. Nesta casa, também, Trump precisará demonstrar sua capacidade de chegar a acordos.