O dilema dos comerciantes de armas após o escândalo Khashoggi
Paris, 24 Out 2018 (AFP) - Diante do escândalo Khashoggi, as nações ocidentais que fornecem armas para a Arábia Saudita devem escolher entre a sua vontade de pressionar Riad, de um lado, e a de preservar os seus interesses econômicos, militares e diplomatas de outro.
Alguns, como o presidente americano, Donald Trump, não têm reservas: "não me agrada a ideia de acabar com um investimento de 110 bilhões de dólares", montante da última encomenda de equipamento militar por parte da Arábia Saudita, declarou.
"Sabe o que farão?", acrescentou, "pegarão esse dinheiro e gastarão na Rússia ou na China, ou o depositarão em outro lugar. Dói muito mais para nós do que para neles", afirmou.
O chefe de Governo espanhol, Pedro Sánchez (PSOE), embora tenha denunciado o "terrível assassinato" do jornalista saudita em Istambul, manifestou claramente a sua prioridade: "se perguntarem com quem estou, aqui e agora, estou defendendo os interesses da Espanha, o trabalho de setores estratégicos, muitos deles em áreas afetadas pelo drama do desemprego".
Diante da maior venda de armas canadenses da história (742 veículos blindados rápidos), o primeiro-ministro, Justin Trudeau, afirmou "analisar as nossas opções", embora tenha reconhecido que era "extremamente difícil" cancelar a transação.
Em Paris, as autoridades francesas optaram por apelar para o tempo: "não tomaremos nenhuma decisão apressada sobre as nossas relações com a Arábia Saudita enquanto os fatos não forem esclarecidos", declarou uma fonte do Eliseu nesta quarta-feira (24).
Questionada no Parlamento esta tarde, a ministra dos Exércitos, Florence Parly, respondeu que a "França quer que investiguem tudo sobre o caso, e que seja uma investigação crível".
"Com base nas conclusões desta investigação (...) é que as decisões serão tomadas ", assinalou.
- Moscou e Pequim -Até agora, apenas a Alemanha, cujas vendas de armas à Arábia Saudita são relativamente modestas, se pronunciou a favor de cancelar as exportações militares para esse país, embora reconheça, por meio do seu ministro da Economia, Peter Altmaier, "que não haverá nenhum efeito positivo se continuarmos sendo os únicos a deter as exportações enquanto, ao mesmo tempo, outros países preenchem esse vácuo".
Para Bruno Tertrais, da Fundação para a Investigação Estratégica, "os governos ocidentais devem decidir entre os interesses comerciais e estratégicos, por um lado, e a dimensão ética do outro, sobretudo na ausência de certeza sobre como esses equipamentos serão utilizados".
Os pedidos para interromper a venda de armas para Riad já haviam sido feitos desde o início deste ano, devido às muitas vítimas civis causadas pelos bombardeios da coalizão árabe liderada por Riad no Iêmen.
"Para além do caso Khashoggi, muitos países se perguntam sobre a venda de armas a Riad e aos Emirados Árabes Unidos", afirma Tony Fortin, da ONG Observatório de Armamentos. "Este debate está muito em voga em Alemanha, Suécia, Noruega e Finlândia", acrescenta.
"Houve queixas contra essas vendas em Reino Unido, Itália, Holanda (...) Isto lança luz sobre as nossas relações com Riad: podemos nos dar ao luxo de continuar as nossas relações estratégicas com um regime que tortura os seus opositores, que estrangula civis no Iêmen e, literalmente, corta um jornalista em pedaços?", questiona.
"A Espanha passou um tempo considerando não cumprir um contrato de 400 bombas teleguiadas, para depois voltar atrás a fim de não ameaçar um comando de cinco navios de guerra, por um montante de 1,8 bilhão de euros, que devem ser construídos em uma região com alta taxa de desemprego".
Para os especialistas da carta confidencial da Intelligence Online (IOL), outros países, em particular Rússia e China, ficariam felizes em substituir no mercado saudita possíveis fornecedores ocidentais, impedidos por suas autoridades políticas de realizar as entregas.
"No longo prazo", escreveu o IOL nesta quarta-feira, "espera-se que a reação dos Estados Unidos ao assassinato de Khashoggi acelerará a aproximação de Riad aos sócios que não expressaram qualquer crítica após este caso, incluindo Moscou e Pequim".
