Em Nice, feridas seguem abertas nas famílias despedaçadas por atentado
Nice, França, 12 Jul 2017 (AFP) - "O atentado foi apenas o começo de uma série de provações", afirma um pai de luto. Um ano depois do ataque que deixou 86 mortos e 450 feridos na cidade francesa de Nice na noite de 14 de julho, as feridas ainda estão abertas.
Ao chegar ao Passeio dos Ingleses oito minutos após um terrorista atropelar uma multidão com um caminhão, Thierry Vimal viu sua filha de 12 anos morrer diante de seus olhos, já no hospital.
Desde então, "há uma deformação no tempo e até mesmo no espaço. O fato de aquele verão voltar com seus cheiros e suas cores, me coloca de novo no centro do furacão, como se tivesse acontecido há 15 dias, ou na semana passada", desabafa.
"Quando me falam de reconstrução, eu me pergunto qual. Isso acontece com pessoas que passam pela mesma merda que os outros, e isso amplifica os problemas familiares e profissionais", acrescenta.
Escritor e autor, sua empresa registrou um volume de negócios irrisório no último ano. Sua esposa, professora, não conseguiu voltar ao trabalho.
Na sexta-feira, aniversário do luto e dia da cerimônia de recordação na presença do presidente Emmanuel Macron, ele escolheu se ausentar, assim como sua mulher e sua outra filha de 10 anos.
"Eu gostaria de poder estar lá, mas, de qualquer maneira, não conseguiria me manter durante todo dia", reconhece, citando a fadiga depois de "uma série de decisões a tomar e eventos completamente inesperados, ou perturbadores".
A necropsia do corpo de sua filha foi um choque. As discussões com sua outra filha "sobre vida, morte, terrorismo, geopolítica, dinheiro, e outras coisas", quase um reconforto.
"As pessoas têm uma imagem irreal da dor. O atentado em si é apenas o início", ensina.
- 'Alguma coisa se quebrou' -Pelo menos 3.000 pessoas como ele receberam acompanhamento psicológico em Nice desde o ataque, incluindo mais de mil crianças, de acordo com especialistas.
Os feridos, aqueles que foram operados e tratados em Nice, estão "bem em sua maioria", diz o dr. Pascal Boileau.
"Entre 10 e 20 pacientes ainda estão em reabilitação. Depois, o grande trabalho é no plano psicológico, porque há muitas sequelas", completou.
"Ainda damos atendimento a crianças que desenham cenas violentas, com pessoas cortadas, armas, fogos de artifício com pessoas deitadas embaixo, ou crianças de preto no Passeio", detalha a dra. Florence Askenazy, chefe do Departamento de Psiquiatria Infantil no Hospital Lenval.
Um menino não cresceu um centímetro sequer em um ano, indica.
No Hospital Central de Nice, o dr. Michel Benoit continua a receber novos pacientes, tardiamente em busca de consulta.
"Entre cinco e dez a cada semana", às vezes por um atestado médico, relata.
"Muitos não viram o caminhão chegar, por causa da música e da multidão, e muitos devem sua salvação ao acaso, ou a um reflexo, porque virou a cabeça", observa ele.
Os ilesos ficaram traumatizados pelo medo, ou por terem visto os corpos mutilados.
Mesmo quando as imagens são apagadas, "eles se queixam de não funcionar como antes, dizem que algo está quebrado, que não conseguem reparar", conclui.
No quarto de sua filha morta, Thierry não toca em nada: "Abrimos as gavetas para dar algumas coisas às amigas dela. Mas nos desfazer de seus objetos é algo ainda muito difícil".
Ao chegar ao Passeio dos Ingleses oito minutos após um terrorista atropelar uma multidão com um caminhão, Thierry Vimal viu sua filha de 12 anos morrer diante de seus olhos, já no hospital.
Desde então, "há uma deformação no tempo e até mesmo no espaço. O fato de aquele verão voltar com seus cheiros e suas cores, me coloca de novo no centro do furacão, como se tivesse acontecido há 15 dias, ou na semana passada", desabafa.
"Quando me falam de reconstrução, eu me pergunto qual. Isso acontece com pessoas que passam pela mesma merda que os outros, e isso amplifica os problemas familiares e profissionais", acrescenta.
Escritor e autor, sua empresa registrou um volume de negócios irrisório no último ano. Sua esposa, professora, não conseguiu voltar ao trabalho.
Na sexta-feira, aniversário do luto e dia da cerimônia de recordação na presença do presidente Emmanuel Macron, ele escolheu se ausentar, assim como sua mulher e sua outra filha de 10 anos.
"Eu gostaria de poder estar lá, mas, de qualquer maneira, não conseguiria me manter durante todo dia", reconhece, citando a fadiga depois de "uma série de decisões a tomar e eventos completamente inesperados, ou perturbadores".
A necropsia do corpo de sua filha foi um choque. As discussões com sua outra filha "sobre vida, morte, terrorismo, geopolítica, dinheiro, e outras coisas", quase um reconforto.
"As pessoas têm uma imagem irreal da dor. O atentado em si é apenas o início", ensina.
- 'Alguma coisa se quebrou' -Pelo menos 3.000 pessoas como ele receberam acompanhamento psicológico em Nice desde o ataque, incluindo mais de mil crianças, de acordo com especialistas.
Os feridos, aqueles que foram operados e tratados em Nice, estão "bem em sua maioria", diz o dr. Pascal Boileau.
"Entre 10 e 20 pacientes ainda estão em reabilitação. Depois, o grande trabalho é no plano psicológico, porque há muitas sequelas", completou.
"Ainda damos atendimento a crianças que desenham cenas violentas, com pessoas cortadas, armas, fogos de artifício com pessoas deitadas embaixo, ou crianças de preto no Passeio", detalha a dra. Florence Askenazy, chefe do Departamento de Psiquiatria Infantil no Hospital Lenval.
Um menino não cresceu um centímetro sequer em um ano, indica.
No Hospital Central de Nice, o dr. Michel Benoit continua a receber novos pacientes, tardiamente em busca de consulta.
"Entre cinco e dez a cada semana", às vezes por um atestado médico, relata.
"Muitos não viram o caminhão chegar, por causa da música e da multidão, e muitos devem sua salvação ao acaso, ou a um reflexo, porque virou a cabeça", observa ele.
Os ilesos ficaram traumatizados pelo medo, ou por terem visto os corpos mutilados.
Mesmo quando as imagens são apagadas, "eles se queixam de não funcionar como antes, dizem que algo está quebrado, que não conseguem reparar", conclui.
No quarto de sua filha morta, Thierry não toca em nada: "Abrimos as gavetas para dar algumas coisas às amigas dela. Mas nos desfazer de seus objetos é algo ainda muito difícil".
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