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Congresso do Peru debate sobre renúncia ou destituição de Kuczynski

22/03/2018 20h44

Lima, 22 Mar 2018 (AFP) - O Congresso do Peru começou a debater nesta quinta-feira (22) se aceita a renúncia à presidência de Pedro Pablo Kuczynski ou se o destitui, enquanto seu sucessor, Martín Vizcarra, viaja do Canadá para assumir o cargo na sexta-feira.

Após meses na corda bamba por seus vínculos com a empreiteira Odebrecht, o empresário e ex-banqueiro de Wall Street de 79 anos, que havia assumido há 20 meses, jogou a toalha na quarta-feira às vésperas da Cúpula das Américas, que reunirá em 13 e 14 de abril em Lima cerca de 30 presidentes, entre eles o americano Donald Trump.

"Peço-lhes, por favor, que estejamos à altura do debate que corresponde ao Congresso", disse o chefe do Parlamento, o opositor Luis Galarreta, ao abrir a sessão plenária às 17h00 locais (19h00 de Brasília), à qual Kuczynski não compareceu.

"Não é um dia feliz para o país, não é um dia do qual nos sentiremos orgulhosos de acontecer. É um dia difícil, complicado", disse o opositor Víctor Andrés Belaúnde ao plenário.

A sessão irá durar três horas, declarou Galarreta, mas a decisão de aceitar a renúncia de Kuczynski ou de destituí-lo será votada na sexta-feira, antes de Vizcarra realizar o juramento.

Em 2000, o Congresso destituiu Alberto Fujimori quando este enviou uma carta de renúncia à Presidência por fax do Japão, para onde fugiu apressado por um escândalo de corrupção.

Kuczynski é o primeiro presidente que perde seu cargo pelo turbilhão Odebrecht, que atinge outros ex-presidentes peruanos como Ollanta Humala, em prisão preventiva há oito meses junto com sua esposa, Nadine Heredia, e Alejandro Toledo (2001-2005), sobre o qual pesa um pedido de extradição dos Estados Unidos.

Em dezembro, Kuczynski sobreviveu a uma primeira tentativa de destituição graças ao surpreendente apoio de uma dezena de legisladores opositores liderados por Kenji Fujimori, o filho mais novo de Alberto Fujimori, em troca do indulto que retirou o ex-presidente da prisão, onde cumpria uma condenação de 25 anos por crimes contra a humanidade e corrupção.

Os bispos católicos exortaram nesta quinta-feira a recuperar a ética e a moral no Peru e chamaram todos os partidos a apoiar o governo de Vizcarra.

"Chegamos a um ponto de ruptura política. Um novo começo exige não somente uma mudança de comando, mas a recuperação ética e moral do país em todos os níveis", assinalou a Conferência Episcopal em uma declaração.

- As coisas mudarão? -O vice-presidente Vizcarra, atual embaixador no Canadá, viaja nesta quinta-feira a Lima para assumir a Presidência na sexta e completar o atual mandato, até julho de 2021.

"Tenho a convicção de que, juntos, demonstraremos mais uma vez que podemos seguir em frente", escreveu no Twitter Vizcarra, que nesta quinta completou 55 anos e terá um duro trabalho ao carecer de partido político em um Congresso dominado pelo Força Popular, liderado por Keiko Fujimori.

"Dizem que as coisas mudarão, mas sou pessimista (...). A política tem que mudar... as regras de financiamento dos partidos políticos para que isso não volte a acontecer", opinou Gaspard Estrada, diretor do Observatório Político da América Latina e do Caribe (OPALC) da Universidade de Ciências Políticas de Paris.

- Keiko ganha, Kenji perde -A saída de Kuczynski aconteceu depois que os líderes do Força Popular divulgaram na terça-feira um vídeo no qual Kenji Fujimori aparece tentando convencer outro legislador a rejeitar a destituição de Kuczynski em troca de favores políticos.

Foi exatamente um vídeo que levou à queda de Alberto Fujimori, deixando em evidência as manobras de seu chefe da Inteligência, Vladimiro Monstesinos, para comprar votos de legisladores.

A guerra fratricida pela liderança do fujimorismo resultou na vitória de Keiko, de 42 anos e duas vezes candidata à presidência, sobre seu irmão de 37 anos, que também tem ambições presidenciais.

O futuro de Kenji, o parlamentar mais votado nas últimas duas eleições, agora depende do Congresso dominado por sua irmã, pois, após a divulgação do vídeo, abriu um processo para retirar seu foro.

Kenji não compareceu ao plenário nesta quinta-feira.

Keiko também foi atingida pelo caso Odebrecht. A empresa afirmou que contribuiu com 1,2 milhão de dólares para sua campanha de 2011, pelo qual é investigada pela Procuradoria.

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