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Furacão María matou 4.600 pessoas em Porto Rico; mais que o dobro do Katrina

26.set.2017 - Vizinhos sentados em sofá ao lado de suas casas destruídas pelo furacão María, em Yabucoa, Porto Rico - Gerald Herbert/AP
26.set.2017 - Vizinhos sentados em sofá ao lado de suas casas destruídas pelo furacão María, em Yabucoa, Porto Rico Imagem: Gerald Herbert/AP

29/05/2018 12h49

O furacão María, que devastou Porto Rico em setembro de 2017, teria matado mais de 4.600 pessoas, um número quase 70 vezes superior ao balanço oficial de mortos, afirma um estudo da Universidade de Harvard.

O governo anunciou um balanço de 64 mortos, mas especialistas da Universidade de Harvard afirmam que o número aumentou com os cortes de energia elétrica e a devastação generalizada provocada pela tempestade, que deixou 90 bilhões de dólares em danos e é considerada a terceira mais cara nos Estados Unidos desde 1900.

Outras investigações independentes calcularam o balanço de mortos em quase 1.000, mas as estimativas mais recentes compiladas pelos especialistas elevaram o número a 4.645 falecidos entre o dia do furacão, 20 de setembro e 31 de dezembro de 2017.

Em comparação, o poderoso furacão Katrina registrou em 2005 um balanço de mortos muito menor, estimado em 1.833 pessoas.

16.maio.2018 - Norma Medida, esquerda, com ajuda de uma cuidadora, move sua mãe Tomasa Silva em Yabucoa, onde a rede elétrica ainda não foi restabelecida após passagem do furacão María - Carlos Giusti/AP  - Carlos Giusti/AP
16.maio.2018 - Mulheres movem a senhora Tomasa Silva em hospital de Yabucoa, Porto Rico, onde a rede elétrica ainda não foi restabelecida depois do furacão María
Imagem: Carlos Giusti/AP

A maioria de vítimas fatais causadas por María foi pela interrupção nos serviços de saúde por causa dos cortes de energia e o bloqueio ou destruição de vias, segundo o estudo publicado no jornal de medicina The New England  Journal of Medicine.

"Aproximadamente um terço das mortes posteriores ao furacão foram reportadas por familiares como causadas por um acesso tardio ou impedido a atenção médica", acrescentou o informe.

Pouca atenção do governo central

Os dados revelaram um aumento de 62% na taxa de mortalidade posterior ao furacão María - comparado com o mesmo período de 2016 - totalizando 4.645 mortos.

"Nossas estimativas são aproximadamente consistentes com as informações da imprensa que avaliaram as mortes no primeiro mês posterior ao furacão", acrescentou informe.

21.set.2017 - Homem caminha em vizinhança destruída em Catano, Porto Rico, após furacão María - Hector Retamal/AFP - Hector Retamal/AFP
21.set.2017 - Homem caminha em vizinhança destruída em Catano, Porto Rico, após furacão María
Imagem: Hector Retamal/AFP

Os investigadores não conseguiram comparar suas estimativas com o balanço mais recente do governo porque este lhes negou o acesso à informação.

O governo de Porto Rico deixou de publicar seus dados sobre as mortes causadas por María em dezembro de 2017.

"Esses números servirão como uma importante comparação independente às estatísticas oficiais do registro de mortos, que atualmente são reavaliadas e ressaltam a falta de atenção do governo de Estados Unidos à frágil infraestrutura de Porto Rico", indicou o estudo.

Metodologia

Os investigadores visitaram aleatoriamente 3.299 moradias em Porto Rico, um território americano com aproximadamente 3,3 milhões de habitantes, e utilizaram os critérios do Centro para Controle e Prevenção de Enfermidades dos Estados Unidos para determinar se a morte causada poderia ser considerada consequência do furacão.

Por definição, isso implicaria em situações vinculadas ao furacão como escombros ou condições inseguras ou insalubres, incluindo a perda de serviços médicos necessários, nos três meses posteriores ao furacão.

As pesquisas foram feitas entre janeiro e fevereiro de 2018, em um período no qual os investigadores observaram que "muitos entrevistados ainda estavam sem (serviços) de água e eletricidade".

"Em média, as moradias permaneceram 84 dias sem eletricidade, 64 dias sem água, e 41 dias sem cobertura para celulares", detalha o estudo.

Os entrevistados não receberam um pagamento por suas respostas. Se um membro de uma família era reportado como desaparecido, mas ainda não havia confirmação de sua morte, a investigação o contabilizava como vivo.