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Família do Nobel da Paz Liu Xiaobo rejeita respiração artificial

12/07/2017 18h10

Pequim, 12 Jul 2017 (AFP) - A família do dissidente chinês Liu Xiaobo rejeitou que ele seja submetido a uma respiração artificial, anunciou nesta quarta-feira (12) o Hospital Universitário Nº1 de Shenyang, onde está internado o Prêmio Nobel da Paz de 2010, vítima de um câncer de fígado em fase terminal.

Após três dias de tratamento intensivo, "o paciente está em insuficiência respiratória", indicou o hospital.

"O hospital explicou à família a necessidade de realizar uma intubação traqueal" para submetê-lo à respiração artificial, mas a família rejeitou, informou o centro médico.

O hospital, que algumas horas antes informou que Liu, 61 anos, sofreu uma falência múltipla de órgãos, diz que o funcionamento do fígado se deteriorou apesar de três dias de tratamentos para combater a infecção.

"Não temos nenhum modo de receber notícias diretamente dele ou de sua família, mas segundo o comunicado do hospital (...) é possível que Liu Xiaobo não sobreviva nas próximas 24 horas", declarou à AFP o dissidente chinês Ye Du.

Nesta quarta-feira, o governo americano expressou a sua preocupação sobre o estado de Xiaobo e pediu a Pequim que libere o ativista e a sua esposa para que ele possa receber o tratamento apropriado.

"Continuamos preocupados que o senhor Liu e sua família não consigam se comunicar com o mundo exterior e que ele não esteja livre para buscar um tratamento médico a sua escolha", disse à imprensa a porta-voz da Casa Branca Sarah Huckabee.

"Segumos pedindo às autoridades chinesas para que concedam a ele liberdade condicional e que liberem a sua esposa da prisão domiciliar, e providenciem proteção e liberdade, assim como liberdade de circulação e de acesso a um cuidado médico de acordo com a Constituição chinesa, com o sistema Judiciário e com os compromissos internacionais".

O governo alemão também solicitou que a China permita que o dissidente deixe o país e se prontificou em tratá-lo.

"Liu e sua esposa expressaram claramente o desejo de deixar a China. A Alemanha está pronta para acolher e fornecer a ele o tratamento médico", declarou o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert.

"A situação de Liu e de sua família só pode ser descrita como dramática, razão pela qual o governo alemão pede aos líderes chineses que priorizem o aspecto humanitário deste caso e autorizem sem demora sua partida" ao exterior, acrescentou.

Em caso de morte na China, Liu Xiaobo se tornaria o primeiro Nobel da Paz a morrer privado da liberdade desde o pacifista alemão Carl von Ossietzky, que faleceu em 1938 em um hospital quando estava detido pelos nazistas.

O opositor está hospitalizado em liberdade condicional, depois de passar oito anos na prisão para cumprir sentença por "subversão".

A China se opõe à ideia de Liu Xiaobo viajar ao exterior para receber tratamento, alegando que seu estado de saúde impede a saída. Na semana passada, dois médicos ocidentais que visitaram o paciente avaliaram que ele teria condições de deixar o país.

Na terça-feira (11) o governo dos Estados Unidos apresentou uma proposta à China para receber o dissidente e prêmio Nobel da Paz e lhe oferecer tratamento médico.

O porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang, respondeu nesta quarta-feira que os outros países devem respeitar a soberania judicial chinesa e "não interferir nos assuntos internos da China sob pretexto de um caso individual".

Na segunda-feira, o Hospital Universitário Nº1 de Shenyang informou que Liu se encontrava "em estado crítico".

De acordo com a instituição, o paciente sofreu um choque séptico, uma infecção abdominal e foi submetido à diálise.

Antes do último boletim médico, grupos de defesa dos direitos Humanos questionaram as razões para estes relatórios diários, considerando a possibilidade de as autoridades estarem manipulando as informações.

"Como as autoridades controlam todas as informações relativas ao estado de saúde de Liu Xiaobo, é difícil verificar a veracidade dos comunicados publicados pelo hospital na Internet", disse à AFP o diretor chinês da Anistia Internacional, Patrick Poon.

"Alguém poderia perguntar de maneira legítima se as autoridades não publicam essas informações para justificar sua recusa a permitir que deixe o país", completou.

"Não sabemos em que medida são boletins médicos profissionais, ou informações manipuladas com fins políticos", declarou Maya Wang, da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch.

Em um vídeo vazado no início da semana, Liu aparece muito magro, cercado por médicos ocidentais que conversam com sua esposa e colegas chineses.

Nas imagens, o médico alemão Markus Buchler diz à esposa do dissidente, Liu Xia, que seus colegas chineses estão "plenamente dedicados" aos cuidados de seu marido.

Ativistas dos direitos humanos também criticaram a difusão dessas imagens.

"É evidente que a China tem interesse em fazer crer que Liu Xiaobo está sendo bem tratado, quando, na realidade, se porta de maneira desumana", declarou à AFP a diretora da sede na China da ONG Human Rights Watch, Sophie Richardson, que denunciou "uma grotesca propaganda".