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O rei Bhumibol da Tailândia, um pai e semideus

26/10/2017 12h13

Bangcoc, 26 Out 2017 (AFP) - O rei da Tailândia Bhumibol Adulyadej, cujo velório foi realizado nesta quinta-feira, exatamente um ano após sua morte, conquistou ao longo de 70 anos de reinado o status de "pai da nação", venerado e protegido por uma rígida lei e um intenso culto à personalidade.

Nascido em 5 de dezembro de 1927 nos Estados Unidos, Bhumibil era um monarca cujos retratos em molduras douradas enfeitavam as ruas e estradas do país, com imagens do rei em todas as idades, do jovem apaixonado por fotografia com a câmera pendurada no pescoço à maturidade, durante uma visita a camponeses.

A foto de Bhumibol é encontrada em lojas, casas, escolas. As crianças tailandesas recebem aulas especialmente dedicadas à história da família real, impregnada de respeito e devoção.

Criticada há alguns anos, especialmente por estudantes universitários, a repressiva lei que pune o crime de lesa-majestade (com até 15 anos de prisão) provocava uma forte autocensura sobre o tema, especialmente na imprensa. E ninguém falava sobre o que acontecia entre os muros do palácio.

O tabu a respeito do rei aumentou após o golpe de Estado de 22 de maio de 2014, executado, mais uma vez, por militares simpatizantes da realeza que alegaram a necessidade de defender a monarquia.

O rei via as Forças Armadas "como uma associação para desenvolver o país", explica Paul Handley, autor da biografia proibida "The king never smiles" (O rei nunca sorri).

Em 25 de agosto de 2014, o soberano aprovou a nomeação do primeiro-ministro, o general Prayut Chan-O-Cha, líder do golpe, uma etapa simbólica crucial para a legitimação do poder dos militares.

Há várias décadas, em todos os cinemas do país, o público ficava de pé (sob pena de ações judiciais) quando tocava o hino real, acompanhado por imagens que mostravam as conquistas alcançadas durante o reinado de Bhumibol, apaixonado por projetos agrícolas em geral e lagos artificiais em particular.

Bhumibol era considerado o pai da nação, ou até mesmo um semideus, em uma sociedade profundamente dividida entre elites tradicionais monárquicas e massas seduzidas pela política social aplicada pelo ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra.

O ex-premier foi derrubado por um golpe de Estado em 2006, o que não impediu seus partidários de conquistar a vitória em todas as eleições nacionais desde então. Para desespero do rei, irritado com Thaksin desde sua primeira vitória nas legislativas de 2001, segundo os analistas.

O monarca condenou em 2006 as eleições "não democráticas" organizados de forma apressada pelo poderoso magnata das telecomunicações que entrou para o mundo da política.

- Fortuna colossal -Hábil estrategista político, apesar da falta de poder constitucional (desde a abolição da monarquia absoluta em 1932), Bhumibol conseguiu reafirmar a monarquia e impor-se como uma figura tutelar insubstituível.

Esta imagem foi forjada sobretudo com sua intervenção durante a revolta popular de maio de 1992, quando fez um apelo de paz aos líderes dos dois lados, de cócoras diante deles em sinal de submissão, e ante as câmeras de televisão.

Bhumibol, cada vez mais fragilizado, discursava apenas em raras ocasiões nos últimos anos para pedir a unidade nacional.

Entre os temas considerados tabu, além de sua fortuna colossal (a revista Forbes o citou em primeiro lugar entre os monarcas do mundo em 2011), se destacava a misteriosa morte a tiros de seu irmão mais velho, o rei Ananda Mahidol, no palácio em 1946.

Bhumibol se tornou então o rei Rama IX, nono monarca da dinastia dos Chakri. Precedeu em sete anos a rainha Elizabeth II da Inglaterra, que agora passa a ser a monarca há mais tempo no trono.

Entre 1946 e 1950, o homem que se viu de repente alçado às manchetes concluiu os estudos na Suíça, país em que passou a maior parte da juventude.

Não parou desde então de construir a imagem de sábio, protetor da nação e responsável pela missão de melhorar a vida de seu povo, impondo-se como o denominador comum de um país que registrou 19 golpes ou tentativas de golpe de Estado ao longo de seu reinado.

Em junho de 2006 celebrou os 60 anos de reinado diante de um milhão de pessoas e 25 reis e rainhas de todo o planeta.

bur-dth/fp/mr