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Oxfam pede desculpas ao Haiti por comportamento de sua equipe

19/02/2018 18h57

Porto Príncipe, 19 Fev 2018 (AFP) - A ONG britânica Oxfam apresentou nesta segunda-feira (19) suas desculpas diretas ao povo haitiano pelo comportamento de alguns de seus integrantes e expressou sua "vergonha" após enviar às autoridades locais uma investigação interna.

Segundo este relatório de 11 páginas, divulgado em uma versão parcialmente censurada, o ex-diretor da Oxfam no Haiti, o belga Roland Van Hauwermeiren, reconheceu ter pago prostitutas em locais financiados pela organização.

O informe não descarta que algumas das prostitutas fossem menores de idade.

Outros ex-funcionários da ONG foram acusados de assédio e intimidação, enquanto uma testemunha foi ameaçada fisicamente.

"Viemos aqui (...) para expressar nossa vergonha e nossas desculpas ao governo e à população do Haiti pelo que aconteceu", declarou Simon Ticehurst, diretor regional da Oxfam para América Latina e Caribe, ao fim de um encontro de duas horas com Aviol Fleurant, ministro de Planejamento e Cooperação Exterior.

"Vamos pedir relatórios de todos os tipos, auditorias, relatórios financeiros, em um contexto de prestação de contas", disse Fleurant, se questionando sobre uma eventual "obstrução da Justiça" em função de que as autoridades haitianas "nunca foram informadas sobre esses crimes, cometidos nos locais da instituição".

As autoridades haitianas anunciaram na semana passada que pretendem realizar sua própria investigação. A ONG se comprometeu a entregá-los na segunda-feira a versão completa de seu relatório, redigido em 2011.

"É absolutamente terrível", disse nesta segunda a primeira-ministra britânica, Theresa May. Estas condutas "estão muito abaixo dos padrões que podemos esperar das organizações beneficentes e ONGs com as quais trabalhamos", acrescentou.

- 'Muitas meninas' -A haitiana Mikelange Gabou contou ao jornal The Times que teve uma relação com Van Hauwermeiren quando ela tinha 16 anos e ele 61. De acordo com seu depoimento, o belga entregou dinheiro e fraldas para seu bebê. Algumas vezes convidava para sua casa mulheres que procuravam trabalho, às quais dava dinheiro.

"Me ajudava, mas eram muitas meninas (...) Sempre eram haitianas, as mulheres eram sua distração", afirmou.

Na semana passada, Van Hauwermeiren declarou em carta enviada aos meios de comunicação belgas que nunca organizou orgias com jovens prostitutas, mas admitiu que teve relações sexuais com uma "mulher respeitável e madura", sem entregar dinheiro.

De acordo com o relatório, sete funcionários da Oxfam no Haiti deixaram a ONG após a investigação interna. Alguns foram acusados, além de pagar a prostitutas, de perseguir e intimidar outros membros da organização.

Quatro deles foram demitidos por "falhas graves" e três pediram demissão, entre eles Roland Van Hauwermeiren, a quem a Oxfam propôs uma "saída digna, desde que cooperasse plenamente com o restante da investigação".

Além disso, há a suspeita de que três pessoas tenham "ameaçado fisicamente e intimidado" uma das 40 pessoas que testemunharam na investigação interna.

- Transparência -A Oxfam justificou sua decisão de publicar o relatório "para ser o mais transparente possível sobre as decisões que foram tomadas durante a investigação".

A ONG também comunicará o nome das pessoas envolvidas às autoridades do Haiti, que realizam a própria investigação.

Na sexta-feira, a Oxfam revelou um plano de ação para impedir novos casos similares e tentar responder à polêmica mundial, que levou parceiros e personalidades que apoiavam a ONG a abandoná-la.

A Oxfam, que no ano fiscal 2016-17 recebeu cerca de 36 milhões de euros do governo britânico, aceitou não pedir mais recursos públicos até cumprir as normas de proteção de pessoas, indicaram as autoridades.

No relatório sobre o Haiti, a Oxfam concluiu que era necessário adotar "mecanismos melhores" para informar as demais agências sobre o comportamento problemático dos funcionários.

Depois de deixar a Oxfam, Roland van Hauwermeiren trabalhou para a organização francesa Ação Contra a Fome em Bangladesh. Esta lamentou não ter sido avisada sobre o comportamento do belga no Haiti.

Após as primeiras revelações de abusos, também em países como Sudão do Sul e Libéria, o diretor-geral da Oxfam no Reino Unido, Mark Goldring, afirmou que o escândalo era "desproporcional", mas no domingo admitiu que a organização deveria ter sido mais transparente.

O caso também provocou a revelação de comportamentos similares em outras ONGs, como a britânica Save the Children, acusada de ter permitido a saída sem punição de Brendan Cox, marido da deputada assassinada Jo Cox, que teve um comportamento inapropriado com companheiras de trabalho.

Cox pediu desculpas no fim de semana e abandonou os cargos que ocupava em duas associações criadas em memória de sua mulher.

O diretor-geral da Oxfam GB e seu contraparte da Save the Children devem se explicar na terça-feira ante uma comissão parlamentar britânica.