A China já é o primeiro sócio petroleiro da Arábia há dois anos, e começa a penetrar no mercado de segurança, em primeiro lugar com a venda de drones", advertiu.
Alguns, como o presidente americano, Donald Trump, não têm reservas: "não me agrada a ideia de acabar com um investimento de 110 bilhões de dólares", montante da última encomenda de equipamento militar por parte da Arábia Saudita, declarou.
"Sabe o que farão?", acrescentou, "pegarão esse dinheiro e gastarão na Rússia ou na China, ou o depositarão em outro lugar. Dói muito mais para nós do que para neles", afirmou.
O chefe de Governo espanhol, Pedro Sánchez (PSOE), embora tenha denunciado o "terrível assassinato" do jornalista saudita em Istambul, manifestou claramente a sua prioridade: "se perguntarem com quem estou, aqui e agora, estou defendendo os interesses da Espanha, o trabalho de setores estratégicos, muitos deles em áreas afetadas pelo drama do desemprego".
Diante da maior venda de armas canadenses da história (742 veículos blindados rápidos), o primeiro-ministro, Justin Trudeau, afirmou "analisar as nossas opções", embora tenha reconhecido que era "extremamente difícil" cancelar a transação.
Em Paris, as autoridades francesas optaram por apelar para o tempo: "não tomaremos nenhuma decisão apressada sobre as nossas relações com a Arábia Saudita enquanto os fatos não forem esclarecidos", declarou uma fonte do Eliseu nesta quarta-feira (24).
Questionada no Parlamento esta tarde, a ministra dos Exércitos, Florence Parly, respondeu que a "França quer que investiguem tudo sobre o caso, e que seja uma investigação crível".
"Com base nas conclusões desta investigação (...) é que as decisões serão tomadas ", assinalou.
- Moscou e Pequim -Até agora, apenas a Alemanha, cujas vendas de armas à Arábia Saudita são relativamente modestas, se pronunciou a favor de cancelar as exportações militares para esse país, embora reconheça, por meio do seu ministro da Economia, Peter Altmaier, "que não haverá nenhum efeito positivo se continuarmos sendo os únicos a deter as exportações enquanto, ao mesmo tempo, outros países preenchem esse vácuo".
Para Bruno Tertrais, da Fundação para a Investigação Estratégica, "os governos ocidentais devem decidir entre os interesses comerciais e estratégicos, por um lado, e a dimensão ética do outro, sobretudo na ausência de certeza sobre como esses equipamentos serão utilizados".
Os pedidos para interromper a venda de armas para Riad já haviam sido feitos desde o início deste ano, devido às muitas vítimas civis causadas pelos bombardeios da coalizão árabe liderada por Riad no Iêmen.
"Para além do caso Khashoggi, muitos países se perguntam sobre a venda de armas a Riad e aos Emirados Árabes Unidos", afirma Tony Fortin, da ONG Observatório de Armamentos. "Este debate está muito em voga em Alemanha, Suécia, Noruega e Finlândia", acrescenta.
"Houve queixas contra essas vendas em Reino Unido, Itália, Holanda (...) Isto lança luz sobre as nossas relações com Riad: podemos nos dar ao luxo de continuar as nossas relações estratégicas com um regime que tortura os seus opositores, que estrangula civis no Iêmen e, literalmente, corta um jornalista em pedaços?", questiona.
"A Espanha passou um tempo considerando não cumprir um contrato de 400 bombas teleguiadas, para depois voltar atrás a fim de não ameaçar um comando de cinco navios de guerra, por um montante de 1,8 bilhão de euros, que devem ser construídos em uma região com alta taxa de desemprego".
Para os especialistas da carta confidencial da Intelligence Online (IOL), outros países, em particular Rússia e China, ficariam felizes em substituir no mercado saudita possíveis fornecedores ocidentais, impedidos por suas autoridades políticas de realizar as entregas.
"No longo prazo", escreveu o IOL nesta quarta-feira, "espera-se que a reação dos Estados Unidos ao assassinato de Khashoggi acelerará a aproximação de Riad aos sócios que não expressaram qualquer crítica após este caso, incluindo Moscou e Pequim".
A China já é o primeiro sócio petroleiro da Arábia há dois anos, e começa a penetrar no mercado de segurança, em primeiro lugar com a venda de drones", advertiu.
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