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Rajoy, o eterno sobrevivente que acabou sucumbindo

Oscar Del Pozo/AFP
Imagem: Oscar Del Pozo/AFP

Em Madri

01/06/2018 09h51

Durante anos, Mariano Rajoy foi o grande sobrevivente da política espanhola, graças a seu temperamento e a sua muito habilidosa gestão dos últimos tempos. Ele acabou sucumbindo, porém, sob o peso da corrupção, que custou uma condenação judicial de seu partido.

Espanha - Pedro Armestre/AFP - Pedro Armestre/AFP
Pedro Sanchez, líder do Partido Socialista, assume cargo
Imagem: Pedro Armestre/AFP
Sem deixar um sucessor designado, o líder conservador, 63, perdeu o poder nesta sexta-feira (1º) em uma moção de censura na Câmara baixa. Uma maioria de 180 deputados de 350 votou a favor de seu rival Pedro Sánchez.

O líder socialista, novo presidente do governo, promoveu a moção depois de a Justiça concluir que o Partido Popular (PP) de Rajoy lucrou com uma vasta rede de corrupção e manteve um caixa dois durante duas décadas.

A crise foi a gota d'água para um Rajoy que, com sua paciência e impassibilidade, assim como a divisão de seus rivais, havia suportado as tensões à frente do governo, como reconhecem tanto seus aliados, que o veem como um brilhante estrategista, quanto os adversários, que o atacam por seu imobilismo.

Reclinando-se em sua cadeira à espera da passagem da tormenta, havia resistido à contestação contra suas políticas de austeridade, aos escândalos de seu partido e à crise separatista na Catalunha.

Símbolo de sua capacidade de sobreviver a tudo, em 2005, salvou-se de um acidente de helicóptero com apenas um dedo quebrado.

Um político experiente 
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Imagem: Juan Medina/ Reuters

Eleito como vereador pela primeira vez em 1981, em sua Galícia natal, Rajoy "é o único político que tem sua vida toda nisso", assegura o cientista político Antón Losada, autor de uma biografia do líder conservador.

"Ganhou eleições, perdeu eleições, foi ministro, foi líder da oposição, passou por tudo", em comparação a rivais que são "novatos".

"Aprendeu a esperar, a aguentar a pressão", completa Losada.

Esperou quase oito anos como líder da oposição para se tornar presidente do governo espanhol com maioria absoluta, no final de 2011.

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E, depois das eleições gerais de 2015, nas quais perdeu muito apoio pelos escândalos de corrupção e pela austeridade de seu primeiro mandato, soube esperar dez meses e novas eleições para ser reimpossado, em outubro de 2016, já que seus adversários demonstraram sua incapacidade de compor um governo alternativo.

Ressuscitado, embora mais fraco, outras crises se apresentaram em seu caminho, especialmente a tentativa frustrada de secessão da Catalunha, em outubro passado.

Criticado por sua inação diante de um conflito preparado durante anos, conseguiu salvar a situação na última hora, impondo seu controle direto sobre a região e destituindo em bloco o Executivo separatista de Carles Puigdemont.

Os separatistas conservaram o poder, mas, por enquanto, parecem ter renunciado a uma separação unilateral imediata.

Várias vidas  
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Imagem: Juan Medina/Reuters
 

Fã do ciclismo e do Real Madrid, assim como das caminhadas matutinas, sabe-se pouco da vida privada desse homem casado e pai de dois filhos.

Nascido em 1955 em Santiago de Compostela, Mariano Rajoy Brey cresceu em uma família abastada e, em sua juventude, foi "registrador de propriedade".

Logo saltou para a política, inscrevendo-se na Aliança Popular, fundada por ministros do ditador Francisco Franco e que acabaria se transformando no PP.

Cinco vezes ministro do governo de José María Aznar (1996-2004), foi seu porta-voz quando teve de justificar a desastrosa gestão da maré negra provocada na Galícia pelo navio petroleiro "Prestige", em 2002, ou a entrada da Espanha na guerra do Iraque, em 2003.

Escolhido a dedo por Aznar como seu sucessor, perdeu duas eleições para o socialista José Luis Rodríguez Zapatero em 2004 e em 2008, antes de alcançar o governo em uma Espanha mergulhada na crise.

A austeridade custou a vida política de outros de seus colegas europeus, mas não o derrubou.

"Tem a pele de elefante", disse-lhe uma vez a chanceler alemã, Angela Merkel.